Por Altamir Pinheiro
Tanto riso, oh quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão / Arlequim está
chorando pelo amor da Colombina / No meio da multidão. Ouvindo-se Zé Keti vem a
nossa lembrança a figura do “neguinho” Sebastião Prata, em que pese sua
vida ter sido marcada por tragédias pessoais, porém, sua simpatia esfuziante,
ruidosamente alegre, já era uma tremenda gargalhada a céu aberto. Que não
nos deixem mentir os filmes Carnaval no Fogo (1949) e Carnaval Atlântida
(1952).
A propósito, as
filmagens de CARNAVAL NO FOGO foram bastante tumultuadas; paralelamente,
uma tragédia se abate sobre ele, um dos astros do filme. Sua mulher, depois de
matar o filho, enteado de Otelo, se suicida, deixando-o em profunda depressão;
a famosa cena do balcão em que ele e Oscarito parodiam Romeu e Julieta, no
entanto, foi realizada sem que ele ainda soubesse do acontecido. A partir dessa
data, ele filmou, quase sempre, embriagado. Apesar disso, cumpriu seus
compromissos até o fim.
Àquele brilhante
tiquinho de nego, depois que perdeu o pai esfaqueado e vivia com a mãe
alcoólatra foi parar no juizado de menores e logo após adotado por uma família
rica de São Paulo, e daí veio a ganhar o sobrenome do casal que o educou -
Prata – chamando-se Sebastião Bernardes de Souza Prata, donde, veio a
estudar no Liceu Coração de Jesus e, em 1926, com apenas 11 anos, ingressou na
“Companhia Negra de Revista”, composta exclusivamente por artistas negros,
entre eles, Pixinguinha, que era o maestro e o músico e compositor Donga.
A biógrafa Dilva
Frazão informa que ele ganhou o apelido de “Otelo”, na ocasião em que
apareceu ou surgiu na Companhia Lírica Nacional, onde o jovem tomava aulas de
canto lírico. O maestro julgava que quando ele crescesse poderia cantar a ópera
Otelo, de Verdi. Por sua pequena estatura recebeu o apelido de Pequeno Otelo,
mas depois, a crítica o apelidou de “Grande Otelo”. – (Conforme nos
confidencia a enciclopédia livre Wikipédia: Otello é uma ópera em quatro atos
do compositor italiano Giuseppe Verdi, baseado na peça Othello, the Moor of
Venice ("Otelo, o mouro de Veneza"), do dramaturgo inglês William
Shakespeare. Foi a penúltima ópera de Verdi, e é considerada por muitos a sua
maior tragédia. Sua estreia se deu no Teatro alla Scala, de Milão, em 5 de fevereiro
de 1887. A obra tem como cenário a ilha de Chipre no final do século XV).
Negro, com apenas
1,50 metros de altura viveu numa época em que os negros não podiam entrar pela
porta da frente do Cassino, fato que mudou depois da contratação do artista. Assim
começou a carreira de um dos maiores atores brasileiros, que passou pelos
palcos dos cassinos e dos grandes shows das mais importantes casas noturnas do
Rio. Passou também pelo teatro, pelo cinema e pela televisão, deixando sempre a
lembrança de personagens marcantes. Era um assíduo frequentador das noites
cariocas, estava sempre na famosa gafieira Elite, no bar Vermelho ou nos bares
da Lapa.
No cinema, Grande
Otelo foi um dos grandes destaques da “Atlântida”, quando protagonizou o filme
“Moleque Tião” (1943), o primeiro sucesso da produtora. Foi na “Atlântida” que
Grande Otelo fez uma grande parceria com Oscarito (morreu no ano de 1970 aos 64
anos), que se tornou a dupla mais famosa e bem sucedida do cinema brasileiro.
Depois os produtores formariam uma nova dupla dele com o cômico paulista
Ankito (faleceu em 2009 aos 85 anos).
Em 1939,
contracenou com a atriz e dançarina norte-americana Josephine Baker, que
considerou uma das mais importantes apresentações de sua carreira. Participou
em 1942 do filme "It's All True", de Orson Welles. Orson Welles
considerava Otelo o maior ator brasileiro. Em 1967 Grande Otelo filmou, no
Brasil, com a estonteante Claudia Cardinale, a película Uma Rosa Com
Amor, que teve um grande sucesso de público por retratar o carnaval
carioca. Participou também do filme de Werner Herzog, Fitzcarraldo, de 1982,
filmado na floresta amazônica. Mas ele não era apenas comediante. Como
ator dramático, marcou presença em vários filmes, dentre os quais Lúcio Flávio,
o Passageiro da Agonia (1977). Filmou também um faroeste: Se Meu Dólar Falasse
(1970). Na paródia jocosa ou imitação irônica filmou em 1961 O Homem Que
Roubou a Copa do Mundo, como também O Assalto ao Trem Pagador
(1962).
Grande Otelo foi
casado com a atriz e dançarina Maria Helena Soares (Joséphine Hélene), e com
Olga Prata, com quem teve quatro filhos, entre eles o ator José Prata. Morreu
de enfarte ao desembarcar em Paris, às vésperas de seus 78 anos, a caminho do
Festival dos Três Continentes, em Nantes, onde seria homenageado.
Em 1977, o grande
pianista, cantor e compositor de samba, Benito Di Paula, eterno homem da
montanha, compôs e cantou uma magnífica canção quando fez uma
belíssima homenagem ao "pequeno" GRANDE OTELO. Aliás, homenagem
ímpar a um dos maiores representantes, no campo das artes, de todas as classes
do Brasil. Em um dos refrãos, diz Benito: Tens o dom de ser / Risos e
perdão / Tens no palco a vida, teu coração / Grande Otelo é festa eu quero
aplaudir / Sempre chora e ri quase ao mesmo tempo / O cinema livre é seu
pensamento / Grande Otelo é festa, eu quero aplaudir. Ouça a música na íntegra
clicando no endereço abaixo:
LEIA-SE: REFRÃES OU REFRÕES AO INVÉS DE REFRÃOS...
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