Do jornalista Ricardo Kotscho, hoje em seu blog:
Esta
terça-feira trouxe más notícias para os batedores de panelas e marchadeiras da
avenida Paulista (lembram-se deles? por onde andarão?), que em 2016 protestaram
contra a corrupção dos governos petistas e atiçaram as viúvas da ditadura
militar, embalando a candidatura do capitão deputado Jair Bolsonaro.
Segundo o UOL, o Ministério Público Militar (MPM) no Rio de
Janeiro denunciou três coronéis do Exército, um coronel e dois majores da
ativa, além de cinco civis, pelos crimes de estelionato e violação de dever
funcional num esquema de fraudes e pagamentos de propina que causou um prejuízo
de pelo menos R$ 150 milhões aos cofres públicos.
A denúncia feita pelo procurador Edinilson Pires, da Justiça
Militar, revela que o esquema funcionou entre setembro de 2005 e dezembro de
2010, com fraudes em procedimentos de dispensa de licitação e em contratos
entre o Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército e fundações
privadas.
Ou seja, nada muito diferente da parceria público-privada
comandada por civis no esquema do Petrolão investigado pela Lava Jato, que
deixou indignados os que clamavam pela volta dos militares ao poder.
“Pelo menos, na época dos militares nós não tínhamos corrupção”,
era o discurso dos sem-memória ou sem noção que foram às ruas para derrubar o
governo eleito.
Quem, como eu, viveu aquela época, e já era repórter, sabe que
isso não é verdade. A diferença é que durante a ditadura imperava a censura
prévia à imprensa.
A corrupção e as mordomias dos super-funcionários do governo não
foram inventadas ontem, assim como já imperavam no centro do poder as grandes
empreiteiras denunciadas pela Lava Jato.
Fui o coordenador e um dos autores da série de reportagens que
denunciou as mordomias no Estadão, ainda nos anos 70, logo após a saída dos
censores do jornal.
De lá para cá, esta praga só fez crescer e se espalhar por todo
o país, sem que providências efetivas tenham sido tomadas nem por militares nem
por civis para coibir os privilégios, os abusos e a farra com o dinheiro
público.
“Os envolvidos nestas atividades ilícitas acreditavam estar
isentos de qualquer suspeita em razão da natureza técnica dos serviços prestados
e pela posição funcional de alguns de seus integrantes,” diz o MPM na denúncia
que chegou no final de novembro para análise do Superior Tribunal Militar
(STM).
É a velha certeza da impunidade que sobreviveu à troca de regime
e aos governos civis eleitos após a ditadura.
O combate à corrupção dos políticos é uma das bandeiras do
candidato apoiado pela extrema direita, como se Jair Bolsonaro também não fosse
um político de muitos mandatos, que surgiu na cena política como líder sindical
dos militares de escalões inferiores.
Está longe de ser o candidato das Forças Armadas este ex-capitão
afastado do Exército desde 1987, ao ser flagrado com um plano para explodir
bombas na Vila Militar, em Resende, e em quartéis do Rio.
Segundo colocado nas pesquisas para as eleições de 2018,
Bolsonaro agora deixou de lado o papel de troglodita caricato e perigoso
defensor de torturadores para se apresentar a setores do mercado como um
liberal, até agora o único anti-Lula competitivo, depois que outras opções
foram sendo descartadas.
A denúncia do Ministério Público Militar, qualquer que seja o
resultado final do processo, pode servir ao menos para refrescar a memória de
quem acha que a saída para a crise atual está na volta ao passado.
Vida que segue.
Hoje em dia existem muitos PETISTAS e ESQUERDISTAS dentre os militares!
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