Daniela, Malu e as filhas do casal
Não admito ser colocada em
um lugar que não é meu. Sei e sempre soube o que quis. Foi por isso que topei
encarar o mundo com Daniela. Foi o que fizemos. Quase suicidas (risos), abrimos
o peito e nossa intimidade com muita naturalidade para que as pessoas percebam
que o amor é mais importante do que o
gênero.
Foi outro grito de libertação
para mim. A sensação de que tenho hoje de altivez plena é de uma verdade tão
completa que eu nem sabia que existia. É duro demais falar a verdade, mas é
impagável entrar em todo e qualquer lugar de cabeça erguida. Poder fazer
carinho na minha mulher em público traz uma sensação de liberdade, de igualdade
e de justiça que eu nunca tinha experimentado em minha vida.
É impagável dar beijinhos
nela quando tenho vontade. E não venha me dizer que não posso dar um selinho em
Daniela porque isso é imoral. Quem for recalcado e preconceituoso que vá
procurar tratamento e cura. É quase impossível resistir a tocar os cabelos
dela, o rosto branquinho e macio. E por que teria que resistir?
Enquanto escrevíamos o livro, duas jovens foram presas, agredidas e levadas de um culto evangélico porque deram um selinho.
O pastor Marcos Feliciano solicitou à guarda que estava lá (aquela mesma que é paga com dinheiro dos nossos impostos) que elas fossem retiradas algemadas do local. O "crime" de Yunka e Joana foi uma manifestação de afeto comum a casais apaixonados.
Um selinho. Outros milhares de casais heterossexuais fazem isso de forma natural e sem levar tapas na cara e sofrer humilhações.
Havia, inclusive, segundo testemunhas, casais de homens e mulheres dando beijo e fazendo carinho durante o culto sem serem incomodados.
Surpreendente mesmo é a manifestação de algumas pessoas que se dizem não preconceituosas, mas que ao avaliarem o acontecimento dizem que elas provocaram por estar num culto religioso.
Provocaram? Ora, que absurdo! Desde quando demonstrar amor é provocação?
Desde quando um gesto de carinho merece ser punido com tapas no rosto de duas jovens que não tinham como se defender?
Desde quando o dinheiro dos meus impostos pode ser usado para discriminar pessoas em público.
Esse é mais um fato que entra para a lista de atrocidades brasileiras. Em protesto, colocamos uma foto nossa nas redes sociais em que aparecemos dando um selinho.
*Da jornalista Malu Verçosa, no livro "Uma História de Amor", que conta como ela e a cantora Daniela Mercury se apaixonaram e casaram. As duas mulheres estão unidas civilmente desde 2013 e criam juntas filhos da artista de uma relação anterior e três crianças adotadas.
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