Por Altamir Pinheiro
Poitier, em fevereiro de 2017 completou 90 anos de
idade. Em 1963 fez história ao se tornar o PRIMEIRO ATOR NEGRO DA
HISTÓRIA a receber o prêmio Oscar de melhor ator principal por sua performance
no drama Uma Voz nas Sombras (Lilies of the Field) em 1963. Ao apresentar
Sidney Poitier como ganhador da estatueta do Oscar, a consagrada atriz Ann
Bancroft lhe deu um beijo na face, um gesto que causou escândalo entre o
público mais conservador. Três anos depois, Poitier, contracenando com
Katherine Houghton, protagonizaram uma das mais comentadas cenas, ao trocarem
um ardente e prolongado beijo – o primeiro beijo inter-racial da tela cinematográfica
– em Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967).
O chamado BLACK WESTERN num país racista tipo os Estados Unidos era
coisa impensável, na década de 60, um negro protagonizar um filme de
Cawboy... Como diz o pesquisador e cinéfilo de bang bang Darci Fonseca, Nos
anos 60 os Estados Unidos viram crescer as manifestações políticas pelos
direitos civis e o mundo assistiu constrangido à morte do líder negro Martin
Luther King. Muitos avanços ocorreram na sociedade norte-americana como reflexo
dessa turbulência social e na década de 70 ocorreu a explosão dos chamados
BLACK MOVIES(filmes com negros). JOHN FORD havia sido o diretor que mais
incisivamente focalizou um personagem negro em um faroeste em “Audazes e
Malditos” (1960) e o cinema teve que esperar até 1972 para ver produzido um
autêntico Black Western.
No mundo artístico ninguém mais que HARRY BELAFONTE lutou pelos direitos
dos afro americanos, que é como os negros de lá gostam de ser chamados.
Este consagrado cantor foi quem produziu, em 1972, “UM POR DEUS, OUTRO
PELO DIABO”, contratando para estrelar esse western seu amigo de passeatas
SIDNEY POITIER. Esse primeiro verdadeiramente grande astro negro de
Hollywood havia sido, em 1968, o campeão de bilheterias dos Estados Unidos
estrelando os filmes “Adivinhe quem Vem para Jantar” e “Ao Mestre com Carinho
nesses dois filmes Poitier personificou o negro digno e exemplar, produto
tipicamente hollywoodiano.
O faroeste “UM POR DEUS, OUTRO PELO DIABO” tem história similar à do
belíssimo “Caravana de Bravos”, de John Ford. Porém a saga das famílias negras
atravessando desertos e toda sorte de perigos rumo ao desconhecido para fugir
do terrível passado, dá lugar às aventuras da dupla Buck e o Reverendo. Aos
poucos o filme de Sidney Poitier segue como modelo “BUTCH CASSIDY E SUNDANCE
KID”, o western que dois anos antes obteve o mais retumbante sucesso que um
faroeste havia alcançado na história do cinema. PAUL NEWMAN e ROBERT REDFORD
disputam a preferência entre Poitier e Belafonte, não faltando nem mesmo
o elemento feminino na figura de Ruth (Ruby Dee), perfazendo um inequívoco
triângulo amoroso. “UM POR DEUS, OUTRO PELO DIABO”, até hoje um faroeste único
e que merece ser revisto nem que seja para rir um pouco com Harry Belafonte e
para saber que os heróis nem sempre eram brancos.
Por se recusar sistematicamente a representar papéis com chavões ou
clichês a ele oferecido como ator negro, Poitier tornou-se um pioneiro para si
mesmo e para outros atores negros. À época recebeu indicação de Melhor Ator por
sua atuação em Acorrentados (1958). Seu trabalho em filmes como Sementes
da Violência fez dele o primeiro astro cinematográfico negro de destaque.
Entretanto, o filme que consagrou definitivamente Sidney Poitier foi AO MESTRE,
COM CARINHO (1967). Um jovem professor, Mark Thackeray, enfrenta alunos
indisciplinados neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medos
dos adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem uma extraordinária performance
como um engenheiro desempregado que resolve dar aulas, num conhecido
bairro operário em Londres.
Da última geração de
mitos do cinema, ainda com os pés no clássico, Poitier vê um tempo de
transformações. As questões raciais eram levadas às telas. Nascido em Miami,
ele logo sentiu os problemas da população negra nos Estados Unidos. Tentou
ingressar no Teatro Americano Negro, ainda nos anos 40, só conseguindo na
segunda tentativa. Eis os cinco filmes que tornaram SIDNEY POITIER o maior ator negro de
todos os tempos: ACORRENTADOS, de Stanley Kramer; NO CALOR DA NOITE, de Norman
Jewison; UMA VOZ NAS SOMBRAS, DE RALPH NELSON(Com a personagem Homer Smith,
Poitier tornou-se o primeiro afro-americano a ganhar o Oscar na categoria
principal); AO MESTRE, COM CARINHO, de James Clavell; ADIVINHE QUEM VEM PARA
JANTAR, de Stanley Kramer. O beijo entre a menina branca e seu noivo negro é
visto pelo retrovisor do veículo, de forma distante. O impacto, na época, foi
grande, ainda que hoje o filme pareça comportado demais.
Com ACORRENTADOS,
vem a primeira indicação ao Oscar. A estatueta chegaria pouco depois, pelo seu
papel em UMA VOZ NAS SOMBRAS, DE 1963, que marcou época. Um ator à
altura de seus grandes filmes. Em 2002, a Academia Cinematográfica de Hollywood
lhe conferiu o Prêmio Honorífico por sua obra, sempre representando a indústria
do cinema com dignidade, estilo e inteligência. Possui uma estrela na Calçada
da Fama, localizada em Hollywood Boulevard. Poitier
foi embaixador das Bahamas no Japão e na Unesco, além de ter recebido em 2009,
das mãos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Medalha Presidencial
da Liberdade, a condecoração civil mais importante do país.
CLIC aqui para assistir ao TRAILER e entender o contexto histórico da época do filme ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR.
É um filme que funciona apenas quando você tem
ideia do contexto histórico: Em 1967 17 estados americanos ainda proibiam o
"casamento inter-racial''. Spencer Tracy e Katherine Hepburn (que foi premiada
com o OSCAR por sua atuação) estão inesquecíveis como os atônitos pais, neste
filme de 1967 que é um macro sobre as questões de miscigenação racial no
casamento.
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