Uma
índia preocupada com a saúde do seu povo. Assim é a história de Luana Bezerra
Cabral, 27 anos, que recentemente se tornou bacharel em enfermagem pelo IFPE
Campus Pesqueira, sendo a primeira índia do povo Xucuru de Cimbres a receber um
diploma de nível superior nessa área. Desde que entrou no IFPE, ela vem
desenvolvendo pesquisas sobre a saúde da população indígena, inclusive, o seu
projeto de conclusão de curso com o tema “Medicalização do Povo Xukuru de
Cimbres: implicações para a atenção psicossocial no Polo Base de Saúde
Indígina” foi ganhador em segundo lugar no Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa
e Inovação em Rio Branco, Acre e em primeiro lugar no Congresso de Iniciação
Científica do IFPE.
De
acordo com Luana, com base em suas pesquisas, a separação do povo Xukuro, em
2003, provocou um adoecimento da população de Cimbres que passou a utilizar de
maneira excessiva remédios psicotrópicos, em sua maioria, antidepressivos e
ansiolíticos. “Com a saída violenta de parte das pessoas da aldeia mãe,
observei que muito de meus parentes entraram em processo de adoecimento mental
devido a essa ruptura e mudança radical no estilo de vida. Esse fato foi
preponderante para lutar e ser aprovada na seleção do curso de bacharelado em
enfermagem do IFPE e, posteriormente, desenvolver essa linha de pesquisa,”,
destaca a índia.
Olhando
toda a sua trajetória dos últimos cinco anos, Luana agradece a Tupã (Deus) a
oportunidade de ter concluído a graduação em uma instituição pública federal e
de qualidade. “Hoje sou a primeira Xucuru de Cimbres a se formar em enfermagem,
agradeço a Tupã por ter permitido essa realização e por durante o curso ter
tido a chance de contribuir através da pesquisa com a população a qual faço
parte.”, fala emocionada.
O
próximo passo de Luana é encontrar meios de melhorar a qualidade da saúde de
sua tribo, diante dos problemas detectados em sua pesquisa. “Não vou parar por
aqui, continuarei estudando e buscando alternativa para que minha tribo diminua
o uso excessivo de medicamentos. Isso se desenvolverá com pesquisas de mestrado
e doutorado.”, explica.
Início das Pesquisas – Em 2014, Luana
passou a integrar o grupo de pesquisa, liderado pela professora Valquíria
Farias Bezerra com a temática indígena na saúde mental. Num primeiro momento, a
estudante investigou a Rede da Atenção Psicossocial de Pesqueira no contexto
dos Xucurus de Cimbres e, posteriormente, o processo de medicalização dos
índios. Os resultados da pesquisa foram apresentados ano passado no Polo Base
Xucuru de Cimbres que é composto pelo Conselho Indígena de Saúde e o Conselho
Distrital de Saúde Indígena.
Segundo Luana, sua formação irá impactar de forma positiva a
comunidade indígena. “ Me tornar enfermeira e poder participar de uma pesquisa
voltada para compreender as dores da alma do meu povo está sendo de extrema
importância para mim e para a comunidade indígena, pois se trata de uma
temática que existem pouquíssimas publicações, além de contribuir
cientificamente. O IFPE faz parte dessa história por incentivar seus alunos na
tríade ensino, pesquisa e extensão”.
Para Valquíria Farias Bezerra, orientadora do projeto de pesquisa
da estudante, o processo de medicalização tem ampliado seu alcance na sociedade
contemporânea, atingindo também populações tradicionais, como os povos
indígenas, de forma que problemas sociais e sofrimentos cotidianos têm sido
tratados como problemas médicos e o principal recurso terapêutico têm sido os
medicamentos psicotrópicos. “Uma grave questão para nós pesquisadores é p
abandono das práticas tradicionais de cura, como os chás de ervas, as rezas e
os rituais, perdendo-se elementos unificadores da cosmologia desses povos e
promovendo sua aculturação. A inserção de estudantes como Luana em programas de
pesquisa e extensão contribui para sua formação ética e política e para o
resgate das práticas tradicionais de seu povo” enfatiza. ( Do jornalista Jorge Luiz, IFPE/Campus de Pesqueira).
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