Do Jornalista Paulo Moreira Leite, do Brasília 247:
Depois de passar meio século em operações sombrias para derrubar
o governo nascido da revolução de Sierra Maestra por todos os meios a seu
alcance, o império de Washington tomou uma medida de acordo com o estágio de
civilização criado pela formação dos Estados Nacionais, lá pelos séculos
XVIII-XIX: anunciou o reatamento de relações diplomáticas com Havana.
Num fato que chega a ser irônico, quando se recorda o papel do
Vaticano ao longo dos séculos, coube ao Papa Francisco atuar com mediador das
conversas secretas entre as partes.
Anunciado ontem, o reatamento de relações diplomáticas entre
Estados Unidos e Cuba tem uma utilidade suplementar no Brasil: coloca em seu
devido lugar o anti-comunismo primitivo que fez uma grande aparição na da
última campanha presidencial.
Tornou-se ainda mais
agradável, agora, dar boas risadas diante do folclore diplomático que permitiu
Aécio Neves, em pleno século XXI, atacar os “médicos cubanos” que tratam da
população pobre do Brasil como se fossem agentes disfarçados do Comintern
dos Partidos Comunistas dos anos 30.
Mais
divertido ainda é lembrar o tom de ironia provinciana, empregado para falar dos
investimentos no porto de Mariel: “Finalmente a presidente Dilma
inaugurou a primeira grande obra de seu governo, pena que em Cuba“.
Para os brasileiros, o porto
de Mariel não foi apenas um bom negócio para empresas envolvidas — será o
principal ponto de vendas de Cuba para os Estados Unidos, que irão
crescer cedo ou tarde. Também ajudou a criar e manter empregos no Brasil
e acima de tudo traduziu uma visão diplomática acertada.
Apesar de seu caráter
essencialmente risível, que a colocou de braço dado com os exilados de Miami, a
postura do PSDB refletiu o conservadorismo de matriz norte-americana que
tornou-se fonte recente de inspiração de largas fatias do partido. Nascida nos
ninhos à direita do Partido Republicano, essa visão alimenta o extremismo
conservador dos exilados de Miami. Prega um tratamento agressivo do governo de
Raul Castro, fecha portas a toda negociação produtiva e propõe o isolamento forçado
do regime, inclusive pela manutenção de um embargo odioso, na perspectiva de
uma restauração da economia de mercado capaz de eliminar vestígios e conquistas
da revolução.
Numa postura em linha de
continuidade com a escola diplomática civilizada, que prega o respeito a
soberania dos povos como o princípio básico para a convivência pacífica entre
países, o governo Lula-Dilma fez a aposta inversa. Cansou de tomar
porrada de sábios que dão plantão na TV.
Vê-se agora quem estava com a
razão — num debate que tem raízes em nosso passado político, também.
O rompimento dos Estados
Unidos com o regime de Fidel Castro sempre será lembrado como um lance
grave e decisivo na história do Continente. Está na origem do apoio de
Washington ao ciclo de ditaduras militares latino-americanas, inclusive o golpe
de 64 que derrubou João Goulart.
Convencido — de verdade — que
a revolução de Fidel poderia transformar-se num exemplo a ser seguido em
países de maior peso geo-político e potencial econômico, quebrando o
domínio dos EUA sobre a região, a Casa Branca deu um curso de natureza colonial
a sua diplomacia, aos negócios e às operações militares. Formulou estratégias
de desenvolvimento dependente. Construiu programas para formação de
lideranças políticas em suas universidades. Abriu o cofre para promover
investimentos junto a aliados que se mostrassem fiéis e mobilizou agências de
publicidade para garantir uma cobertura favorável nos jornais.
Acima de tudo, Washington
abandonou os próprios pruridos democráticos, ajudando a erguer ditaduras
notórias pela crueldade. O que estava em jogo, em toda parte, era enfraquecer a
soberania de cada país — e era por esse critério que a Casa Branca escolhia
aliados e inimigos.
No livro” João Goulart, “o
historiador Jorge Ferreira explica que João Goulart não passou a ser
considerado um inimigo regional por Washington em função de seu discurso à
esquerda, nem por causa da reforma agrária, nem mesmo pelos interesses das
empresas norte-americanas ameaçados pela lei de remessa de lucros. O problema,
avalia o historiador, ocorreu em 1962, um ano depois da fracassada
invasão da baía dos Porcos, promovida pela CIA. John Kennedy “escreveu uma
carta a João Goulart, propondo a invasão da ilha, com a participação do
militares brasileiros.” Contrariado, Jango respondeu que o Brasil sempre
reconheceu a todos os países “independente de seus regimes ou sistemas de
governo, o direito de soberanamente se autodeterminarem.”
Indo um pouco além,
Jango insistiu no “legítimo direito de Cuba se defender de possíveis agressões,
partissem de onde partissem.” Em função dos mísseis soviéticos, Jango concordou
com o bloqueio militar a Cuba mas sua oposição a toda intervenção militar levou
Kennedy a se afastar definitivamente do presidente brasileiro. “A posição
brasileira na crise dos mísseis foi intolerável para Kennedy,” escreve Jorge
Ferreira.
Durante uma visita ao país, na
mesma época, o Secretário de Justiça Robert Kennedy, irmão do presidente
americano, propôs “financiamento em troca de alinhamento político.” Também
disse que a Casa Branca temia que a política externa brasileira se tornasse
“sistematicamente antiamericana”e, sem maiores pudores, reclamou em tom de
acusação que Jango mantinha “comunistas” no governo. Também mostrou-se
preocupado com o esforço do governo brasileiro em ampliar seu comércio com
países do bloco socialista. Ofendido, Goulart deixou claro que eram
assuntos que diziam respeito ao próprio país, “não comportando interferências
de nações estrangeiras. ”
Medidas banais de cooperação
de Jango, como uma estação de energia a óleo diesel que Goulart mandara de
presente para os cubanos — uma espécie de porto de Muriel de meio século atrás,
não é mesmo? — reforçaram no presidente norte-americano a certeza de que
o próprio Jango se tornara “um perigo para a segurança nacional” dos Estados
Unidos.
Não custa notar que essa
postura independente não assegurou a Jango um tratamento preferencial por
parte do governo cubano. Uma das crises mais desconcertantes daquele
período envolveu a descoberta de que, apesar dos gestos simpáticos do
presidente, Havana sustentava, com armas, dinheiro e treinamento, grupos
armados que pretendiam iniciar guerrilhas contra seu governo.
Foi nesse ambiente que
Washington e Havana romperam relações diplomáticas. Carlos Lacerda, o
mais estridente adversário civil de Goulart, definiu a derrota da invasão
da baia dos Porcos, apenas três meses depois da posse de Kennedy, como uma
“catástrofe para o mundo livre”. Num texto escrito para apresentar um livro que
reunia vários discursos do presidente americano, Lacerda apontou o dedo para
Fidel e perguntou: “o que fazer diante deste provocador internacional?” Após o
golpe de 64, como se sabe, o Brasil rompeu relações com Cuba, que só seriam
retomadas após a democratização.
Não é difícil identificar as
raízes ideológicas de quem passou os últimos anos no camarote de onde só
partiam críticas a diplomacia brasileira, vamos combinar.
Cabe registrar, de qualquer
modo, um dado interessante. Obama tomou posse falando em aproximar-se de Cuba e
chegou a prometer novas relações no Continente num encontro diplomático em
Trinidad-Tobago, um de seus primeiros eventos internacionais. Em seguida,
recolheu-se à aquele universo morno que tem mercado seus dois mandatos.
O reatamento de relações
diplomáticas merece aplauso, ainda que a preservação do embargo seja
lamentável. A manutenção do presídio de Guantánamo, enclave para a guarda de
prisioneiros sem julgamento, por anos a fio, é uma vergonha universal.
É obrigatório notar que, neste
período, o Brasil consolidou-se como principal líder regional naquela parte da
América que se encontra abaixo do Rio Grande.
Enquanto o México era
aplaudido pela adesão ao Nafta, o Brasil ocupou um lugar próprio, reconhecido
pelos principais vizinhos. Tornou-se interlocutor e mediador de conflitos,
ocupando um espaço que a diplomacia norte-americana deixara vazio.
Aproximando-se de Cuba, Barack Obama faz um novo movimento no tabuleiro do
continente americano. O futuro dirá as consequências deste lance.
Meu Deus do Céu, os EUA foram capazes de invadir uma potência petrolifera com um população de 40 milhões de habitantes, do outro lado do mundo, mas não poderiam invadir CUBA? Que piada!!!
ResponderExcluirA Verdade é que Cuba sempre foi exatamente o que os Estados Unidos quiseram que Cuba fosse!
O Governo CU-bano é o modelo ideal para ditadura comunista mundial que está a caminho com o auxilio do OBRAMA.
O objetivo desses caras é o governo ter controle de tudo e de todos, ninguém poderá ir no sanitário dar a sagrada CAGADINHA, sem pedir autorização ao GRANDE IRMÃO.
DESDE ONTEM, O MUNDO TÁ RINDO DE ORELHA A ORELHA, E UM DOS PROTAGONISTAS DESSA SATISFAÇÃO ESPALHADA PELO MUNDO A FORA É O PAPA FRANCISCO, O NOSSO HERMANO CHIQUINHO. DAÍ, VALE A REFLEXÃO: “Hoje a questão não é saber se seremos livres, mas de que maneira conquistaremos essa liberdade``. Martin Luther King (1929-1968); O BOM E EXPERMENTADO JORNALISTA RICARDO KOTSCHO, SAIU-SE COM ESSA: “A melhor notícia deste final de ano, que renova nossas esperanças de viver num mundo mais fraterno e menos belicoso, acabaria vindo de onde menos se poderia esperar, proclamada com orgulho pelos presidentes de dois países tão próximos e tão diferentes, inimigos até então irreconciliáveis, separados por apenas 200 quilômetros de mar”; O CONHECIDÍSSIMO ESCRITOR E FIEL COMUNISTA FERNANDO MORAES FOI QUEM MELHOR DEFINIU ESTE ACONTECIMENTO DE GRANDE REPERCUSSÃO MUNDIAL: "Não é só uma frase de efeito, mas a Guerra Fria acabou hoje, às 15h01". POIS BEM!!! OS PETRALHAS, COMUNALHAS E OUTRAS TRALHAS DA SOFRIDA E ANALFABETA BOA PARTE DA NAÇÃO BRASILEIRA, LOCALIZADA, ÓBVIO, NA AMÉRICA LATINA AINDA CONTINUA COM A SÍNDROME DO COITADISMO QUERENDO CULPAR OS ESTADOS UNIDOS POR TODAS AS MAZELAS SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS DESTA PARTE DO GLOBO TERRESTRE. OS ESTADOS UNIDOS ESTÃO FAZENDO A PARTE DELES, AMPLIANDO ASSIM A SUA POSIÇÃO DE LIDERANÇA. MAS ISTO NÃO RESOLVERÁ OS PROBLEMAS DE CUBA E DO RESTANTE DA AMÉRICA LATINA. A POBREZA, A FOME, A FALTA DE LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA AINDA PERSISTIRÃO NA ILHA DOS IRMÃOS CASTRO(POR ENQUANTO). AQUELA FAMÍLIA ESQUECEU QUE CUBA É DOS CUBANOS E OS CUBANOS ESQUECERAM DA CAPACIDADE DE REVOLTA E REVOLUÇÃO QUE ELES TÊM, E, ASSIM, CUBA AINDA SERÁ UMA GAIOLA, CUJO TERRITÓRIO É LINDO PARA SER OBSERVADO PELOS TURISTAS, MAS AINDA SERÁ UM CÁRCERE, INCLUSIVE COM UM PAREDÓN DE FUZILAMENTO. MAS NÃO HÁ DE SER NADA, AFINAL DE CONTAS, OBAMA JOGOU A PÁ DE CAL NO REGIME DA ILHA PRESÍDIO. EM BREVE NÃO SERÃO APENAS OS FAMILIARES E OS PUXA SACOS DA FAMIGLIA CASTRO A PASSEAREM EM MIAMI. QUANDO 30% DA POPULAÇÃO CUBANA TIVER CELULAR E INTERNET, ADEUS DITADORES...
ResponderExcluirP.S.: - A observação que sempre faço no rodapé do texto, hoje não será de minha autoria, mas dessa sumidade o poeta Ferreira Gullar: “Não posso defender um regime [o cubano] sob o qual eu não gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para defender um regime em que não se possa publicar um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas reconhecer que estavam erradas, que passaram a vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo”...
CORRIGINDO: O BOM E EXPERIMENTADO JORNALISTA...
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