Do tucano José Serra, no Jornal Estado de São Paulo:
Quando o governo Dilma endossou
uma nota detestável que o Mercosul emitiu sobre a crise política na Venezuela,
que exerce sua presidência rotativa, o atraso político chegava, finalmente, à
altura do obstáculo que o bloco econômico tem representado para o Brasil.
Explicarei o que quero dizer.
Ao lado das diferenças, durante seus mandatos presidenciais, o
coronel Hugo Chávez e Lula tiveram ao menos três coisas em comum. Em primeiro
lugar, desfrutaram a mais espetacular fase de bonança externa de que se tem
memória, traduzida em juros internacionais no chão e preços de exportações
primárias nas nuvens - petróleo, de um lado, produtos agrominerais, do outro.
Em segundo lugar, enfraqueceram suas economias, desindustrializando-as e
tornando-as muito mais dependentes do exterior em matéria de consumo e bens de
investimentos - justo eles, que se diziam de esquerda e, com diferença de
graus, anti-imperialistas... Em terceiro lugar, deixaram heranças econômicas
amargas para seus sucessores, que se revelaram, infelizmente, plenamente
despreparados para governar de verdade, isto é, entender a situação, antecipar-se
aos acontecimentos, formular e implantar estratégias de recuperação, saber
comunicar-se e amenizar as expectativas pessimistas sobre o futuro de suas
economias e de seus países.
Tudo em termos relativos, é óbvio. Na Venezuela, em face do maior
subdesenvolvimento e do componente ditatorial do regime chavista, a crise tem
sido infinitamente pior. A economia e o abastecimento derreteram. A inflação
avizinha-se dos 60% ao ano - é a maior do mundo. Há forte escassez de
alimentos. O preço do dólar paralelo é oito vezes maior que o oficial. A falta
de divisas paralisa as atividades que utilizam insumos importados e provoca
desabastecimento de 50% dos medicamentos. Por isso tudo, os antagonismos
tornaram-se muitíssimo mais exacerbados. Há motivos de sobra para as pessoas
irem às ruas reclamar.
O governo venezuelano já tinha suprimido na prática a liberdade de
imprensa e fechado os caminhos da oposição e agora reinaugurou no continente a
era das prisões políticas e do assassinato de opositores anônimos, com suas forças
paramilitares. Uma espécie de SA nazista à moda venezuelana. O desenlace poderá
ser trágico, mesmo que o presidente Nicolás Maduro continue sob a proteção da
alma dickenseniana de Chávez, com quem ele assegura conversar regularmente.
O PT tem afinidade eletiva com o chavismo e a reação do governo
brasileiro ante a repressão aos manifestantes de oposição na Venezuela trouxe a
política externa do Brasil ao seu nível mais baixo desde 1965, quando o
general-presidente Castelo Branco, na postura de ajudante de ordens do
presidente Lyndon Johnson, mandou tropas para auxiliarem os EUA na invasão da
República Dominicana. Nessa época eu vivia no exílio e convivia com estudantes
de vários países da América Latina - os leitores não calculam a vergonha que
dava ser brasileiro naquele momento da invasão. No episódio venezuelano não
estão envolvidas tropas, mas houve um sopro de maior covardia: foi disfarçado
de membro do Mercosul que o Brasil subscreveu o manifesto que culpou as vítimas
pelos massacres e pela instabilidade do governo de Maduro.
Quando foi deposto o presidente Fernando Lugo, dentro das regras
constitucionais, o petismo e o kirchnerismo resolveram suspender o Paraguai do
Mercosul, invocando a cláusula democrática, que virou piada. Aproveitaram para
aprovar o ingresso da Venezuela no bloco, ao qual os paraguaios se opunham, com
poder de veto.
A estupidez política, finalmente, se casava com a estupidez
econômica. O pior do Mercosul não veio do atual governo brasileiro nem dos
Kirchners ou de Maduro. Nasceu nos governos Collor e Menem, no início dos anos
90, quando previram um acordo que criaria, além de uma zona de livre-comércio
entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - o que era correto -, também uma
união alfandegária em quatro anos, o que Europa demorou 40 para fazer. Ou seja,
se o Brasil quiser fazer um acordo com algum país para ampliar seu comércio, os
demais membros do Mercosul têm o direito de obstruir ou vetar caso não se
sintam bem atendidos.
Isso é o que está acontecendo, por exemplo, com a tentativa
brasileira de negociar com a União Europeia (UE), que já dura mais de dez anos.
Os argentinos têm retardado a negociação, e podem fazê-lo, embora de forma
humilhante para nós: em reunião preparatória já exigiram até que o Brasil se
retratasse das declarações da nossa embaixadora junto à UE, que havia atribuído
a eles o notório atraso na apresentação da proposta conjunta.
A solução mais fácil, porém, não é ficar brigando com a Argentina,
mas acabar com a união alfandegária de vez, deixando ao Mercosul a tarefa já
hercúlea da zona de livre-comércio, hoje tão incompleta. Só que isso vai contra
um dogma do atual governo brasileiro: transformar facilidades em dificuldades.
O colapso da política externa brasileira é apenas um detalhe da
perda de rumo de um partido e de um projeto de governo que fracassaram. Sua
agenda evaporou-se e, agora, os petistas estão à cata de outra qualquer que
lhes permita montar, para usar o termo da moda, uma narrativa eficaz para a
campanha eleitoral. Com a agravante de que aquela cascata da suposta
"herança maldita recebida do neoliberalismo" já não cola. Não é mais
possível demonizar as privatizações, agora que o PT se ajoelha no seu altar,
orando pelo advento da grande panaceia para tudo.
O governo atual conseguiu a façanha de combinar a estagflação com
expectativas péssimas sobre o futuro da economia, piores até do que os
principais indicadores justificariam. O grande pesadelo dos agentes econômicos
hoje não são o baixo crescimento, os juros siderais (de novo, os maiores do
mundo) ou o déficit externo, o terceiro mais alto do planeta em volume e o
segundo como porcentagem do PIB. O que os assusta de verdade é a possibilidade
de que esse governo se prolongue por mais quatro anos. Haja aflição!
(José Serra é ex-prefeito e ex-governador de São Paulo. Disputou duas vezes a presidência da República perdendo para Lula e Dilma).
SERRA TEM TODA RAZÃO! NAS MÃOS DO PT IREMOS TODOS AFUNDAR TAL QUAL O TITANIC, ELES MOSTRAM UMA COISA , MAS SÃO O INVERSO.É O NAUFRAGIO! CUIDE-SE QUEM PUDER FUJAM DESTE BARCO FURADO.
ResponderExcluirAfinidade mesmo, existe entre o José serra e o Sr. Burns !!!!
ResponderExcluirHahahahahaha Esse é o inimigo que o PT pediu ao Demo. A crítica dele basicamente é: o PT é uma esquerda suja e fedorenta, eu sou a esquerda cheirosa!!
ResponderExcluirSerra três quedas, não tem moral para falar de ninguém, suas falcatruas começaram a aparecer, e sua filha com dinheiro em paraísos fiscais. Tu já podias te aposentar como candidato, já faz uns vinte anos, só pau no lombo e na cabeça, por isso fica falando asneiras.
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