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LYGIA FAGUNDES TELLES - ESCRITORES BRASILEIROS - 18º

Os homens são maioria no universo da literatura. Não poderia ser diferente. As mulheres foram educadas para cuidar de casa e de filhos, durante muito tempo não lhes eram permitido estudar ou trabalhar fora e o direito do voto, o Brasil, só foi conquistado em 1932.

Confinadas e reprimidas, demoraram a surgir as médicas, advogadas, arquitetas, engenheiras, executivas e escritoras. Mas hoje está bastante claro que elas podem ser tão boas quanto eles, inclusive na literatura.

No Brasil brilharam Alencares, Machados e Andrades. Atravessamos todo o romantismo, realismo e modernismo sem que se destacasse nenhuma mulher. Uma das primeiras a conseguir êxito nas letras foi Raquel de Queiroz, que adolescente ainda escreveu O Quinze, um livro impressionante por ser de uma pessoa tão jovem e tratar de um tema tão árido: a seca no Nordeste brasileiro.

Antes da cearense tivemos outras, como a poetisa Cecília Meireles, mas poucas quebraram o domínio masculino e conseguiram o reconhecimento da crítica e do público.

Só em 1977 a Academia Brasileira de Letras aceitaria uma mulher nos seus quadros. Justamente Raquel de Queiroz, boa escritora, progressista na juventude e conservadora na maturidade. Chegou a compactuar com a ditadura e quando foi eleita para a ABL jogou um balde de água fria nas mulheres. Disse que fora escolhida não por ser mulher e sim por sua obra. Arrematou afirmando não confiar muito nas representantes do sexo feminino.

Duas das melhores escritoras do país são Clarice Lispector, sobre a qual já escrevemos nesta série e que não está mais no nosso convívio; e Lygia Fagundes Telles, paulista, filha de advogado e promotor público e que passou parte de sua infância morando em diferentes cidades do interior de São Paulo.

Quando se fixou na capital, estudou Educação Física e Direito, concluindo os dois cursos e exercendo a advocacia.

A vocação de escritora, no entanto, despertou logo cedo. Ainda criança começou a escrever histórias, reproduzindo um pouco as coisas que ouvia dentro de casa, entre seus familiares.

Lygia Fagundes Telles, que posteriormente também seria eleita para a Academia Brasileira de Letras, escreve muitíssimo bem. Está no mesmo nível de Clarice Lispector. As duas, inclusive, chegaram a receber comparações por conta de algumas semelhanças no estilo.

É preciso esclarecer, porém, que as diferenças são maiores que as semelhanças. Clarice era mais intimista, mas introspectiva e escreveu contos e romances absolutamente únicos. A ucraniana criada em Pernambuco e depois naturalizada brasileira é quase um mistério como pessoa e essa figura meio irreal está presente em sua obra. Clarice é um mistério, um doce mistério, assim como são a maioria dos seus livros.

Lygia Fagundes Telles, apesar da elegância de estilo, da prosa bem construída e dos surpreendentes enredos, é mais fácil de ler. Não é superficial, de modo algum, mas parece está mais próxima do mundo real do que a outra, que usa mais símbolos, metáforas, sinais na construção de seus personagens.

A escritora paulista nasceu em 1923 e publicou seu primeiro livro em 1938. “Porão e Sobrados”, uma seleção de contos, teve o patrocínio do seu pai. Em 1945, quando começa a II Guerra Mundial, estudantes brasileiros fazem passeata contra o Estado Novo de Getúlio e Lygia está nas ruas, juntamente com seus companheiros do curso de direito. Um ano antes lançara o segundo livro, Praia Viva, também de contos.

1945 marca também a morte do promotor Durval de Azevedo Fagundes, o pai da escritora. Em 1946 ela termina a faculdade e lança mais um livro de contos Cacto Vermelho.

Lygia Fagundes Telles publicou cerca de 20 livros de contos. É uma especialista nesse gênero literário, numa prosa tão boa que lembra o velho Machado. Destaque para trabalhos como “Antes do Baile Verde”, “Jardim Selvagem” e “A Estrutura da Bolha de Sabão”. Algumas de suas histórias são incluídas em coletâneas de obras primas ou “melhores contos brasileiros”.

Seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, de 1954, foi um sucesso. Virou ate novela de televisão. Publicou ainda os romances Verão no Aquário, As Horas Nuas e As Meninas. Este último é considerado por muitos sua melhor obra e foi adaptado para o cinema e TV.

“É fascinante como Lygia Fagundes Telles cria individualidades ricas e complexas e, simultaneamente, lhes dá representatividade histórico-social. Lorena, que faz Direito, descende de tradicional família paulistana e, diante do turbilhão de mudanças da realidade brasileira de então, isola-se em seu mundo interior, remoendo o passado e vivendo um amor totalmente fantasioso. Ana Clara, que é de origem humilde, estuda Psicologia e procura usar sua beleza como trampolim para alcançar um lugar ao sol na nova ordem capitalista. O preço que paga, no entanto, especialmente por seu passado infeliz, é muito alto: torna-se uma drogada. Finalmente, Lia (Lião), filha de pai alemão e mãe baiana, estuda Sociologia. É a “conscientizada” do grupo, milita na esquerda universitária e tem um namorado envolvido em ações políticas semiclandestinas. Lia expressa claramente os setores da juventude de classe média que iriam encontrar na guerrilha uma alternativa de luta contra o regime autoritário”, avalia o crítico num texto não assinado sobre o romance As Meninas, publicado no Portal Terra, num secção voltada para educação e literatura.

Abaixo, um pequeno trecho do romance:

Sentei na cama. Era cedo para tomar banho. Tombei para trás, abracei o travesseiro e pensei em M.N., a melhor coisa do mundo não é beber água de coco e depois mijar no mar, o tio da Lião disse isso mas ele não sabe, a melhor coisa mesmo é ficar imaginando o que M.N. vai dizer e fazer quando cair meu último véu. O último véu! Escreveria Lião, ela fica sublime quando escreve, começou o romance dizendo que em dezembro a cidade cheira a pêssego. Imagine, pêssego. Dezembro é tempo de pêssego, está certo, às vezes a gente encontra carroças de frutas nas esquinas com o cheiro de pomar em redor mas concluir daí que a cidade inteira fica perfumada, já é sublimar demais. Dedicou a história a Guevara com um pensamento importantíssimo sobre a vida e a morte, tudo em latim. Imagine se entra latim no esquema guevariano.

Transcrevemos também o início de “A Estrutura da Bolha de Sabão”, considerado um dos melhores contos de Lygia:

"Era o que ele estudava. "A estrutura, quer dizer, a estrutura", ele repetia e abria a mão branquíssima ao esboçar o gesto redondo. Eu ficava olhando seu gesto impreciso porque uma bolha de sabão é mesmo imprecisa, nem sólida nem líquida, nem realidade nem sonho. Película e oco. "A estrutura da bolha de sabão, compreende?" Não compreendia. Não tinha importância. (...)

No escuro eu sentia essa paixão contornando sutilíssima meu corpo. Estou me espiritualizando, eu disse e ele riu fazendo fremir os dedos-asas, a mão distendida imitando libélula na superfície da água mas sem se comprometer com o fundo, divagações à flor da pele, ô! amor de ritual sem Sangue. Sem grito. Amor de transparências e membranas, condenado à ruptura.
(...)
Fomos colegas? Não, nos conhecemos numa praia, onde? Por aí, numa praia. Ah. Aos poucos o ciúme foi tomando forma e transbordando espesso como um licor azul-verde, de tom da pintura dos seus olhos. Escorreu pelas nossas roupas, empapou a toalha da mesa. pingou gota a gota. "

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