A BELA DA TARDE
Belle de Jour, do original francês, é um belo filme dirigido por um dos grandes diretores da história do cinema, o espanhol Luis Bunuel. A atriz Catherine Deneuve, linda em 1967, quando o longa chegou às telas, interpreta Séverine, uma mulher rica e bem casada com um médico. Os dois deviam formar um par perfeito, ter uma vida maravilhosa, mas não é o que acontece. A personagem ama o marido, só que não sente tesão por ele, é fria na cama, não consegue ter nem dar prazer ao companheiro.
Com o casamento caminhando nesse ritmo - os dois dormem em camas separadas - Séverine procura se ocupar fazendo compras na cidade e jogando tênis. Nessas saídas, descobre um bordel, no Brasil mais popular com o nome de cabaré. Ela, então, resolve se prostituir, se entregar aos mais diversos tipos de homens, alguns horrorosos. Não é por dinheiro, logicamente, que ela não precisa. Está em busca do prazer e o encontra. A frigidez existente no relacionamento com o esposo desaparece nesses contatos ocasionais, envolvendo parceiros desconhecidos, descobertos durante a tarde.
Apesar do tema forte, chocante, principalmente para o final dos anos 60, A Bela da Tarde trata a questão de uma maneira delicada, Catherine Deneuve, uma das grandes atrizes do cinema francês dá um show de interpretação e o diretor Bunuel é extremamente competente por trás das câmeras. Naturalmente é possível muitas leituras neste filme, quando se busca sobretudo analisar o personagem feminino que domina as cenas. Por que uma mulher rica e bonita, com um bom marido, de quem ela gosta, começa a se prostituir daquela forma? Na minha avaliação o cineasta, talvez até antevendo toda revolução sexual em curso e que continuaria nas décadas seguintes, pretende mostrar que o mundo burguês, certinho, comportado, cheio de regras pré-estabelecidas, nem sempre funciona conforme o figurino.
Vivíamos um tempo, então, em que o prazer sexual ainda era um tabu para muitas mulheres, fosse no Brasil ou na Europa desenvolvida. A mulher, obviamente, da mesma maneira que o homem, necessita de sexo de qualidade, uma boa relação é tão ou mais saudável do que dormir ou se alimentar bem. Nos anos 60 e 70 ainda era forte a questão da virgindade, as mulheres ditas de família deixavam para se entregar a seus parceiros depois do casamento. Por isso existiam os bordeis, os cabarés, os puteiros. Lá que os homens faziam sua iniciação e praticavam sexo de uma maneira menos convencional, quando eram casados.
Qual a opção das mulheres? Viver reprimidas, apáticas, cuidando de casa como alienadas ou loucas. Traindo, em alguns casos, em segredo, às vezes até com um amigo do marido. Ou radicalizando, como Belle de Jour. Séverine, a meu ver, representa um grito, um alerta, uma contribuição de um artista à revolução sexual que foi consolidada – felizmente – nas últimas duas décadas.
Hoje ainda teríamos alguém com necessidade de reviver a movimentação da Bela da Tarde? Para começo de conversa a maioria dos cabarés fecharam e rapazes e moças começam a iniciação sexual no namoro. Bate a atração e procuram um motel, coisa que não existia em 67, quando surgiu esse filme que estamos comentando.
Essa história, contudo, apesar de tantas mudanças de comportamento, não perdeu o interesse. Anos atrás, o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença gravou uma bonita música intitulada Belle de Jour. Vinte ou 30 anos depois o artista parece ter sido inspirado pelo filme visto em sua juventude. Atualmente, na novela das 21h, da Globo, uma personagem, interpretado por Maitê Proença, é uma criação nitidamente inspirada no conhecido trabalho de Bunuel. A atriz brasileira inclusive lembra, pelo menos vagamente, Catherine Deneuve. A diferença, no caso da novela, é que nossa bela da tarde tem um casamento ruim, o marido é um déspota e a sua válvula de escape é sair no horário vespertino com rapazes muito mais jovens, a procura de prazer, como a moça do filme francês.
A Bela da Tarde é encontrado em DVD, é reprisado vez por outra na televisão aberta e nos canais de TV por assinatura. Na realidade, é um grande filme, é uma obra prima, um trabalho feito para o cinema realmente inesquecível.
Com o casamento caminhando nesse ritmo - os dois dormem em camas separadas - Séverine procura se ocupar fazendo compras na cidade e jogando tênis. Nessas saídas, descobre um bordel, no Brasil mais popular com o nome de cabaré. Ela, então, resolve se prostituir, se entregar aos mais diversos tipos de homens, alguns horrorosos. Não é por dinheiro, logicamente, que ela não precisa. Está em busca do prazer e o encontra. A frigidez existente no relacionamento com o esposo desaparece nesses contatos ocasionais, envolvendo parceiros desconhecidos, descobertos durante a tarde.
Apesar do tema forte, chocante, principalmente para o final dos anos 60, A Bela da Tarde trata a questão de uma maneira delicada, Catherine Deneuve, uma das grandes atrizes do cinema francês dá um show de interpretação e o diretor Bunuel é extremamente competente por trás das câmeras. Naturalmente é possível muitas leituras neste filme, quando se busca sobretudo analisar o personagem feminino que domina as cenas. Por que uma mulher rica e bonita, com um bom marido, de quem ela gosta, começa a se prostituir daquela forma? Na minha avaliação o cineasta, talvez até antevendo toda revolução sexual em curso e que continuaria nas décadas seguintes, pretende mostrar que o mundo burguês, certinho, comportado, cheio de regras pré-estabelecidas, nem sempre funciona conforme o figurino.
Vivíamos um tempo, então, em que o prazer sexual ainda era um tabu para muitas mulheres, fosse no Brasil ou na Europa desenvolvida. A mulher, obviamente, da mesma maneira que o homem, necessita de sexo de qualidade, uma boa relação é tão ou mais saudável do que dormir ou se alimentar bem. Nos anos 60 e 70 ainda era forte a questão da virgindade, as mulheres ditas de família deixavam para se entregar a seus parceiros depois do casamento. Por isso existiam os bordeis, os cabarés, os puteiros. Lá que os homens faziam sua iniciação e praticavam sexo de uma maneira menos convencional, quando eram casados.
Qual a opção das mulheres? Viver reprimidas, apáticas, cuidando de casa como alienadas ou loucas. Traindo, em alguns casos, em segredo, às vezes até com um amigo do marido. Ou radicalizando, como Belle de Jour. Séverine, a meu ver, representa um grito, um alerta, uma contribuição de um artista à revolução sexual que foi consolidada – felizmente – nas últimas duas décadas.
Hoje ainda teríamos alguém com necessidade de reviver a movimentação da Bela da Tarde? Para começo de conversa a maioria dos cabarés fecharam e rapazes e moças começam a iniciação sexual no namoro. Bate a atração e procuram um motel, coisa que não existia em 67, quando surgiu esse filme que estamos comentando.
Essa história, contudo, apesar de tantas mudanças de comportamento, não perdeu o interesse. Anos atrás, o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença gravou uma bonita música intitulada Belle de Jour. Vinte ou 30 anos depois o artista parece ter sido inspirado pelo filme visto em sua juventude. Atualmente, na novela das 21h, da Globo, uma personagem, interpretado por Maitê Proença, é uma criação nitidamente inspirada no conhecido trabalho de Bunuel. A atriz brasileira inclusive lembra, pelo menos vagamente, Catherine Deneuve. A diferença, no caso da novela, é que nossa bela da tarde tem um casamento ruim, o marido é um déspota e a sua válvula de escape é sair no horário vespertino com rapazes muito mais jovens, a procura de prazer, como a moça do filme francês.
A Bela da Tarde é encontrado em DVD, é reprisado vez por outra na televisão aberta e nos canais de TV por assinatura. Na realidade, é um grande filme, é uma obra prima, um trabalho feito para o cinema realmente inesquecível.
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