CONTEXTO

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Pesquisas Eleitorais

A "FULANIZAÇÃO" DA ELEIÇÃO PARA PREFEITO


Por Michel Zaidan Filho

Dos três níveis da administração pública (União, Estados e Municípios),  a eleição mais despolitizada é com certeza a do Município. Aí impera a chamada "fulanização" do pleito eleitoral. As legendas partidárias  e seus programas  desaparecem atrás do fulano do Caminhão, do zé da carvoaria, de antônio da farmácia ou o dono do hotel ou da galeria etc. Por contraste, a eleição nacional é a mais carregada de conteúdos ideológicos ou programáticos e no geral, assume caráter plebiscitário. A fulanização das eleições municipais só perde mesmo para as eleições proporcionais, onde a troca de favores pessoais predomina. Costuma-se dizer que se espera do candidato que ele seja um  bom 'gerente', que tenha reconhecida capacidade administrativa. Saiba fazer mais com menos, sobretudo em época de disciplina fiscal e escassez de recursos.

Como disse um analista da reforma do estado, um ente público pode ser administrado ao modo de uma empresa, mas não é uma empresa. Uma empresa privada é constituída para maximizar seus lucros e bonificar seus acionistas. Uma empresa pública tem como objetivo obter a satisfação dos cidadãos e cidadãs, com a prestação de serviços públicos (saúde, educação, habitação, limpeza urbana, transporte etc.).  Um empresário que pretenda ser prefeito e queira imprimir uma administração por resultados, fazendo parcerias com a iniciativa pública, transferindo o ônus da prestação dos serviços para a comunidade ou fundações   filantrópicas, se limitando a ser um mero gerente, pode colocar em risco os bens públicos a serem ofertados pela administração municipal. Estes bens não podem ser tratados como mercadorias, que podem sofrer uma redução  na qualidade, em razão do aumento da quantidade, pelo menor preço. Disso resulta  uma péssima educação pública, com salas abarrotadas de criança, postos de saúde, com filas imensas e um precário atendimento, transportes coletivos de má qualidade etc. O critério de aplicar a esses bens de uso coletivo o método o mero aumento quantitativo em detrimento da qualidade dos serviços, pode ser interessante para a imagem pública de um gestor que diz fazer mais com menos, mas compromete seriamente a efetividade e a eficácia dos serviços públicos.

É uma enorme falácia política e administrativa achar que um "tocador de obras" ou empresário bem sucedido ("outsider") vão substituir com  vantagem os políticos tradicionais, que fazem carreira através do mandato popular. Uns e outros prejudicam o interesse público, porque são destituídos do sentimento das urgências e carecimentos da população. Irão atender aos seus clientes ou  se apropriarem dos recursos públicos, em nome da capacidade gerencial ou administrativa.. Ninguém se  iluda. Não há administração técnica ou científica (como queriam os positivistas) que  não contenha ideologia ou política. Todo ato administrativo ou gerencial é carregado de uma conotação  política ou ideológica. No geral, aqueles que se apresentam como candidatos apolíticos ou antipolíticos se aproveitam da frustração popular contra os políticos tradicionais. Infelizmente, num  país como  o nosso, onde os partidos e as ideias valem menos do que camisas e sapatos, onde não se valoriza o poder legislativo e existe um alto grau de personalização na política, ensinar os eleitores a desconfiarem de certas propostas política, que se apresentam como "técnicas" ou "apolíticas", numa eleição municipal, não é tarefa fácil. 

*Michel Zaidan Filho é garanhuense. Tem livros publicados nas áreas de ciência política, sociologia e filosofia. É professor aposentado da UFPE.

**Na foto Thiago do Gás, pré-candidato a vereador em Garanhuns.

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