Tanto a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), através do Conselho Pleno e das Seccionais, como o
presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, reagiram as declarações do
presidente Jair Bolsonaro, que atacou a memória do pernambucano Fernando Santa
Cruz, estudante que desapareceu no Rio de Janeiro, à época do Regime Militar.
Segue a nota divulgada hoje pela OAB:
A Ordem dos
Advogados do Brasil, através da sua Diretoria, do seu Conselho Pleno e do
Colégio de Presidentes de Seccionais, tendo em vista manifestação do Senhor
Presidente da República, na data de hoje, 29 de julho de 2019, vem a público,
no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 44, da Lei nº
8.906/1994, dirigir-se à advocacia e à sociedade brasileira para afirmar que
segue:
1. Todas as autoridades do País, inclusive o Senhor Presidente da República, devem
obediência à Constituição Federal, que instituiu nosso país como Estado
Democrático de Direito e tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa
humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos.
2. O
cargo de mandatário da Chefia do Poder Executivo exige que seja exercido com
equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar
contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e
sociais, bem assim contra o cumprimento das leis.
3. Apresentamos nossa solidariedade a todos as famílias daqueles que foram mortos,
torturados ou desaparecidos, ao longo de nossa história, especialmente durante
o Golpe Militar de 1964, inclusive a família de Fernando Santa Cruz, pai de
Felipe Santa Cruz, atingidos por manifestações excessivas e de frivolidade
extrema do Senhor Presidente da República.
4. A
Ordem dos Advogados do Brasil, órgão supremo da advocacia brasileira, vai se
manter firme no compromisso supremo de defender a Constituição, a ordem
jurídica do Estado Democrático, e os direitos humanos, bem assim a defesa da
advocacia, especialmente, de seus direitos e prerrogativas, violados por
autoridades que não conhecem as regras que garantem a existência de advogados e
advogadas livres e independentes.
5. A
diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de
Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor
Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de
retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária,
e contra a violação das prerrogativas profissionais.
Brasília, 29 de
julho de 2019
Diretoria
Colégio de
Presidentes
Conselho Pleno
Felipe Santa Cruz,
filho de Fernando e atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, divulgou
para a imprensa brasileira o seguinte texto a respeito do ataque de Bolsonaro à
memória do seu pai:
Como orgulhoso filho de FERNANDO SANTA CRUZ, quero
inicialmente agradecer pelas manifestações de solidariedade que estou recebendo
em razão das inqualificáveis declarações do presidente Jair Bolsonaro. O
mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença
entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em
um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal
comportamento em um homem que se diz cristão. Lamentavelmente, temos um
presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e
debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos.
Meu pai era da juventude católica de Pernambuco,
funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos
105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por
“vivência”, tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os
demais “desaparecidos”, nossas famílias querem saber.
A respeito da defesa das prerrogativas da advocacia
brasileira, nossa principal missão, asseguro que permaneceremos irredutíveis na
garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente. Garantia que é do
cidadão, e não do advogado. Vale salientar que, no episódio citado na infeliz
coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi
protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a
tantas.
O que realmente incomoda Bolsonaro é a defesa que
fazemos da advocacia, dos direitos humanos, do meio ambiente, das minorias e de
outros temas da cidadania que ele insiste em atacar. Temas que, aliás, sempre
estiveram - e sempre estarão - sob a salvaguarda da Ordem do Advogados do
Brasil.
Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é
o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos
maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente.
PARLAMENTARES - Deputados como
Marília Arraes (PT) e Tadeu Alencar, líder do PSB na Câmara, criticaram
duramente as declarações do presidente Jair Bolsonaro que, em entrevista, disse
que, “se o presidente da OAB quiser”, ele conta como foi que “o pai dele
desapareceu” durante o regime militar.
“O destino poupou Dona Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando, de ouvir uma sandice
dessa e sofrer ainda mais, ela que passou 43 anos à procura de notícias do
filho. A afirmação é um escândalo, um imenso desrespeito, ainda mais saída da
boca de um presidente da República que deveria pugnar pela paz no seu país e
não disseminar esse discurso de ódio e intolerância”, salientou Tadeu Alencar.
HISTÓRIA - Fernando Santa Cruz
desapareceu em 23 de fevereiro de 1973, em Copacabana, após ser preso junto ao
também pernambucano Eduardo Collier Filho. Os dois pertenciam à Ação Popular
Marxista-Leninista (APML) que, ao contrário do que disse Bolsonaro, não
praticava a oposição armada ao regime militar.
Depois de preso, Fernando e Eduardo desapareceram. A única notícia a respeito
do paradeiro dos dois só chegou em 2014, no livro “Memórias de uma guerra
suja”, do ex-agente do DOPS, Cláudio Guerra, que confessou ter sido encarregado
de “sumir com 12 corpos” de militantes mortos sob tortura. Esses corpos teriam
sido jogados em uma das caldeiras de uma usina de açúcar, em Campos, RJ. A saga
de Dona Elzita em busca de informações sobre Fernando rendeu duas edições do
livro “Onde Está Meu Filho?”.
*Na ilustração a capa de uma das edições do livro "Onde Está Meu Filho", que narra a luta de Dona Elzita em busca de informações sobre o o paradeiro de Fernando.
É preciso ter coragem de afirmar, de dizer a quem quiser ou a quem interessar possa que, deve-se acabar com essa retórica fajuta que só os militares eram os MALVADÕES e os revolucionários de esquerda eram os MOCINHOS da história. Está aí, para quem quer conhecer a guerra de guerrilha: o JUSTIÇAMENTO entre esquerdistas, guerrilheiros e terroristas foi (é) fato comum. A História registra vários casos. Não é uma hipótese a ser desprezada, pois é pura verdade.
ResponderExcluirP.S.: - No tocante ao tal justiçamento ou coisa que o valha, nos primeiros 10 anos da revolução dos barbudos, foram 17 mil mortos no paredão em Cuba.
Deve ser dolorido para Felipe Santa Cruz saber que seu pai era terrorista. Até que merece ato de solidariedade por ter perdido o pai quando tinha apenas dois anos de idade. Mas nada justifica ele fazer da OAB um palanque lulista. Afinal de contas, a entidade não lhe pertence.
ResponderExcluirP.S.: - Neste caso específico da caça aos comunistas, comprovadamente, os militares cometeram excessos, mas o benefício que nos deram superam estes custos. Querem exemplos?!?!?! Posteriormente, vejam os procedimentos(40 anos depois) dos guerrilheiros Zé Dirceu... Genoíno... Dilma...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTOMARA QUE QUE ESSE PAÍS ENTER EM GUERRA CIVIL !
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