O Colégio Santa Joana D´Arc, tão bem conduzido pela professora Maria Almeida, hoje faz esta bela homenagem aos avós. "É meu dia!", pensei com meus botões. Aí lembrei de um texto da escritora Martha Medeiros sobre nós, que já fomos abençoados com netos e depois de uma crônica mais bela ainda, da paraíba Raquel de Queiroz, que ela intitulou sabiamente de "A Arte de Ser Avó". Para quem já é avô ou avó, parabéns! E vamos ler ou reler a escritora cearense:
Netos são como herança. Você
ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu…É
como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas de amor, sem
os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de
um filho apenas suposto. O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, filho do
filho, mais filho que o filho mesmo…
Cinquenta anos, cinquenta e
cinco…Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais
depressa do que se esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice
tem suas alegrias, as suas compensações: todos dizem isso, embora você,
pessoalmente, ainda não as tenha descoberto, mas acredita. Todavia, também,
obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia
da mocidade. Não de amores com suas paixões: a doçura da meia idade não lhe
exige essa efervescência. A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe
fugiu, sutilmente, junto com a mocidade. Bracinhos de criança. O tumulto da
presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças?
Naqueles adultos cheios de
problemas que hoje são são os filhos que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego,
apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças
perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda. E
então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação
ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê. Completamente grátis.
Nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela
criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade
perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um filho seu que
lhe é devolvido. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o
amar com extravagância. Ao contrário, lhe causaria espanto, decepção se você
não o acolhesse com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava
desenhado no seu coração.
Sim, tenho a certeza de que a
vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice.
São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio,
nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. E, quando você vai embalar o menino
ao som de “passarinho como vai” ele, tonto abre os olhinhos e diz:
“Vovó”, seu coração estala de
felicidade, como pão no forno.
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