Causo. Por Junior Almeida
Os
Estados Unidos e o seu povo são, para muita gente, modelos de tudo que é bom no
mundo. Pelo pensamento de muitos, tudo por lá é perfeito e, não importa se
muitas vezes outros povos pereçam para que os “galegos” vivam bem, sendo
considerado importante mesmo ostentar o que se tem de bom, varrendo as mazelas
para debaixo do tapete. Quase tudo é admirado na “Terra do Tio San”: sua
democracia, economia e seu modo de viver, além de seu enorme poderio bélico.
O
cinema americano é um caso à parte, pois influencia gerações desde os irmãos Lumière até os dias atuas. A chamada sétima arte faz o mundo vestir, comer e agir como dita a moda e a vontade
americana. Os super-heróis americanos da telona são invencíveis, que o digam os
personagens, alguns originários das histórias em quadrinhos, como Super-Homem,
Mulher Maravilha, Batman, Homem Aranha, Hulk,
Capitão América, Bradock, dentre
outros. Os vários papéis vividos por Arnold
Schwarzenegger, Jean Claud Van Damme,
Chuck Norris, Steven Seagal ou Sylvester
Stallone, ficaram imortalizados nas mentes do mundo inteiro. Isso só
falando dos astros mais recentes.
Quantos
jovens não quiseram se vestir e se portar como seus ídolos do cinema? Muitos.
Em Capoeiras mesmo, nos tempos que vinha gente de fora passar umas fitas no
velho Clube Municipal Sesquicentenário, Mané de Zuza, responsável pelo prédio
na época em que Manoel Reino era prefeito, teve que proibir a exibição dos
filmes de caratê. Motivo? Depois de cada sessão não ficava de pé uma mesa nem
cadeira do salão do clube, com os espectadores das aventuras de Bruce Lee,
dentre outros heróis, treinando os golpes “aprendidos” durante o filme. O então
diretor passou maus bocados com os ensandecidos recém caratecas.
Na
mesma época, mais ou menos, um novo herói mundial estava surgindo: Rambo,
personagem vivido pelo insosso Sylvester
Stallone, que durante o filme viveu situações de perigo, ódio e tristeza,
mas que manteve a mesma expressão facial, que parecia uma mistura de choro ou
como se estivesse com uma forte caganeira misturado com rancores de “gaia”,
acrescentando a isso tudo o incômodo d’uma cabeça de prego bem grande na bunda. Essa era a definição da cara de Rambo no filme. Mas isso não
importava. Ninguém queria saber da falta
de talento interpretativo do ator, o que valia mesmo era o monte de tiros e de
mortes apresentadas no decorrer da película.
Com
o estrondoso sucesso mundial do filme foram criados vários produtos com a marca
Rambo. Desenhos animados, gibis, bolsas, canecas, bonecos articulados, arco e
flecha, revólveres e facas, de brinquedo e de verdade, tudo do Rambo. Fotos
enormes do personagem ganharam o mundo, e Capoeiras não ficou para trás, lógico
que tinha sua legião de fãs. Existia um carpinteiro nesse tempo que gostava
tanto do Rambo que já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha assistido
o filme e que até se vestia como ele. Jaqueta militar surrada, escondida por
baixo dela, uma faca igual a do filme e até usava coturno.
Os
diálogos do filme, que não eram tantos, ele sabia decorado e os personagens do
enredo, conhecia todos pelo nome, mesmo não sendo sua pronúncia em inglês lá
essas coisas. No seu local de trabalho, uma pequena carpintaria num imóvel que
media no máximo 20 M2, ele tinha um pôster de Sylvester Stallone caracterizado em seu personagem, que parecia
intimidar quem entrasse na casa. Um musculoso Rambo todo sujo de lama, com uma
tira de pano amarrada na cabeça e apontando um lança rojão, a chamada bazuca,
para quem ali estivesse, era uma figura que impunha respeito. O moveleiro
gostava disso.
Pois
bem, por estas bandas o brabão americano não se criou. O todo poderoso Rambo do
cinema se deu mal em Capoeiras. Foi assim: o nosso marceneiro estava passando
uma péssima semana. Parecia que nada dava certo naqueles dias. Além de não ter
recebido por várias encomendas que já tinham sido entregues, botou a perder um
guarda roupas de uma madame, que tinha o contratado para reformá-lo. Como se
não bastasse, tinha voltado sem fundos um cheque na loja em que comprava
material, que ele tinha recebido de um cliente que tinha se mudado da cidade.
Eram
problemas e mais problemas. Sem solução para eles, o cabra meteu a cara na cachaça. Bebeu todas e mais algumas, tentando
esquecer tudo de ruim pra cima dele naqueles dias. Já de madrugada, completamente
tonto, decidiu sair do bar e repousar no seu pequeno comércio. Assim fez. Abriu a porta de rolo, acendeu a lâmpada,
fechou a porta, e foi procurar onde dormir. Mal se deitou num colchão velho,
após apagar a luz, tudo que era pensamento ruim veio à sua mente. Lembrou-se de
um revólver calibre 32 que tinha guardado na gaveta de um armário.
Pensou
em fazer besteira. Pelo seu ébrio pensamento, seria o fim dos seus muitos
problemas. Tateando no escuro achou a arma, mas não as munições que estavam em
outro lugar. Acendeu a lâmpada, pegou as balas e carregou o “bicho”. Enquanto
fazia isso, sentiu que alguém o olhava. Virou-se e “viu” seu ídolo o encarando.
Pior, - pensava - o ameaçando com uma bazuca.
-Tá
olhando o que?! Disse o zangado marceneiro.
Nada.
Silêncio total. Rambo não respondia. Quanta diferença do herói do cinema, que
fazia e acontecia, que matava e esfolava, sem sofrer nenhum aranhão.
-Desça daí. Seja homem e
me enfrente no braço, ou então no
revólver! Tá pensando que eu sou aqueles merdas que você matou lá naquela
cidade?! Capoeiras é diferente. Aqui tem homem de qualidade! Falava o confuso homem.
Na
cabeça do marceneiro, bêbado como tava, Rambo estava com medo dele, pois não
saia de onde estava para enfrentá-lo.
-Tá
debochando de mim, que não diz nada?! “Seje” homem, “fela” da puta!
Vociferou.
Foi
terminando de falar e dando as costas ao pôster. Como já tinha visto muito nos filmes
americanos, tinha criado uma distração perfeita para o suposto inimigo.
Rapidamente ficou de frente para Rambo e disparou seu 32 contra o ídolo. Foram
seis tiros certeiros que acertaram o peito e a cabeça do retrato. Não
satisfeito com o “crime”, o cabra recarregou a arma e atirou novamente. Uma das
balas atingiu o prego de sustentação do quadro, o que fez Rambo tombar sem vida
no chão da marcenaria.
Os
vizinhos escutaram a pipoqueira ainda saíram à rua para saber o que tava
acontecendo, quem tinha morrido, mas como não viram movimento de nada, mesmo
confusos, voltaram a dormir. Foi assim que o todo poderoso Rambo se deu mal nas
terras de Capoeiras.
Kkkkk muito bacana o causo do marceneiro x Rambo.
ResponderExcluirNosso Agreste tem muitos destes "causos".
Se puxar mesmo em cada Município, pode encomendar a edição de um bom livro com nossas boas histórias.
Cuidado com o Pai da Mata kkkk
E o caixão da caridade?
O dia EM que Rambo... Cuidado, revisor. Se é que há revisor...
ResponderExcluirTenho certeza de que o autor do texto sabia da necessidade do EM, mas como há uma limitação de espaço no blogger quando da escolha dos títulos, ele optou por esse lapso ou em deixar a preposição oculta, de modo a evitar a fragmentação do título. Não é o ideal, mas às vezes é preciso "errar" em benefício da estética.
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