Por Altamir Pinheiro
Recentemente, li aqui, no Blog de Roberto Almeida - que
o jornalista e radialista Aurimar Ferreira que além de um excelente
repórter de rua, também faz locução e apresenta programas na Rádio
Difusora de Garanhuns -, nos brindará no mês que vem com o lançamento já em sua
3ª edição do livro “TIMIDEZ NÃO A DEIXE FALAR POR VOCÊ”, que conta as causas da
timidez e como vencê-la. Tô com muita curiosidade em saber se o jornalista
escritor debulha ou troca em miúdos a emblemática frase do filósofo francês
Paul Valéry quando afirma que “ A ignorância oscila entre a extrema
OUSADIA e a extrema TIMIDEZ”... Vou lê-lo para tirar minha dúvida ou matar
minha curiosidade.
Há “filósofos de botequim” que costumam afirmar que os grandes
escritores e poetas da humanidade optaram ou fizeram fluir a arte do seu
talento através da escrita pela sua exagerada
timidez, por não saber falar, pelas dificuldades de encarar a verdade enquanto
as palavras fugiam ou embaralhavam em sua mente. Há muitos que
ainda acreditam que começaram a escrever pela covardia de abrir a boca. Em
termos de Brasil, o poeta Carlos Drummond de Andrade era o campeão da timidez.
Já no campo internacional, o troféu pertence ao premiado cineasta,
roteirista, escritor, ator e músico norte-americano o oitentão em plena forma,
Woody Allen.
Todos hão de convir, que os tímidos que aprendem a lidar com os próprios
limites descobrem que têm uma poderosa arma secreta que é o seu talento que
está, muitas vezes embutido. Até porque, timidez não é sinônimo de fracasso.
Eis alguns exemplos de tímidos que, apesar das próprias dificuldades, souberam
usar seu potencial e provar seu talento, como é o caso de NARA LEÃO com sua voz
pequena e delicada, a tímida musa da Bossa Nova deixou o banquinho e o violão
quando conheceu o sucesso popular cantando em um famoso festival de MPB da TV
Record, A Banda. E o que dizer de MILTON NASCIMENTO, pois desde o início de sua
carreira, quando ficou nacionalmente conhecido com a canção Travessia, o cantor
mineiro carregou e carrega ainda hoje a fama de tímido incorrigível.
Está claro que a timidez não é um empecilho para o sucesso, a prova é
tanta que, frequentemente a timidez e a ansiedade têm suas compensações. Eis os
casos específicos dos fatos opostos ou discordantes de um ser
TÍMIDO e o outro EXTROVERTIDO: enquanto animais mais
corajosos podem ter mais parceiros para acasalar e mais comida, os tímidos,
relegados a segundo plano, CONSEGUEM EVITAR SEREM ATACADOS - nos dois casos,
trata-se de estratégias evolucionárias bem-sucedidas. Quer dizer, o troço é
muito relativo...
Agora, há casos que a timidez extrapola o relativismo, senão vejamos esta
passagem ora descrita: nos contam os jornais da época que em 1958,
convidada para uma festa em um luxuoso hotel de Londres para comemorar o
sucesso de sua peça A RATOEIRA, Agatha Christie foi barrada por um porteiro que
não a reconheceu. Em vez de dá-lhe uma carteirada ou mandar o clássico
"Você sabe quem eu sou?", ela humildemente se virou e foi se sentar
sozinha lá em um banco do amplo salão. Apesar de ser a escritora que mais
vendia livros na época, ela ainda se sentia paralisada por "uma timidez
cruel, horrível e inevitável".
Pois bem!!! No meu relativismo simplista vejo a timidez
como uma doença não transmissível, mas sem cura que vive incrustada
nas pessoas que transmitem seus conhecimentos na política, na
literatura, no jornalismo, na psicologia e no escambau a quatro. Há quem
afirme que a timidez é expressa e avaliada em várias culturas. Enquanto em
países como a Finlândia ou Noruega, por exemplo, a timidez tem uma conotação
mais positiva por evocar a ideia de MODÉSTIA, em outros, como os Estados
Unidos, a timidez pode agora ser diagnosticada como um DISTÚRBIO PSIQUIÁTRICO.
Há casos, como define o psicólogo Cláudio Fragata, donde
rapaz ou adolescente que a timidez anda num grau tão elevado que ele quando
desemboca em determinados ambientes nunca sabe onde colocar as mãos. Como não
consegue encarar ninguém olhos nos olhos, está sempre de cabeça baixa,
olhando para o chão. Falar em público, nem pensar: a voz desaparece, as mãos
tremem, as pernas ficam bambas. Na sala de aula, permanece mudo e jamais expõe
suas ideias. Mas pior mesmo é quando tem que pedir uma garota em namoro. Na
hora H, começa a gaguejar e não lembra de nada do que ficou ensaiando para
dizer. Volta para casa sem graça, morrendo de vergonha e, sem namorada...
Há moçoila que tem horror a festas, principalmente se tiver música
para dançar. Só vai em último caso, quando não dá mesmo para arrumar uma
desculpa, e ainda assim levando uma amiga a tiracolo. Sozinha, jamais!!! Se
alguém vem falar com ela ou tirá-la para dançar, fica vermelha, o coração
dispara e deseja que o chão se abra para que possa desaparecer. Prefere ficar
quieta, pelos cantos, tapeando ou procurando se camuflar nas mesas
e tamboretes do ambiente, até encontrar uma oportunidade para
“zarpar” à francesa, sem ser vista por ninguém. Agora, de uma coisa ninguém
pode negar ou correr: geralmente, toda timidez é formada pelo DESEJO de agradar
e pelo MEDO de não o conseguir. Pense num bichinho complicado que é tal
da TIMIDEZ. Não dá para entender. Nem Freud explica, quanto mais Sherlock
Holmes. Timidez é assim mesmo, doença que não tem cura. E o resto é
silêncio, como diria Érico Veríssimo...
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