Por
Junior Almeida
Na
década de 1960 existia um sortido comércio na Vila Maniçoba, divisa dos
municípios de Capoeiras e São Bento do Una. O dono da venda era um homem de
nome Chico André. O comerciante abastecia sua bodega com produtos comprados em
sua cidade sede, ou na terra dos Valença, pois Maniçoba está localizada bem no
meio do caminho entre as duas cidades.
Em
um dia de sábado daqueles anos, após voltar da feira de São Bento do Una com
mercadorias para seu comércio, Chico André descarregou o que podia da carroceria
de sua picape, mas, para as coisas mais pesadas, precisaria de ajuda, e por
isso chamou alguns rapazes da vila, que sempre, em troca de pequenas
gratificações, faziam isso.
O que existia de mais pesado em
cima do carro, fora os sacos de açúcar de cinquenta quilos cada um, e por isso
precisaria de pelo menos quatro homens fortes, era um tambor metálico de
duzentos litros, o chamado tambor de doze latas. O recipiente estava cheio de
óleo diesel, para ser vendido a granel e abastecer as lamparinas e os velhos
candeeiros de zinco e lata. Quando energia elétrica na zona rural era um
privilégio de poucos, o óleo diesel, chamado na região de “gás óleo”, e o
querosene, apelidado de “gás branco”, era a solução pra iluminar as casas nos
sítios.
Pois
bem, entre os rapazes dispostos a descarregar o carro de Chico André, estava um
sujeito jovem, alto, forte, faltando pouca coisa para dois metros de altura, e
com cada “tora” de braço de fazer inveja a qualquer fisiculturista. Seu nome
era Mané de Nogueira.
Esse cabra nunca tinha
trabalhado para o comerciante, e perguntou o que tinha pra fazer. Chico André,
orientando-o, disse que ele, com ajuda dos outros jovens, pegasse o tambor e
colocasse no salão da bodega. Mané de Nogueira então perguntou:
-E
é só isso?
Foi
falando e abraçando o tambor com o diesel. O comerciante e os demais se
surpreenderam quando viram Mané pegar sozinho o recipiente que pesava uns
duzentos quilos, tirar de cima da picape e colocar na venda. Foi um assombro.
Os presentes se olhavam como se lhes faltassem palavras. A partir daquele dia
Mané de Nogueira pegou fama. Surgiram então para ele vários desafios de quedas
de braços, com os afamados forçudos da região, e também para que pegasse
determinado peso, tudo mediante apostas, evidentemente.
Com
o tempo Mané de Nogueira deixou a Maniçoba e arrumou um emprego em Garanhuns.
Como não tinha leitura, sendo analfabeto de pai, mãe e parteira, o rapaz usou
do talento que tinha para trabalhar: foi ganhar a vida numa madeireira
descarregando caminhões. Como em sua terra natal, as pessoas da Rua São
Francisco, na Suíça Pernambucana, se admiravam com a força do rapaz, que muitas
vezes carregava sozinho no ombro toras de madeira que geralmente seriam
levantadas por três homens.
Na
conhecida Rua São Francisco além de muitas serrarias e movelarias, existiam
também alguns cabarés, e Mané de Nogueira, depois de já estar ambientado na
cidade maior, começou a farrear com as meninas desses prostíbulos. Pelo seu
tamanho avantajado, em todos os sentidos, o rapaz era o queridinho das quengas
da área.
Muitas vezes se deitava com
algumas delas sem nem precisar pagar pelo serviço. Quase todo dia o rapaz forte,
ao largar o “batente”, ia beber e namorar nos cabarés da Rua da Madeira. Como
esse tipo de ambiente geralmente é frequentado por gente de todo tipo de
índole, vez por outra, Mané de Nogueira arrumava confusão com os fregueses
dessas casas. Não era difícil um bêbado enciumado com as atenções especiais,
por parte das prostitutas ao rapaz procurar confusão com ele.
Azar
de quem fizesse isso, pois pelo seu tamanho e sua força, numa briga, cada tapa
que dava, o Mané de Nogueira derrubava um. Com o passar do tempo o jovem foi
tomando gosto também por confusões, e além de fama de forte, adquiriu também a
de valente. Parece que gostava dessa segunda, pois vivia a se gabar das
mãozadas que dava e as quedas que os cabras levavam. Chegava a gargalhar
mangando de suas vítimas.
Com
aproximadamente 33 anos, já veterano no emprego, nas bebedeiras, no cabaré e
nas brigas, eis que por conta de um jogo de cartas, um dia Mané se desentendeu
com um colega de trabalho.
Esse, um rapaz franzino, medindo
aproximadamente 1,6 metros, e que exatamente por isso, ficou precavido com o
afamado colega, não se aproximando de Mané de jeito nenhum. Os dois discutiram
feio dentro da serraria em que trabalhavam, mas em respeito ao patrão, se
calaram. Como parece que o encardido age inflamando esse tipo de situação, o
rapaz se distraiu e no meio da rua, Mané aproveitou para dar-lhe uma mãozada
que ele caiu grogue.
O
fortão apenas ria com o que tinha feito, assim como tantas vezes, e nem se
preocupou com a reação de sua vítima, que, segundo pensava, iria se recuperar
da pancada, e fugiria pra casa. Realmente o baixinho se recuperou do murro,
mas, ao invés de fugir dali, se levantou, tirou a terra da roupa, e partiu
enfurecido pra cima do seu agressor, que nem teve tempo de observar as suas
mãos. Numa delas segurava um quicé, o
que já tinha sido uma faca de seis polegadas, mas que devido ao desgaste, media
bem menos.
Com
essa arma o rapaz franzino furou Mané de Nogueira no pé da barriga. Só deu uma
facada abaixo do umbigo. Foi o suficiente para acabar com a vida daquele que
tanta vezes tinha derrubado homens com apenas um tapa ou um murro, que tinha
feito muito cabra ganhar dinheiro apostando em sua força, e até mesmo que tinha
dado prazer às mulheres da vida.
Acabava-se ali, antes de começar os anos 1970, no meio da Rua
da Madeira, Mané de Nogueira. Cabra afamado natural das terras de Capoeiras.
*Na ilustração o David e Golias da história bíblica.
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