É muito comum o preconceito
do morador da capital com os que vivem no interior. Assim como muitos
sudestinos e sulistas veem o nordestino como um ser inferior, da mesma maneira
grande parte dos recifenses avaliam o natural de Garanhuns, Caetés, Lajedo,
Capoeiras ou qualquer outro município do Agreste, como desinformado, de pouca
cultura, ingênuo ou matuto.
Isso sempre foi um
estereótipo que nunca correspondeu à realidade e faz menos sentido ainda com as
novas tecnologias, que mantém qualquer um conectado - mesmo que more na zona
rural de Paranatama -, com o Brasil e qualquer parte do mundo.
Uma prova de que nascer no
interior não é demérito, é que muitos dos melhores cantores, compositores,
escritores, artistas plásticos e jogadores de futebol do país nasceram no
interior, às vezes até na zona rural.
No Brasil, que tem mania de
eleger reis e rainhas, embora a monarquia por aqui tenha terminado em 1889,
nenhuma das majestades mais conhecidas do século XX nasceu numa capital.
Pelé, eleito Rei do futebol,
título reconhecido até internacionalmente, é de Três Corações, em Minas Gerais,
cidade que ainda hoje tem uma população menor do que a de Garanhuns.
Chacrinha, o grande
comunicador da televisão, escolheu na década de 60 o cantor Roberto Carlos como
o Rei da música brasileira. Ainda hoje, apesar dos seus 76 anos, RC é chamado
pelo título majestoso. Ele é natural de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito
Santo, com população atual em torno de 163 mil moradores.
E o outro Rei? É o Luiz
Gonzaga, consagrado como o maior no baião, uma variação do forró, nascido na
pequena Exu, no Sertão pernambucano.
Caetano Veloso, um gênio como
compositor e um excelente intérprete, veio ao mundo nascendo numa cidadezinha
do interior da Bahia, Santo Amaro da Purificação, com uma população pouco maior
do que a de São Bento do Una.
E por falar em São Bento, foi
nessa terra, a pouco mais de 50 km de Garanhuns, que nasceu o cantor e
compositor Alceu Valença, um dos maiores nomes da música popular brasileira.
Um cara que começou junto com Alceu - os dois gravaram o primeiro disco em parceria - se chama Geraldo Azevedo, que é de Petrolina, no Sertão do São Francisco.
Um cara que começou junto com Alceu - os dois gravaram o primeiro disco em parceria - se chama Geraldo Azevedo, que é de Petrolina, no Sertão do São Francisco.
Também de São Bento do Una é
Gilvan Lemos, romancista dos bons, com mais de 20 romances publicados, vários
prêmios literários e reconhecimento da crítica literária nacional.
Mas se o leitor (a) é muito
exigente e não conhece a obra de Gilvan ou não inclui ele na relação dos
grandes nomes das letras, fique sabendo que João Guimarães Rosa, com obras
traduzidas até para o alemão e estudado até nas universidades americanas, é de Cordisburgo,
município de menos de 10 mil habitantes, em Minas Gerais.
Jorge Amado, o escritor
baiano que mais vendeu livros no Brasil até os anos 80 do século passado e que
tem obras traduzidas para mais de 60 países, nasceu numa fazenda na zona rural
de Itabuna.
Já Érico Veríssimo, que era
tão popular quanto Jorge, em sua época, é natural de Cruz Alta, município que
só nos últimos anos passou dos 60 mil habitantes.
Em Pernambuco, além do já
citado Gilvan Lemos, tivemos no passado escritores e poetas cujo prestígio
extrapolou as fronteiras do Nordeste e do Brasil: Osman Lins (Vitória de Santo
Antão), José Condé (Caruaru), Hermilo Borba Filho (Palmares), Ascenso Ferreira
(Palmares) e Luís Jardim (Garanhuns).
Marinês, que era a "Rainha do Xaxado", se criou em Campina Grande, mas nasceu mesmo foi em São Vicente Férrer, município de pequeno porte do interior de Pernambuco.
Puxando mais aqui pra
terrinha vale lembrar que um dos maiores músicos do Brasil, exímio sanfoneiro,
cantor e compositor, de nome artístico Dominguinhos, também é garanhuense
legítimo.
Fazendo uma visita à vizinha
Paraíba temos alguns nomes de peso: José Américo de Almeida é de Areia, Chico
César é de Catolé da Rocha e a excelente cantora e compositora Flávia Wenceslau
nasceu em Alta Floresta, cidadezinha de apenas 10 mil habitantes.
Ainda na Paraíba temos o nome
de Elba Ramalho, uma das cantoras mais bem-sucedidas do país. Ela é natural de
Conceição do Vale, município de cerca de 18 mil habitantes.
Zé Ramalho, aquele de "Chão de Giz", "Avôhai", "Vila do Sossego" e outras canções memoráveis, veio do pequeno município Brejo da Cruz, menor que Conceição do Vale.
Zé Ramalho, aquele de "Chão de Giz", "Avôhai", "Vila do Sossego" e outras canções memoráveis, veio do pequeno município Brejo da Cruz, menor que Conceição do Vale.
E no Ceará, o que temos? Patativa
de Assaré, autor de um livro clássico da poesia popular e da música “A Triste Partida”,
musicada por Luiz Gonzaga, adotou como sobrenome o lugar que o trouxe ao mundo.
Um município com pouco mais de 20 mil habitantes.
No interior do Ceará também
nasceu outro poeta, o cantor e compositor Antônio Carlos Belchior. Ele é de
Sobral, cidade pouco maior do que Garanhuns.
Até nas artes plásticas os
grandes talentos vieram do interior: Antônio Lisboa, que ficou famoso com o
nome de Aleijadinho, é de Ouro Preto, no interior de Minas Gerais, o grande
Cândido Portinari nasceu numa fazenda de café, em São Paulo, enquanto Tarsila
do Amaral, das maiores pintoras do Brasil, é natural de Capivari, também no
interior paulista.
Maior poeta brasileiros de
todos os tempos, tão importante para nós quanto Fernando Pessoa é para
Portugal, Carlos Drummond de Andrade é de Itabira, cidade que também tem a população menor
do que a de Garanhuns.
Monteiro Lobato, escritor que
além de publicar e vender muitos livros teve sua obra adaptada para a
televisão, era do interior paulista, de uma cidade chamada Taubaté.
São Carlos, no interior de
São Paulo, não nos deu um escritor como Monteiro Lobato, mas trouxe para o mundo
um dos maiores humoristas de todos os tempos, o Ronald Golias.
Se você entrar no universo da
música chamada sertaneja, quase todos são do interior, a começar por Paula
Fernandes, que é de Sete Lagoas (MG).
E até o Rei do Cangaço – um bandido,
você pode questionar com razão – veio ao mundo no município de Serra Talhada,
no Sertão pernambucano.
Saindo da marginalidade,
citemos a melhor voz da música popular da atualidade: Vanessa da Mata, cantora
e compositora, tem como terra natal o município de Alto Garças, no Mato Grosso,
com pouco mais de 10 mil habitantes.
Para terminar, registremos
o nome de outro grande escritor nacional, Graciliano Ramos, o homem que
escreveu “Vidas Secas”, “São Bernardo” e “Angústia”. Ele teve como terra natal Quebrangulo,
cidadezinha menor do que Capoeiras ou Jupi.
E muitos mais nomes poderiam
ser citados, em todas as áreas, liquidando de uma vez por todas o preconceito
contra o homem ou mulher do interior.
Ele ou ela pode até depois
ter buscado a cidade grande para se projetar. É verdade, quase todos fizeram
isso. Mas é evidente que o interior faz bem, inspira, humaniza faz com que o
artista, por conta de suas origens, valorize mais a natureza, as pessoas, as
raízes e a espiritualidade.
*O Texto é do jornalista Roberto Almeida, natural de Capoeiras, interior de Pernambuco.
*Fotos: Pelé, Roberto Carlos, Jorge Amado, Marinês, Elba Ramalho, Vanessa da Mata e Luiz Gonzaga, de sites diferentes, disponíveis no Google.
*O Texto é do jornalista Roberto Almeida, natural de Capoeiras, interior de Pernambuco.
*Fotos: Pelé, Roberto Carlos, Jorge Amado, Marinês, Elba Ramalho, Vanessa da Mata e Luiz Gonzaga, de sites diferentes, disponíveis no Google.
No dia 06 de agosto de 2012 os poetas reunidos no funeral de VAVÁ MACHADO assim cantaram, improvisaram profetizaram!
ResponderExcluirNa música clássica o Rei é Roberto Carlos,no Futebol o Rei é Pelé,no Brega o Rei é Ginaldo Rossi,no Baião o Rei é Luiz Gonzaga e nos versos e poesias o Rei é VAVÁ MACHADO.
Nasceu em Lagoa do Ouro e se criou em Lagoa do Ouro na casa Zé Leite e Né Machado.
Eu sempre tive uma grande admiração pelos grandes artistas e pelos grandes intelectuais da poesia e da literatura,da música e das histórias de cordel.Uma bela mensagem escrita por quem conhece um pouco de tudo.Parabéns,amigo!
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