Por Junior Almeida
ESPECIAL - Durante
o 26o Festival de Inverno de Garanhuns o cantor Alceu Valença se
apresentou no palco principal do evento, na Praça Mestre Dominguinhos. Antes disso,
porém, o seu filme A Luneta do Tempo, foi exibido no Cinema Eldorado e para a
alegria dos presentes o próprio Alceu foi ao local para um bate papo com os
expectadores e a imprensa. O artista de São Bento do Una falou do filme, da cultura de uma maneira geral, e criticou o modo como são distribuídas as concessões públicas de rádio e televisão. Destacamos no texto abaixo algumas das palavras do
cantor de São Bento do Una.
FILME
Alceu
disse que pensou o filme durante 10 anos. Revelou que via muito cinema em São Bento, numa época em que a cidade tinha duas casas de exibição.
Destacou que morou em Garanhuns, perto da Praça Dom Moura e brincou dizendo que tinha o costume de enfiar os dedos nos olhos da estátua de Dom Moura, o que levou o púbico às gargalhadas.
O cantor lembrou que frequentava muito os cinemas Glória, no centro de Garanhuns, onde depois funcionaram as Casas José Araújo e a loja Balangandã, e o Cinema Veneza, vizinho ao Supermercado Bonanza, bem próximo ao Colégio XV de Novembro.
Destacou que morou em Garanhuns, perto da Praça Dom Moura e brincou dizendo que tinha o costume de enfiar os dedos nos olhos da estátua de Dom Moura, o que levou o púbico às gargalhadas.
O cantor lembrou que frequentava muito os cinemas Glória, no centro de Garanhuns, onde depois funcionaram as Casas José Araújo e a loja Balangandã, e o Cinema Veneza, vizinho ao Supermercado Bonanza, bem próximo ao Colégio XV de Novembro.
Bruno
Feitosa, ex-secretário de cultura de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, que
estava na platéia disse levar o abraço de sua terra ao artista, e perguntou a
Alceu quando iria sair um novo filme seu. O cantor disse não ter pressa, que era
quando se motivasse, pois o de agora, “A Luneta do Tempo”, tinha demorado 10
anos, tendo sido feito depois de 15 aulas de cinema que teve com uma amiga. "Um outro longa poderia demorar mais ou menos o mesmo tempo", pontuou
PERSONAGENS
Um
jornalista de São Bento do Una, terra de Alceu, perguntou como ele
inseriu a sua infância na cidade no filme em questão e nos personagens. O cantor respondeu
que colocou alguns amigos aos poucos no enredo, e até criou personagens para
incluir outros amigos. No momento em que respondia, chamou o amigo Serginho Cri
Cri, que estava ao seu lado no cinema, e o apresentou a platéia, pois no filme ele
representou o diabo e o cangaceiro Azulão.
Em seguida, Alceu também mostrou para
o público Roberto Lessa, que no filme fez o papel de Nagib Mazolla, o homem de
barbas brancas do circo, mas que fora das telas estava sem barba, portanto
muito difícil de ser reconhecido. Citou também Biu, de Olinda, que é um artista
no circo do filme que esquece muito de tudo. Todos os atores apresentados por
Alceu foram bastante aplaudidos.
PAPEL DO ESTADO
Um
jovem da platéia, de nome Felipe, disse que notou que no filme ele fazia uma
crítica ao Estado, e perguntou o que ele achava do papel do mesmo em relação
aos artistas. Alceu disse que os meios de
comunicação são concessões públicas, mas que infelizmente está nas mãos do "jabá",
é o dono que tem a banda, é a banda que tem uma bunda, e isso tudo vai
destruindo a cultura verdadeira, a cultura feita com o coração, a cultura
regional.
O artista lembrou que morou no Rio, Paris, Olinda, que é cidadão do
mundo, mas que sua cultura em primeiro lugar vem dessa região, é a "cultura agrestina"; depois veio a cultura do Recife,
essas são suas raízes. Alceu revelou ainda que o dinheiro dos patrocinadores
do filme acabou, e que boa parte do orçamento do trabalho saiu do seu bolso. Fez questão
de falar que as filmagens da obra foram realizadas em sua terra, São Bento do Una; Vila Cimbres, em Pesqueira e Pedra Furada, em Venturosa.
CANGAÇO
Perguntamos se a ida de seu pai, Décio Valença, à Grota de Angicos, em 1938 - na época era estudante de direito -, nove dias depois da morte de Lampião, integrando uma
comissão de estudantes e professores da Faculdade de Direito do Recife,
influenciou no seu trabalho.
Alceu Valença respondeu que sim, pois o seu pai contava reiteradamente tudo que viu no local da chacina, dos corpos sem cabeças, insepultos e em decomposição, numa cena aterradora. Disse que seu pai e colegas (Edson Cantarelli Caribé, Alfredo Pessoa de Lima, Wandecok de Souza Wanderley e Plínio Inácio de Souza), ajudaram a enterrar alguns corpos, e que isso o marcou pelo resto da vida.
Alceu Valença respondeu que sim, pois o seu pai contava reiteradamente tudo que viu no local da chacina, dos corpos sem cabeças, insepultos e em decomposição, numa cena aterradora. Disse que seu pai e colegas (Edson Cantarelli Caribé, Alfredo Pessoa de Lima, Wandecok de Souza Wanderley e Plínio Inácio de Souza), ajudaram a enterrar alguns corpos, e que isso o marcou pelo resto da vida.
Recordou que quando era pequeno, de tanto ouvir as histórias do pai, quando ia ao
sítio da família, achava que as almas dos cangaceiros estavam nas serras do
sítio, e que não tinha medo de bichos e sim das almas dos cangaceiros e por
isso não subia as serras. Pensava assim: "Será que as almas deles vêm me pegar?"
O
professor Vilela, de Garanhuns, também um estudioso do cangaço, perguntou se o
personagem do filme “Antero Brilhante” foi baseado em algum cangaceiro, como por
exemplo, Jesuíno Brilhante. Alceu disse que todo seu filme é fantasia, é
invenção, é mentira. Disse que no filme gostaria de mandar Lampião pro purgatório,
mas que ele não podia ir. Complementou seu raciocínio falando que lia muito
coisas do cangaço, e citou o autor Rui Facó, como uma de suas leituras.
Um
estudante da platéia perguntou se a temática do cangaço tinha sido estudada
para o filme, e Alceu repetiu que lia muito coisas da área em livros e cordéis
e que tinha crescido ouvindo coisas do cangaço, que nas feiras ouvia cantadores
de repentes que falavam da saga de Lampião.
O artista cantou, mudando a voz, parecendo um violeiro, uns versos do cordel de José Pacheco da Rocha, que dizia: Um cabra de Lampião / de nome Pilão Deitado / que morreu numa trincheira / em certo tempo passado... sendo muito aplaudido nesse momento do bate papo.
O artista cantou, mudando a voz, parecendo um violeiro, uns versos do cordel de José Pacheco da Rocha, que dizia: Um cabra de Lampião / de nome Pilão Deitado / que morreu numa trincheira / em certo tempo passado... sendo muito aplaudido nesse momento do bate papo.
CULTURA
Alceu
Valença disse que todas as expressões
culturais mostradas no filme eram intencionais, explicou que o objetivo do filme é mostrar a “nossa” cultura, a xilogravura, o circo,
cordel, o aboio, que o Brasil precisa conhecer o Brasil, porque tudo que o
país recebe vem do Sudeste - os filmes, as novelas, músicas e tudo mais.
"Então está na hora da gente sair do micro e passar para o macro, de sair do cantinho da gente e começar a se mostrar. Pernambuco precisa se mostrar mais para o Brasil e o mundo. Eu sozinho faço isso, mas precisava que outros fossem como eu", defendeu. E citou o exemplo de quando se apresenta mostrando a cultura pernambucana. "O povo fica louco, comentou Alceu.
"Então está na hora da gente sair do micro e passar para o macro, de sair do cantinho da gente e começar a se mostrar. Pernambuco precisa se mostrar mais para o Brasil e o mundo. Eu sozinho faço isso, mas precisava que outros fossem como eu", defendeu. E citou o exemplo de quando se apresenta mostrando a cultura pernambucana. "O povo fica louco, comentou Alceu.
O
cantor brincou imitando a voz de Luiz Gonzaga, dizendo que o Rei do Baião
definia sua música como um conjunto de
uma banda de pife (pífano) elétrica.
Lembrou que certa vez, em Nova York, um crítico disse que sua música tinha a força do rock, mesmo sem ser rock. Mostrou-se preocupado com a descaracterização da cultura regional e indagou por que fazer música imitando os outros, se se pode dar valor ao que está ao seu lado, a sua cultura.
Lembrou que certa vez, em Nova York, um crítico disse que sua música tinha a força do rock, mesmo sem ser rock. Mostrou-se preocupado com a descaracterização da cultura regional e indagou por que fazer música imitando os outros, se se pode dar valor ao que está ao seu lado, a sua cultura.
Alceu falou de um lugar do Espírito Santo de nome Itaúnas. Segundo ele é uma cidade que não falta emprego, lá se ganha dinheiro através do turismo, com o
atrativo do forró pé de serra, pois por lá se toca forró o tempo todo, e as várias
pousadas e hotéis vivem sempre lotados de pessoas que vão lá para curtir o
ritmo nordestino legítimo, e perguntou por que nós fazemos o forró ilegítimo.
O
artista de São Bento do Una ainda alfinetou artistas que fazem o dito “forró de
plástico” apenas para aparecer na mídia. Finalizou dizendo que o artista tem
que ser maior do que tudo isso, que tem que fazer o seu trabalho com o coração
e o retorno virá naturalmente. Perguntado do encaixe das músicas no filme, Alceu respondeu que conhecia tudo da região, de aboios, repentes e toadas, e
que todas as músicas surgiram bem antes do próprio longa, e que foram se
encaixando no filme, mas sem uma ordem pré definida.
Alceu Valença encerrou o descontraído bate papo dizendo que era sempre um prazer se
apresentar em Garanhuns, por que tinha morado e estudado na cidade, que tinha
parentes, por isso era muito normal e prazeroso.
"Apresentar-me em São Bento e Garanhuns é muito normal, pois nas duas cidades eu estou em casa", finalizou o artista.
"Apresentar-me em São Bento e Garanhuns é muito normal, pois nas duas cidades eu estou em casa", finalizou o artista.
Fotos: 1; Alceu conversando com o público 2 e 3; interior do cinema, e 4; parte externa do cinema meia hora antes do início do filme.
MATÉRIA ESPETACULAR. ESTE É O TIPO DO ARTIGO QUE FICARÁ REGISTRADO NAS PÁGINAS REQUINTADAS DA BLOGOSFERA DE GARANHUNS. UM CONTEÚDO ESCRITO DE VÍCIO SOLTO, SAUDÁVEL E AO MESMO TEMPO CHEIO DE ESTILO E RECORDAÇÃO. PELO SEU PRIMOR, POR SER DE FÁCIL ENTENDIMENTO PARA OS COMUNS DOS MORTAIS, COM CERTEZA QUE SERÁ MAIS UMA REPORTAGEM / TESTAMENTO QUE DEIXARÁ SUA MARCA REGISTRADA NOS ARQUIVOS DOS BLOGS DE TODO O AGRESTE MERIDIONAL. O TEXTO, ALÉM DE ENXUTO É UMA VIAGEM NO TEMPO. DE PARABÉNS O AUTOR!!!
ResponderExcluirEu conheço ALCEU VALENÇA há mais de 36 anos com o seu estilo correto,das grandes multidões quando levou suas músicas para Pernambuco todo,o Brasil e ao mundo.
ResponderExcluirNas ladeiras de Olinda e na planície de Recife assisti muito ele cantar e nas Rádios Jornal de Recife e algumas FM que eram poucas na época.
Quando cruzada a Conde da Boa vista para estudar química e matemática na Universidade Católica de Pernambuco e na UFRPE em dois Irmãos sempre ouvia gente falar e cantar suas músicas tradicionais.
Portanto, São Bento do Una deve ter muito orgulho do seu filho ilustre que sempre militou no campo da esquerda,mas quando apoiou Dr. Joaquim Francisco a Governador em 1990 teve sua casa em Recife totalmente pichada pelos que eram contra Joaquim Francisco.
Depois em 1998 tá o Jarbas Vasconcelos que era da Esquerda abraçado com todo o PFL do Roberto Magalhães e Joaquim contra Miguel Arraes e Eduardo Campos.
Hoje o Alceu Valença deve está rindo com as saladas que se formaram na política brasileira com a REDE-PT-DEM-PSDB tudo juntos contra e a favor do impeachment da Dilma Vane Rousseff uma mulher honesta e que não cometeu nenhum crise de lesa pátria que seja julgada por uma Eduardo Cunha da Vida e Michel Temer e pelo PMDB que recebeu dela pão,café,manteiga, queijo e muita carne de sol.Fora os 7 Ministérios e milhares de cargos em comissão.
Parabéns,ALCEU VALENÇA.Tu és um guerreiro com suas músicas que empolgam e encantam.Parabéns aos idealizadores pelo FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS.Sempre torço por vocês porque essa cidade me representa desde quando aprendi a ser gente ao lado do saudoso e inesquecível PADRE ALDEMAR DA MOTA VALENÇA que vice no coração da gente "Alto padrão de civismo e de glorias"!