Quando Alfred Hitchcock realizou
Psicose, em preto e branco, em 1960, já tinha produzido em cores algumas obras
primas, como Um Corpo que Cai (1955) e Janela Indiscreta (1954).
A fotografia em preto em branco de um
dos maiores clássicos do suspense de todos os tempos, então, foi intencional. A
história que é contada nesse filme, a psicologia dos personagens, cenas como a
do assassinato no chuveiro, não teriam a mesma força num trabalho em
tecnicolor.
Hitchcock surpreendeu a crítica e o público
ao fazer o filme dessa forma, sem grandes estrelas da época e com baixo
orçamento. O longa custou 800 dólares, uma ninharia para os padrões de
Hollywood, mesmo no início dos anos 60.
Mesmo assim Psicose fez um tremendo
sucesso na época, causou impacto no mundo inteiro e até hoje surpreende quem o
assiste seja pela primeira ou terceira ou quarta vez.
A história começa com a charmosa
secretária Marion Crane (Jane Leigh), uma mulher honesta, de confiança, que de
repente cede à tentação e resolve fugir com 40 mil dólares do chefe.
A partir daí Alfred Hithcock, com sua
maestria, já começa a mexer com os nervos do espectador. Marion sai da cidade
dirigindo o seu automóvel, com a expressão tensa, pára num lugar ermo para
descansar e é acordada por um policial.
Este claramente começa a desconfiar do
comportamento da moça. Esta fica mais tensa, passa numa agência de veículos e
troca o carro, notando que o policial ainda está por perto.
Prossegue em sua “viagem”, começa a
chover, numa “sacada” do diretor que prende mais ainda o cinéfilo. Marion fica
ainda mais nervosa, o suspense é crescente.
Com pouco tempo do filme já estamos
envolvidos e nos perguntamos: “Onde vai dar tudo isso?” O cineasta consegue
fazer a gente se preocupar com o futuro daquela personagem, muitos talvez até
torçam para ela reparar o erro cometido.
A mulher encontra, então, na beira da
estrada, um hotel com jeito meio abandonado, mas resolve parar.
É atendida por Norman Bates (Anthony
Perkins), um rapaz educado, de feições bonitas, porém um tanto estranho. Há um
mistério no ar.
Norman vive só com sua mãe senil num
casarão antigo localizado perto do hotel. Ninguém vê a velha senhora, que
parece ter uma personagem dominadora, proibindo o rapaz até mesmo de ter
relacionamentos amorosos.
Passado pouco tempo da chegada da
secretaria no hotel, teremos a memorável cena do chuveiro, quando Marion é
atacada por uma figura misteriosa e a música dá o tom do crime que está sendo
cometido.
Passados mais de 50 anos da realização
de Psicose, com essa cena do chuveiro tendo sido repetida à exaustão quando se
fala do filme, com outros diretores tentando copiar o lance de Hithcock, esse
momento continua único na história do cinema e será celebrado ainda durante
muitos anos. Alfred era um gênio, cuidava dos detalhes em seus filmes, nenhuma
cena é gratuita, o cineasta reuniu o dom e o talento para lidar com essa arte,
tinha intuição, conhecimento, não é à toa que vários dos seus trabalhos,
inclusive este sobre o qual estamos escrevendo, entram nas famosas listas de “melhores
filmes de todos os tempos”.
Quatro filmes do diretor britânico são
geniais e impressionavam muito: Um Corpo que Cai, Janela Indiscreta, Os Pássaros
e Psicose. Interessante é que embora cada um deles tenha a marca do diretor
brilhante, o seu estilo peculiar de fazer cinema, são filmes diferentes, cada
um com qualidades próprias, personagens diversos, enredos diferenciados e
finais completamente originais.
Muito forte em Psicose é o personagem
Norman, o “doente mental” do filme. Anthony Perkins, o ator, nos pega desde a
primeira aparição na tela. É convincente, charmoso, estranho, dá um pouco de
medo, embora às vezes pareça um sujeito normal.
Bates é um dos maiores personagem das
histórias de filmes de horror e suspense. Marion, a sua irmã (que aparece depois), o detetive que entra em cena tentando descobrir o paradeiro da mulher, o chefe, o amante da
secretária, todos parecem personagens secundários quando comparados ao gerente
do hotel.
Psicose é bom do início ao fim. Mesmo
quando tudo se resolve, com explicações psicológicas sobre a dupla
personalidade do rapaz, o filme mantém as qualidades que o transformaram num clássico.
Em 1998 alguém se aventurou a refilmar
Psicose, em cores. Pobre diretor, não conseguiu homenagear Alfred Hithcock, se
essa era sua intenção e ainda “afrontou” a obra original.
Psicoce, o de 1960, é pra ver e rever,
indicar aos amigos, ter em sua coleção de obras primas.
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