AVALIAÇÃO DO DEBATE NA GLOBO

Enfim assisti um debate entre os presidenciáveis. Os quatro candidatos poderiam ter sido melhores, afinal um deles vai governar o Brasil a partir de 2011. Deu, contudo, para agüentar até meia noite e meia. Não perdi um segundo. Aí vão as minhas impressões do desempenho de cada um:

Dilma, a líder das pesquisas, se preocupou em administrar o tempo, atendendo as recomendações do marketing. Como no programa eleitoral, vinculou seu nome, seu trabalho ao do governo Lula. Escolheram para ela uma roupa numa cor clara, um tom meio bege, tentando passar leveza, mas o modelo era um tanto feioso, teria sido melhor um daqueles terninhos da campanha. A petista não brilhou, é verdade, porém escapou de qualquer ataque comprometedor dos adversários.

José Serra estava muito bem vestido, parecia até mais jovem. Aparentemente tranqüilo, seguro, e talvez pela primeira vez na campanha fez oposição ao Governo Federal. Aproveitou cada fala para dar estocadas na gestão petista e lembrou até de Fernando Henrique, escondido no guia eleitoral da TV. Seu alvo, é óbvio, era Dilma, mas terminou se complicando com o candidato do PSOL e a representante do PV. Seus assessores devem ter ficado arrepiados quando investiu pesado contra Marina: disse que não usava réguas para medir os outros e lembrou que a ex-ministra fez parte do Governo do Mensalão. Cometeu um erro estratégico ao bater na única que pode levar a eleição ao segundo turno.

Marina começou usando por cima da roupa uma espécie de xale que estava tenebroso. A verde ficou parecendo um personagem de filme de terror. A assessoria percebeu rápido que a imagem dela no vídeo estava péssima e em pouco tempo a candidata reapareceu com outro lay out. Aí começou a se destacar. Defendeu com firmeza as suas propostas, enfrentou Dilma de igual para igual e conseguiu levar Serra à lona pela menos uma vez: quando cobrou do tucano coerência, uma vez que seus aliados viviam criticando o bolsa família e ele hoje se transforma em seu defensor. Um bom observador deve ter notado: Marina Silva parece ter esquecido que militou 30 anos no PT, foi ministra nos dois governos de Lula. Falou o tempo todo como se nunca tivesse feito parte de nada, não tivesse sua cota de responsabilidade com os rumos do Brasil nesses últimos anos. Tirando essa contradição, teve melhor desempenho do que os outros, estava mais segura, soube argumentar e foi ainda quem encerrou melhor sua participação no programa.

Plínio não brilhou como no primeiro debate de que participou. Em alguns momentos se perdeu ao perguntar e também ao responder. Suas propostas de dar um calote na dívida, reforma agrária radical e entrega de imóveis urbanos desocupados para a população pobre devem ter assustado as classes altas e médias, sem encontrar eco nas pessoas de baixa renda. Esses talvez prefiram uma casa própria de um dos programas do Governo, sem precisar de complicações com a justiça. Plínio teve melhores momentos nessa campanha, nesse último debate, no entanto, deixou a desejar e em minha opinião (embora o admire) foi o mais fraco dos quatro presentes ao debate da Rede Globo.

Não houve um grande vencedor. Possivelmente mudará pouca coisa nas intenções de voto. Marina pode ter se beneficiado, segurou e talvez aumentou um pouco sua votação, mas dificilmente o suficiente para provocar o segundo turno.

Essa é minha avaliação. Um jornalista de São Paulo pegou mais pesado: classificou o confronto como sonolento e disse que o único vencedor foi o Bonner, o apresentador. Poupou Dilma, elogiou Marina e chamou Serra de medíocre. Será que o tucano era o seu candidato e esse profissional da Folha de São Paulo ficou tão decepcionado que fez esse desabafo? Não vi ninguém tão medíocre assim e sinceramente considero que nem mesmo o William brilhou. Foi discreto, fez valer as regras, que engessam o debate, cumpriu seu papel de homem de imprensa inteligente. E só.