CRÔNICA - TUDO NO MUNDO É FRÁGIL, TUDO PASSA

O título da crônica foi tirado de um poema da portuguesa Florbela Espanca, que viveu entre fins do século XIX e primeiras décadas do século XX. 

Os versos da poetisa foram musicados pelo cearense Raimundo Fagner,  em 1980.

"Fanatismo".  Este é o nome da música e do poema.

Dizem que Florbela morreu de amor, literalmente,  com apenas 36 anos.

Deus! 

Será que hoje ainda se morre de amor?

Todos os dias nos sites de notícias,  nos vídeos na internet,   ficamos sabendo dos jovens que morrem de bala perdida, de tiro da polícia, por conta do conflito entre traficantes de droga.

Morrer de amor... 

Como um fato desses parece antigo, distante.

Não existe beleza na morte, mas se houvesse essa seria a forma mais bonita de morrer... 

De amor, de coração partido, com as lágrimas rolando e a saudade antecipada do homem (ou da mulher) amado (a) que fica para trás.

E tudo no mundo é frágil, tudo passa, escreveu Florbela.  

Quase 100 anos depois o cantor popular fez ecoar os versos citados pelo Brasil inteiro.

Uma frase  que carrega tanto significado, tanta verdade.

Nós, os humanos, somos tão frágeis quanto a louça na cozinha, a cadeira da sala ou o abajur que um dia tirou o quarto da penumbra.

E tudo passa: a infância divertida, a adolescência de conflitos a maturidade de amores tardios.

Passam os homens violentos, as mulheres sonhadoras, os ocupantes do poder.

Ficam os domingos, que vêm e vão, e parecem todos iguais.

Ficam as obras de arte de mãos talentosas, de vozes privilegiadas e de cabeças pensantes que escrevem profetizando o amanhã.

Passam os carros pelas ruas estreitas. 

Vilas são transformadas em cidades, barracos viram casas, ruas de terra ganham asfalto, pobres desvalidos e espertos ganham status de capitalistas bem-sucedidos.

E como tudo é frágil, tudo passa, os castelos vão ao chão, reis e rainhas caem do pedestal, anônimos tomam o seu lugar.

Deixam de ser anônimos, as novas majestades.

De Florbela Espanca, do tempo em que se morria de amor:

Minha alma de sonhar-te, anda perdida, meus olhos andam cegos de te ver, não és sequer a razão do meu viver porque tu és já toda minha vida.  Não vejo nada assim, enlouquecida,  passo no mundo meu amor a ler, o misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lida...

De lá pra cá o mundo mudou bastante.

Embora tenhamos situações ou fatos que parecem permanentes, imutáveis.  

Mas na verdade tudo continua frágil e  tudo passa.

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