CONTEXTO

CONTEXTO
Pesquisas Eleitorais

CANSAÇOS E MELANCOLIA - Por Roberto Numeriano



O dia 7 de setembro chega e evoca em minhas memórias cansaços. Medito comigo mesmo as muitas místicas libertárias do país, o mito de sua independência. Este país jamais foi livre. Sob o seu vasto Sol tropical, a morte é a sua marca. A morte dos índios sob séculos de genocídios, curra nas matas e isolamento. A morte em massa de negros, desde os navios famintos do seu sangue e de seus braços, do ventre das mães negras, da lágrima de milhões de almas condenadas ao degredo. Nunca fomos independentes.

Antes, as elites do atraso, ontem ou hoje, sempre atraiçoaram as lutas fraternas por igualdade e liberdade. Nossa ordem é a ordem da opressão política e estatal dos ricos sobre dezenas de milhões de humilhados e ofendidos. Nosso progresso é o progresso de uns poucos sobre um imenso país de miseráveis, deserdados de qualquer futuro.

Os mitos civis e militares, fundadores de uma pátria inexistente, são na verdade uma falácia travestida em verde e amarelo. A República nasceu de um golpe, de uma traição militar. O Império nasceu de um arranjo pelo alto, entre as próprias elites nacionais e portuguesas, e foi pago a peso de ouro. Não há liberdade possível quando o custo dela pode ser avaliado em moedas.

Não há independência real sem o sangue vencedor das guerras libertárias. Daí a mentira essencial que grita desde o Hino Brasileiro, um apanhado de mistificações que a história mesma nega nas entrelinhas. Daí a mentira das cores que nos associam a duas casas dinásticas europeias, e nada têm a ver com ouro, matas verdes e céu de azul anil. Deus dos céus! Quanta mentira fundou e sustenta este mito de país que até hoje, por isso mesmo, jamais se constituiu em nação.

Somos em essência um imenso navio de negros e pardos conduzido ao malogro pela ganância e vileza de militares, políticos e plutocratas radicalizados pelo conservadorismo político-ideológico insano, enquanto expoliam as riquezas do país e traem os mínimos valores republicanos consagrados na história mundial. Até quando a mentira vai prevalecer?

Até onde vamos suportar essa elite predatória, com complexo de inferioridade, racista e estúpida? Se eu tenho uma bandeira, jamais será essa de mitos travestidos de patriotismo. Se eu tenho um hino, jamais será esse de uma retórica que a história desmente. Se haverá um país, jamais será esse dominado por odiosos tipos toscos, servis, canalhas e corruptos, tocados como rebanho pelas trombetas apocalípticas de loucos.

*Roberto Numeriano é jornalista, professor e cientista político. 

**Imagem: Samuel Marques

Nenhum comentário:

Postar um comentário