Por Michel Zaidan Filho
A emergência da figura paterna, em nossa civilização, é tardia. As sociedades primitivas eram matriarcais. A educação das crianças era entregue ao tio materno, e o pai biológico não tinha ascendência sobre os filhos naturais. A concepção biológica dos filhos e filhas era atribuída aos espíritos que, periodicamente, fecundavam as mulheres. A descendência era matrilinear. As mulheres mandavam; os homens obedeciam.
Até o surgimento da
família monogâmica e patriarcal, as
coisas continuaram assim. A partir da ciência do seu concurso genético, os
homens passaram a mandar. Em lugar do
afeto e do cuidado, surgiu o temor e a obediência. O amor paterno passou a ser
condicionado pela certeza genética dos filhos. Instituiu-se a monogamia, o
incesto e o tabu da virgindade. Da horda, passamos à família patriarcal, com a
sujeição da mulher, dos homens e da natureza. O ser-do-cuidado, que caracteriza
a essência do amor aos filhos, as pessoas e a natureza é de índole feminina,
não masculina. E a evolução psicológica da humanidade passou pelo assassinato
psicanalítico da figura paterna e a superação do sentimento de culpa dos
filhos.
Mas perdurou na espécie como
memória do parricídio original. De lá para cá tornou-se o complexo de édipo que
se trasladou nas ditaduras e revoluções sem fim. O sentimento ambíguo de amor e
ódio dos filhos em relação aos pais levou-nos ora a ama´-los e admira-los. Ora
a querermos substitui-los.
A civilização do futuro
deve diluir a figura paterna nas relações de amor e cuidado de uns com os outros.
Produzindo uma civilização mai
s feminina, a par das mudanças que vem ocorrendo com a própria organização familiar: famílias monoparentais, homossexuais, comunitárias, A figura paterna será relativizada em prol de uma comunidade afetiva que cuide e proteja todas as crianças, não só nossos filhos.
*Michel Zaidan Filho é professor aposentado da UFPE, cientista político e escritor com vários livros publicados.
*Foto: https://www.abctudo.com.br/dia-dos-pais/
As sociedades primitivas eram matriarcais, por isso eram primitivas e estagnadas no tempo. Aliás uma pessoa como Michel Zaidan não teria muitas oportunidades na vida nessas sociedades matriarcais primitivas, visto que os homens teriam que caçar e proteger as mulheres das feras e de grupos rivais e não ficar conversando água e ganhando dinheiro público para isso.
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