Por Maria Clara
Nasci no mato, em terras
nordestinas e nunca descobri o porquê de minha mãe ter me batizado com este
nome, Ludmila, de origem russa.
Naturalmente não tenho nada
da Sibéria, sou feita de fogo, desde muito nova um incêndio se forma dentro de
mim, embora somente aos 23 anos tenha chegado à iluminação, vendo as estrelas bem
de perto, ouvindo música barroca, convencida de que desfalecia, o coração
acelerado demais, como se estivesse prestes a me levar.
No Recife, cortado por tantos
rios, tinha tido os experimentos dos primeiros flertes, breves, vulgares. Imaginava, inocentemente, não ter mais o que buscar ou aprender.
Eles ficavam loucos, pediam
coisas, davam gritos, depois viravam para o lado e fim do filme, éramos apenas
serviçais, prontas a lhes dar prazer quando solicitavam, ou não.
Um dia, veio o príncipe. Não
estava montado a cavalo, mas tinha um fusca desbotado, que para mim já era
alguma coisa. Não foi o seu carro modesto, no entanto, o principal na conquista
arquitetada aos poucos, iniciada com sussurros e uns brincos, além de um lindo
vestido verde de bolinhas, presentes embalados em gestos românticos, tímidos.
A roupa era curta e isso foi
planejado – não sou tão ingênua! - o homem galante querendo ver bem as pernas de
sua prenda.
Os olhos azuis e o corpo escultural
deixavam-nos tontos, embora à época eu não tivesse muita noção do meu poder.
Charles fazia música, era
introspectivo, vivia só. Diferente dos machões que tinha conhecido antes,
falava sempre educadamente, a voz aveludada.
Depois as mãos se
pronunciaram, tocaram meus cabelos castanhos, passearam por minhas costas, em
outro momento; como que sem querer roçaram os seios, provocando um arrepio
estranho.
Um dia aconteceu, e foi
mágico.
Estávamos como namorados,
numa casa de praia. Não havia ninguém a quilômetros, só nos dois e muito mar.
Ele me beijou com ternura,
abraçou, envolveu e depois tirou-me a roupa de uma maneira tão delicada que não
senti nenhuma sensação de pecado.
Chupou os bicos dos meus seios
como se tivesse na boca uma fruta rara, ou maçã, morango, uvas... E logo descia
até a manga madura, fértil, sedenta, tão deslumbrada quanto eu.
Os lábios tocaram cada parte
do meu corpo. Até o pé delicado recebeu
atenção, como se fosse tão importante e valioso quanto a bunda empinada, num
corpo de menina.
Depois dos jogos iniciais,
que pareceram durar um longo tempo, sentindo sensações completamente novas, nos
deitamos na cama, entre lençóis de cambraia.
Veio feito um menino leviano
e inescrupuloso, porém era um adulto, seguro, um homem consciente de que
navegar é preciso.
Entrou dentro de mim de forma
sutil, provocando sensações novas, estimulando a grande descoberta, fazendo
daquele momento mágico a primeira vez. O que acontecera antes, nas
encruzilhadas da capital, não tivera importância nenhuma, agora eu sabia.
De repente o êxtase, o amor,
o sexo, a certeza de que o paraíso existe. Deus!... Daqui a dois mil anos ainda
vou estar a lembrar daquela tarde e noite, quando pela primeira vez me senti
amada e me entreguei por inteiro.
Passados tantos anos, ainda
nos queremos como antes, tenho dois ou mesmo três orgasmos, quando Charles vem
com fome e demonstra desejos sem fim. Ele sempre me beija por inteira, me faz eternamente
jovem, amada, que mais posso querer?
Meus dias foram e continuam difíceis , eu
sei, ainda hoje tenho de trabalhar para viver. Os filhos vieram e se foram,
fiquei só.
Não só de tudo porque o
tenho ao meu lado, o mesmo homem, introvertido, bom, companheiro.
Ele ajuda a lavar os pratos,
varre o chão, cuida de mim quando preciso dos remédios de farmácia ou de um
chá.
Às vezes implica somente para
chamar a atenção. Os homens nunca deixam de ser meninos, por mais que cresçam.
Estou certa de que ele nunca
deixou de me amar. Nossos sentimentos vão durar pra sempre, porque são
verdadeiros, é uma relação construída à base da paixão, de amor sem interesses,
acima dos preconceitos e das regras sociais.
Eu sei que vou te amar, pra
sempre eu vou te amar, como na canção. Gosto de ficar nos teus braços, de ouvir
tua voz, de quando me pedes alguma coisa e pagas com carinho, me valorizando,
elevando minha condição de mulher.
É pau, é pedra, é cama, é
beijo, é prazer, é felicidade, é casa no campo, é selva, asfalto, sol, chuva,
tempo, é o começo do caminho.
Sim, o tempo não para, mas
podemos parar o tempo e deixar o amor fluir, como uma corrente de fé, acima dos
edifícios da cidade, indiferente à política menor que mente e retira direitos.
Pelo menos nossa relação não depende de decisões de gabinetes, podemos sempre
recomeçar, renascer e eternizar a paixão que começou quando os nossos olhos
brilhavam tanto que alumiavam o sol. E o
corpo tremia, tremia, tremia. Confesso que tive medo. Pra depois ser inundada
de uma felicidade infinita. Ainda bem.
Gracias a la vida que me ha
dado tanto.
Excelente crônica.( ou conto...). Nem sei quem é essa menina, sei nem se esse que ela usa é o verdadeiro nome dela, mas muito bm texto. Parabéns!
ResponderExcluir👏👏👏. Lindo conto ❤️
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