Por Michel Zaidan Filho
Um partido pode até parecer uma seita, uma irmandade ou uma igreja. Mas não
é. É uma instituição laica, impessoal, com um programa político e normas de
funcionamento. Alguns, contudo, ainda se comportam como grupo de afinidades
fechadas e falam para si próprios ou seus confrades.
Essa endogamia faz os que não são filiados, sentirem-se estranhos ou
pouco à vontade nessa comunidade de irmãos. Problema recorrente em certas organizações
da esquerda.
Uma reunião ampliada para discutir uma agenda especifica para uma
candidatura não deve ser um mero álibi, formal, ritual para legitimar esta
candidatura. Deve ser uma rica oportunidade de se construir uma agenda de questões
coletivamente, ouvindo a comunidade (mães de família, professores,
trabalhadores, ongs, associações de bairro etc.)
Se o candidato quer ser representativo não basta encenar uma performance
num coletivo de companheiros e camaradas. Há, muitas vezes, uma tendência de se
transformar uma reunião como essa numa espécie de homologação publica de algo já
preparado, sugerindo-se a aparência de um processo participativo e colegiado. Mas os
que não participam necessariamente da irmandade podem se sentir excluídos desse
processo "democrático".
Discutir um programa para a educação, em tempos de aguda exclusão
social, para não falar coisa pior, é levar em conta a dificuldade de
compatibilizar universalidade e respeito as diferenças. O direito universal à educação
publica e de qualidade não pode ser cego ou ignorar as diferenças (étnicas, de gênero,
de orientação sexual, de classe social, etc.), sob pena de cometer injustiças
culturais. É necessário adotar um olhar multicultural para as necessidades especificas
das minorias, preservando os chamados "mínimos éticos".
As gestões passadas do Partido dos Trabalhadores já nos legaram um formidável
acervo de experiências pedagógicas exitosas, numa sociedade tão desigual como a
nossa. Lembro aqui o projeto das escolas integradas de educação, trabalho e
cultura, da gestão de Edla Soares. E a ideia magnífica de abrir as escolas públicas,
nos fins de semana, para o usufruto das comunidades.
Finalmente, não posso deixar de mencionar aqui uma proposta que foi
apresentada nas reuniões das equipes de ensino, durante a gestão de Edla: a distinção
entre a formação de cidadão ludens e o cidadão vox. Nossas escolas laicas e
republicanas podem ser tudo, menos reles criadouros de uma mão-de-obra barata e
informalizada para um mercado de trabalho selvagem e desrregulamentado.
O cidadão ludens é o que cria, inventa, muda a realidade. E o cidadão vox é o que tem a competência de vocalizar direitos, reivindicar prerrogativas e garantias constitucionais. Uma educação pública, de qualidade, deve procurar unir em seus educandos e educandas essas duas qualidades.
*Michel Zaidan Filho é professor universitário e cientista político.
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