Por Homero Fonseca*
É a típica declaração que se
desdiz ao ser enunciada.
Façamos uma rápida tradução
das palavras generalícias.
Disse o general: “Para eles
[os comandantes], é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em
particular o Exército, vão dar o golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o
regime democrático”.
Tradução: os generais estão
zangados, portanto não ofendam o Exército falando em golpe senão eles darão um
golpe para não serem acusados de golpistas.
Disse mais: “O próprio
presidente nunca pregou o golpe.”
Tradução: o presidente sempre
defendeu uma ditadura, mas qual é o problema?
Disse ainda: “Agora, o outro
lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”.
Tradução em duas etapas.
1ª — “O outro lado”:
obviamente não é a oposição formal, incapaz no momento de representar qualquer
ameaça real (Maia esclareceu que não tocará qualquer processo de impeachment).
Menos ainda o fantasma da esquerda — desorganizada, desunida e desorientada —
que no atual contexto histórico não representa o menor perigo. O alvo do
general Ramos é o STF e o TSE.
2ª — “Esticar a corda”.
Avançar com o processo das fake news que, teoricamente, pode resultar na
cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Nesse ponto, o general foi tão claro que
quase dispensa tradução: “”Também não é plausível achar que um julgamento
casuístico pode tirar um presidente que foi eleito com 57 milhões de votos”.
O general Ramos comentou
ainda uma mensagem do ministro Celso de Melo sobre os pendores nazistas de
apoiadores do presidente — mensagem privada e devidamente vazada[ii]: “Comparar
o presidente a Hitler é passar do ponto, e muito.” Traduzindo: direito de
expressão é só para os bolsonaristas pedirem ditadura e volta do AI-5, talkey?
Pra quem não sofre de algum
déficit cognitivo grave, as ameaças são claras. E vem sendo usadas, quando
conveniente, em momentos cruciais. Lembram o twitter do general Villas Boas, em
agosto de 2018, às vésperas de o STF votar habeas corpus em favor de Lula?[iii]
Mensagem intimidatória, ratificada por uma nota oficial do comando do
Exército[iv]. O resultado da votação foi 6 x 5 contra a concessão do HC, como
se sabe. Depois de eleito, Bolsonaro dirigiu-se a Villas Boas diante dos
comandantes militares: “Só estou aqui por sua causa”[v]. Tradução possível:
“Valeu, general. Obrigado pela força. Foi fundamental naquele momento”.
O argumentador ingênuo (ou
malandro) pode perguntar: mas porque eles não dão logo o golpe, ao invés de
ficar ameaçando? Primeiro, porque já estão encastelados no poder. Segundo,
porque preferem manter as aparências (como em 1964, quando golpe e ditadura
eram chamados de “revolução democrática”).
Entretanto — e este é o
recado do general Ramos — se qualquer instituição se meter a alterar esse
arranjo, “as consequências serão imprevisíveis”, como disse antes o general
Augusto Heleno.
Resumindo: não haverá golpe
se o Judiciário não mexer com Bolsonaro, se ninguém der mais declarações
consideradas ofensivas, se tudo correr como eles querem, se…
Democracia é só para quem
pensa igual.
FONTES
[i] https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/12/ministro-ramos-afirma-que-e-ultrajante-falar-em-golpe-militar-mas-alerta-nao-estica-a-corda.ghtml
[ii]
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/01/celso-de-mello-ve-semelhanca-entre-brasil-atual-e-alemanha-nazista-e-diz-que-apoiadores-de-bolsonaro-odeiam-democracia.ghtml
[iii]
https://twitter.com/Gen_VillasBoas/status/981315180226318336
[iv]
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,exercito-defende-declaracoes-de-general-villas-boas-no-twitter,70002255031
[v] https://www.viomundo.com.br/politica/golpe-de-villas-boas-mostra-que-bolsonaro-foi-eleito-na-marra.html
O autor do texto, mete-se a tradutor do português para o português, mas não sabe entender o que lê e ao "traduzir", deixa a tradução, que deveria chamar-se: "Explicação à luz do pensamento de um débil mental esquerdista" e não "tradução", torna a "tradução" de uma frase simples em uma teoria da conspiração estapafúrdia que somente outros débeis mentais são capazes de concordar.
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