Do sociólogo Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populli:
Bolsonaro está em queda
acentuada desde, pelo menos, março, quando a condução estapafúrdia da epidemia,
seja no plano sanitário seja no plano econômico, fez com que ele perdesse
aceleradamente apoio nas classes médias entre pessoas com um nível maior de informação.
No final de março o Ipespe/XP fez uma pesquisa telefônica, como todas
atualmente, que deu que ele tinha 36% de pessoas avaliando como ruim ou péssimo
o governo. Dois meses depois, em 20 de maio, essa proporção tinha passado para
50%. E naquela mesma pesquisa de março, 30% achavam ótimo ou bom o governo
dele. Essa proporção caiu para 25.
Em outras palavras, ele
aumentou a reprovação em 14 pontos, diminuiu a aprovação em 5 e caiu a
proporção de pessoas que avaliavam o governo como regular. Ou seja, ele tá com
metade da proporção que avalia negativamente, apenas metade avalia
positivamente.
Essa queda é causada, como eu
estava dizendo, pela condução da epidemia. E isso fica mais claro ainda quando
eles perguntaram a respeito da maneira como Bolsonaro estava lidando com o
coronavírus: 58% disseram que de maneira “ruim ou péssima” e 19% apenas que de
uma maneira “ótima ou boa”. Então, lá em cima dava 50 a 25. Aqui já está dando
60 a 20. E essa proporção, tudo indica que é aonde vai chegar a avaliação do
conjunto da obra do cara. Vai ficar nessa casa de 20%, tendendo pra menos de
20.
E isso nós sabemos aonde vai
dar: provoca grande reação no sistema político, o Centrão começa a achar que
talvez não seja boa ideia, o mercado começa a duvidar da capacidade dessa turma
de permanecer no poder… Ou seja, tudo se acelera no sentido negativo depois que
você cai desse patamar de 20%, que logo vira 15 e sabe-se lá onde que para.
Ele tem um piso, que é
formado por esses idiotas que vão pra rua pedir pra ficar doentes, fazer
palavra de ordem contra tudo e contra todos.
Bolsonaro há muito tempo não
está mais na fase de manter o apoio que tem. Ele não tem mais aqueles 30% que
achava que tinha. Ele está mais perto da metade desses 30% do que de preservar
os 30. E isto obviamente justificaria uma estratégia completamente oposta dessa
que ele tá adotando. Ele não precisa manter o que tem, ele precisa é conquistar
o que não tem. E em algum sentido, reconquistar o que perdeu. E isso, a tal da
reunião definitivamente, não faz.
No máximo a reunião açula
esse núcleo de idiotas que gosta de ouvir idiotices. Mas essa classe média mais
educada, mais informada, que saiu da base do governo, que passou a achar que
ele é ruim ou péssimo, essa turma definitivamente não volta: porque ele fala
palavrão, porque ele é grosseiro, porque ele não mostra nenhuma capacidade de
resolver os problemas do país. E ainda tá envolvido nesse mundo dele, da turma
dele lá no Rio de Janeiro.
Moro perdeu ou ganhou?
Claramente perdeu. Um cara que queria ser a expressão da moralidade, da ética,
das boas práticas morais, o que que ele estava fazendo naquela reunião? Por que
que ele não se levantou e saiu? E por que que ao sair ele não pediu a demissão?
Pelo contrário, o que ele fez foi tentar ficar. Então como é que alguém que
luta pra ficar naquele mundo pode achar que sai bem? Ele sai sujo, porque ele
se sujou – se é que ele não foi sempre isso que ele mostrou ser durante esse
período em que foi unha e carne com Bolsonaro.
Então, perdeu Bolsonaro –
porque não sabe o que fazer, porque não tá entendendo o que tá acontecendo com
ele, porque acha que tem que ficar mantendo uma coisa que ele não tem mais. Ele
teria é que fazer uma outra coisa, mas não sei se ele consegue, não sei se ele
tem capacidade intelectual ou bom senso pra pensar uma estratégia mais adequada
a ele mesmo.
Perdeu o Moro porque mostrou
ser o que no fundo sempre foi: um oportunista, um picareta que usou da sua
força no sistema judiciário, apoiado por uma parte grande da grande imprensa
brasileira e se tornou esse personagem melancólico, que sai com o rabo entre as
pernas depois de ficar participando de uma reunião como aquela.
Perdeu todo mundo. Esses
milicos que estão achando que estão prontos pra governar o Brasil, eles são uns
incompetentes de marca maior. Tem um tal de Braga Neto que posa de figura
competente, a pessoa vê o que o cara fala, e você vê que é um completo
analfabeto em questões do que seria necessário pra este momento.
Tem esse general velho que
fica falando mal da democracia, só ameaça todo mundo. Enfim, essa geração de
milicos, sinceramente, é das piores, das que mais atrapalham a tentativa de
recuperar a imagem especialmente do Exército depois de vinte anos de ditadura.
E aquela fauna de idiotas do
Bolsonaro perdeu porque não tem o que ganhar, é tudo um bando de completos
desqualificados.
E é claro que perdemos todos,
porque você ter um país que é governado por gente como aquela é profundamente
chocante. E chocante ver que nós estamos no meio de uma crise sanitária,
humana, gravíssima. Da qual nós não vamos sair tão cedo. Com essa maneira completamente
despropositada de condução da epidemia que está sendo feita no Brasil.
Nós já somos o segundo país
com o maior número de casos, vamos ser em breve o primeiro em número de mortos
e nós não vamos sair tão cedo dessa situação, de uma epidemia que não acaba.
Porque não funciona assim.
E as consequências disso na
economia nós estamos vendo. Esse bestalhão desse Paulo Guedes achando que uma
receita velha, superada, anacrônica, que, sei lá, deu certo no Chile no auge de
uma ditadura, de um golpe militar cruel como foi aquele lá do Pinochet, que foi
o único lugar do mundo que aquele tipo de proposta funcionou. Lá parou, não
funcionou em lugar nenhum do mundo, e neste mundo pós pandemia, menos ainda.
Então, esquece. Nós não vamos sair tão
cedo da crise sanitária e não vamos sair tão cedo da crise econômica.
E é por essas e por outras
que perdemos todos ao ver que é assim que nós somos governados.
*Fonte: Blog Nocaute, do escritor e jornalista Fernando Morais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário