Por
Altamir Pinheiro
Enxergando
por um certo ângulo, de certo ponto de vista ou até mesmo por
um olhar retrospectivo, todos hão de convir que, o western sempre foi uma
categoria cinematográfica pródiga em construir uma ficção na qual homens viris
e mulheres submissas são lugares-comuns em películas desta modalidade que é
conhecida como filmes de bangue bangue, caubói ou faroeste. Agora, não se
há de negar ou ressaltar a importância positiva no que diz respeito a
representação feminina nesse papel de coadjuvante. O ator Randolph Scott sempre
achou ou costumava afirmar que em um enredo típico de western, ““É a mulher que
faz o herói agir do jeito que ele age. Ela é o centro de tudo. Em si mesma,
claro, ela não tem a mínima importância”, observava ele. Sempre pragmático e honesto,
o ótimo diretor Anthony Mann foi autor de um depoimento franco. “Uma mulher
precisa sempre ser incluída no roteiro, senão o western não funciona como
gênero.” Poucos diretores se comportam desta maneira, basta ver os faroestes do
italiano Sergio Leone, quando a atriz Claudia Cardinale interpreta único
papel feminino em sua esplendorosa obra.
O
jornalista e professor do curso de cinema da Universidade Federal de
Pernambuco(UFPE) que é doutor em Comunicação Social, Rodrigo Carreiro,
nos faz enveredar por um caminho auspicioso e bastante oportuno
quando nos retrata e relata ao retornar no passado e traça uma cronologia
sucinta da presença feminina no western. Essa retrospectiva pode começar,
aliás, no lendário filme de John Ford, No Tempo das Diligências(1939),
quando o diretor mapeou e definiu a maioria dos personagens clássicos que o
gênero explorou nas décadas seguintes: o herói altruísta e valente, o médico
beberrão, o cínico vendedor de uísque, o militar engomadinho, a dama
altiva (e incapaz de dizer um “não” a qualquer ordem proferida por alguém do
sexo oposto), a prostituta envergonhada de não ser igual à dama, e assim por
diante.
Nos
anos seguintes, o western construiu seus próprios mitos e a figura
feminina foi mantida, de modo geral, como uma participante passiva dos enredos.
Em outras passagens, ainda temos como algumas exceções A trama de Johnny
Guitar (1954); antes, o filme Pimenta (Calamity Jane),
dirigido em 1953 por David Palmer. Mas esse filme, como diz o professor Carreiro,
foi concebido como veículo de merchandising para faturar em cima da fama
da cantora Doris Day (que interpretou o papel-título); tivemos também o
sangrento spaghetti western, Os Violentos Vão Para o Inferno de Sergio Corbucci
(1968); e Quando os homens são Homens (1971), que traz Julie Christie como uma
prostituta que ensina um apaixonado Warren Beatty a gerenciar um prostíbulo;
nos anos 90 a representação feminina no gênero ganhou contornos com Os
Imperdoáveis(1992) do excepcional Clint Eastwood (foi diretor e
protagonista), no qual um grupo de prostitutas enfurecidas com o ataque que
desfigura uma delas oferece uma recompensa ao pistoleiro que matar o agressor.
Recentemente apareceu na galeria do gênero, a projeção Dívida de Honra que é de
2015. Todos esses filmes acima citados foram
alguns poucos western que, efetivamente, remaram contra a
maré.
Ícone
de beleza, com belos olhos verdes e cabelo ruivo, a irlandesa Maureen O’ Hara é
considerada a mais atuante ou destacada mulher em filmes faroestes.
Foi elogiada por cineastas como John Ford, com quem fez cinco filmes. Apelidada
no meio cinematográfico de “A rainha do Technicolor”, Maureen foi a
protagonista de um dos beijos mais antológicos da história do cinema, no filme
“Depois do Vendaval”, de 1952, numa cena em que tenta escapar de um casebre e é
puxada de volta para dentro e, em seguida, para os braços e os lábios de John
Wayne. Ficou conhecida por interpretar heroínas fortes e apaixonantes com
notável sensibilidade. Trabalhou 5 vezes com o diretor John Ford em
filmes faroestes e 7 com John Wayne, seu amigo de longa data. O’Hara trouxe um
temperamento forte, uma língua afiada e sua obstinação para seus papéis. Apesar
de suas atuações memoráveis, ela nunca foi indicada para um Oscar. Em 2014, no
entanto, ela recebeu um Oscar honorário pelo conjunto da obra e mostrou que
ainda mantinha o seu temperamento forte aos 94 anos, ao protestar quando seu
discurso de aceitação foi cortado e ser conduzida para fora do palco em sua
cadeira de rodas. Maureen O’ Hara morreu um ano depois de receber o prêmio aos
95 anos de idade.
A
psicanalista britânica Laura Mulvey é uma das teóricas sobre cinema mais
importantes em relação a como as mulheres são representadas na tela. Mulvey
juntou cinema e psicanálise para explicar porque os personagens femininos
servem ao bel-prazer do olhar masculino, em primeiro e, às vezes, único lugar.
A psicanálise é usada para desmascarar como a sociedade dominada por homens
estrutura o cinema. Não é para menos. O cinema é uma indústria feita por
homens, para homens e sobre homens. E vai mais além a psicanalista quando
afirma com todas as letras que, o cinema da modalidade faroeste não é apenas
feito por homens, mas sim por homens heterossexuais. A psicanalista britânica inspira-se
em filmes de faroeste para rever alguns aspectos, pois nas histórias de
faroeste, geralmente, utilizam alguns pontos dos contos clássicos, como o herói
invulnerável e o casamento como final feliz. O casamento é tido como um assunto
tipicamente feminino. Elas é que querem encontrar o príncipe encantado, machão,
viril e casar.
Poucos
filmes conseguem ilustrar o imaginário tradicional de virilidade como os
famosos faroestes. Os personagens principais são homens. Neste território sem
leis, os desejos dos homens não têm limites e as desavenças são acertadas na
base da munheca, da bala e do puro machismo. Porém, em se tratando da mulher na
cinematografia mundial, o texto será encerrado dando-se uma guinada de 180
graus ao comentar sobre alguns vestidos que simbolizaram uma
época do cinema hollywoodiano, a começar pelos figurinos de Marilyn
Monroe em O Pecado Mora ao Lado(1955), o vestido cor de marfim ficou famoso
naquela cena do metrô; já o arrebatador vestido preto usado por Audrey Hepburn
em Bonequinha de Luxo(1963) era sem mangas muito elegante e incrivelmente
básico. Feito em cetim, era complementado com o uso de acessórios como o colar
de pérolas, e longas luvas também em cetim; logo em seguida vem o
conhecido vestido usado por Vivien Leigh em E o Vento Levou (1939).
Ele, segundo os estilistas, é um modelo que foi feito em tecido
leve cristal e seda de cor verde que trazia estampas florais e chiffon. Essas
são apenas algumas amostras dos mais famosos e lindos vestidos da
história do cinema americano que essas atrizes modelos desfilaram nos palcos e
telonas nos salões de cinemas desse mundão de meu Deus.
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