Por Milton Pinheiro, do blog da Boitempo
“No limiar do século
XXI, o ex-presidente se transformou em um preso político do novo ciclo da
direita no Brasil. Portanto, a defesa da sua liberdade e dos seus direitos
políticos pode ser um passo inicial para a construção da frente única contra as
contrarreformas, pelos direitos dos trabalhadores/as, argamassa necessária para
derrotar as pautas regressivas, o obscurantismo e avançar na construção de uma
plataforma de lutas que movimente a classe trabalhadora com toda as suas
especificidades.”
O Brasil está passando por um longo e
movimentado processo de ruptura institucional, qualificado como golpe político,
articulado e desenvolvido por agências situadas na ordem do capital, nos
aparelhos privados de hegemonia e no aparato de Estado. Trata-se da mais
severa, deliberadamente confusa, e bem-sucedida ação política incentivada pela
mídia conservadora e reacionária; fomentada pela leniência militante do poder
judiciário; pela prática de organização política do Ministério Público e por
uma conduta seletiva/dirigida dos aparatos de repressão: Polícia Federal e o
braço “escravocrata” do Estado capitalista no Brasil, a PM.
Essa conjuntura advém das contradições
que romperam a cena política brasileira em 2013, elencadas, por um lado, a
partir das necessidades básicas e falta de prioridades na política pública
brasileira diante dos investimentos na Copa do Mundo entre nós; e por outro,
conformados nas hordas conservadoras e reacionárias da pequena burguesia que
alimentavam, já há algum tempo, o fascismo cotidiano e que identificavam nos
direitos sociais em disputa o problema da sua decadência. Esse segmento social
conseguiu abrir um novo ciclo da direita no Brasil. Contudo, esse escaldante
fenômeno social não foi rapidamente identificado, portanto, tergiversou-se
sobre o papel dos conflitos e quem estava em disputa pelas ruas do país,
permitindo que a “aberração” obscurantista tomasse conta do espaço público.
Nesse contexto, a quadra da luta de
classes impactada pelo apassivamento governista, e por uma imensa dificuldade
em desvelar a cena política brasileira por parte da esquerda socialista,
confundiu o sentido das contradições em curso numa conjuntura cada vez mais
turva e com uma rápida modificação na relação de força entre os blocos em
disputa: a direita em seu novo ciclo, o governo burgo-petista, a esquerda
socialista e o revolucionarismo pequeno-burguês de algumas organizações do
campo da esquerda.
Durante esse longo período, quando a
conjuntura estava em chamas, o processo da conciliação de classe foi reafirmado
no velho estilo do pacto da autocracia burguesa tão presente na história
política do Brasil, não permitindo que o PT e a CUT entendessem qual era a
contradição principal e secundária das lutas em curso. Esperou-se nas mesas
palacianas que os acordos realizados pela cúpula, estabelecidas no balcão da
pequena política, solucionassem os graves problemas políticos e seus vetores
econômicos (incentivados ou não). O lapso temporal, na célere conjuntura, foi
domado pelo impactado da presença de massa das hordas proto-fascistas; o balcão
da política avançou com o comportamento de lumpesinato do parlamento; as
principais frações da burguesia, embora desarticuladas dos negócios da política
no parlamento, perceberam que o governo ilegítimo e o Parlamento de comércio
aprovavam ao toque das ações de exceção o mais genuíno produto dos seus
interesses. Criou-se a zona de conforto para que a burguesia interna,
consorciada ao imperialismo, mesmo com muitas contradições entre suas frações,
pudesse criar condições para ampliar e revalorizar as taxas de lucro no curto
prazo. O bloco burguês conseguiu o que queria: acelerar a conquista do Estado
para a nova formatação da sua ordem jurídica. Construíram a ruptura dentro da
ruptura e estão “aprimorando” a democracia formal para “legalizar” as suas
ações de classe e criminalizar a luta social.
A conjuntura em curso, de alto impacto
pelas contradições da disputa política, tem “renovado” a caracterização do
fascismo. Dentro da sua prática cotidiana, o fascismo se apresenta a partir da
xenofobia, do ataque aos sujeitos sociais que são enquadrados no campo das
opressões, em um novo pentecostalismo que centrou-se na adoração ao deus Manon
(culto ao dinheiro), com ideias e práticas regressivas na vida social, no
comportamento obscurantista e na influência dentro da disputa ideológica que
tem movimentado a mídia burguesa. Estamos vivendo sob o ataque de hordas que
querem a regressividade nas artes, na cultura, nas ciências e que tentam
avançar para construir uma cultura reacionária que colocará em risco as
relações humanas ao se consolidar seu projeto de barbárie capitalista. Contudo,
permanece ainda muito válido a diversa caracterização do fascismo apresentado
pela teoria social marxista. Portanto, a partir dessa lógica categorial, e sua
aderência na realidade concreta, ainda não estamos vivendo um ciclo clássico do
fascismo entre nós.
O campo da disputa de classe apresenta
uma relação de força favorável ao bloco burguês e seus agentes. Essa
correlação, em aberto, demonstra a necessidade histórica de construção de um
bloco proletário que precisa movimentar os trabalhadores, os pobres da
periferia e os oprimidos de várias conformações para tirar o protagonismo
político da burguesia interna e derrotar as ações do fascismo cotidiano. É dentro
dessa relação de força que se colocou, de forma decisiva, o papel do judiciário
e do ministério público na criminalização do ex-presidente Lula. Agindo de
forma seletiva, orientados por um profundo preconceito de classe, alargando as
balizas da autocracia burguesa, essas agências do Estado capitalista operaram
com as diversas manipulações políticas e ideológicas para criar o ápice do
processo de reconfiguração da ordem capitalista e sua democracia formal: a
prisão de Lula.
Esse confronto promovido pelo aparato
de Estado, a serviço da disputa ideológica, não previa que a classe
trabalhadora, os pobres e oprimidos movimentassem a esquerda brasileira para
agir de forma unitária, possibilitando a construção da mais ampla unidade em
defesa das liberdades democráticas e dos interesses populares. Está sendo
construído o necessário enfrentamento. Trabalhadores e movimentos populares
começaram a desvelar a cena política; cercaram Lula de solidariedade de classe,
afirmaram que podemos resistir e enfrentar o inimigo onde ele se encontrar. A
batalha de São Bernardo, em São Paulo, elevou a política para um novo patamar
da relação de força. Contudo, uma lição se mostrou muita viva: as praças e as
ruas teriam sido os lugares mais qualificados para enfrentar o bloco burguês em
vez da conciliação de classe e da promiscuidade da política.
A burguesia, com seu aparelho de
Estado, nunca informou que está prendendo os divergentes por questões
políticas. No Brasil do século XXI, o discurso da corrupção tem sido o
combustível mais explosivo que a lógica corrupta do Estado capitalista
encontrou para tergiversar sobre a política e construir novos ciclos de poder,
colocando o cabresto nos lugares comuns como nova roupagem para dominação dos
subalternos. Todavia, dessa vez, abre-se a possibilidade para que os
trabalhadores e o povo pobre possam entender que o combate a promiscuidade do
Estado capitalista não tem fim dentro da ordem do capital, precisamos avançar
na autoconstrução proletária.
A ordem do capital burlou a
constituição, feriu a democracia formal, construiu a ruptura dentro da ruptura
institucional e golpeou o chamado Estado de direito do fetiche capitalista. A
contradição de classe está afirmando que precisamos tirar as devidas lições
desse processo. Temos muitas hipóteses, contudo, algumas foram desveladas: a
primeira, é que o Estado capitalista é uma ditadura de classe; a segunda, é que
o processo de exceção das regras da ordem burguesa se constrói de forma
paulatina e que a conciliação de classes fermentou a ampliação desse quadro; a
terceira, Lula, agora descartado, foi identificado como inimigo de classe.
Portanto, no limiar do século XXI, o ex-presidente se transformou em um preso
político do novo ciclo da direita no Brasil. Portanto, a defesa da sua
liberdade e dos seus direitos políticos pode ser um passo inicial para a
construção da frente única contra as contrarreformas, pelos direitos dos
trabalhadores/as, argamassa necessária para derrotar as pautas regressivas, o
obscurantismo e avançar na construção de uma plataforma de lutas que movimente
a classe trabalhadora com todas as suas especificidades.
A possibilidade da unidade das forças
populares que está em construção no Brasil, em especial a partir do processo de
prisão do ex-presidente, tem que levar em conta o projeto dos trabalhadores/as,
a situação dos oprimidos/as e o campo de luta que queremos construir. Afinal,
abre-se uma possibilidade a partir desses momentos de condensação de crises que
estamos vivendo, para que o bloco proletário possa despertar para lutar pelas
pautas progressistas, agindo com firmeza e determinação. No primeiro momento,
dentro dos marcos da desobediência civil e no segundo momento, lutando pelo
Poder Popular.
*Milton Pinheiro
é pesquisador da história política brasileira, professor da Universidade
do Estado da Bahia e autor/organizador, entre outros, do livro Ditadura: o que resta da transição (Boitempo, São
Paulo, 2014). É membro do Comitê Central do PCB.
APOIO:
PCB (Partido Comunista Brasileiro) de Garanhuns/PE
Lula,Lula,Lula!!! Diariamente esse nome é escrito, falado, ovacionado, perseguido...
ResponderExcluirPorquê será?
Até quem não gosta de Lula, fala sobre Lula. Diz que aprendeu com Lula e sentem não fazerem parte da GRANDE FAMÍLIA LULA, espalhada pelo Mundo Inteiro.
Êita Lula, menino danado de Caetés.
Tem até "uns" que bafejam Lula.
Mas estes "uns", são apenas e nunca deixaram de ser "nenhuns".
Vai firme Lula. A gente prefere Você.
“ALGUÉNS” ou “ALGUNS” DEVERIAM COLOCAR O SOBRENOME DO PAU DE ARARA DA VAGE GRANDE, POIS FICARIA TÃO EM CONTA. O MEU MESMO FICARIA UMA GRACINHA. JÁ PENSOU ASSINAR POR: Altamir Lula Pinheiro... PARA MELHOR ABRILHANTAR O NOME, QUE TAL ACRESCENTAR O “SILVA”. NÃO!!! NÃO DARIA CERTO... AFINAL DE CONTAS, ONDE SILVA ASSINA, BORRA TUDO!!!
ResponderExcluirP.S.: - Que país PAUPÉRRIMO este nosso, não!!! Tão RICO em valores morais e éticos como o MARMITEIRO LULA, mas tão POBRE de valores naturais...
Atenção!!! Responda esta pesquisa marcando um X em uma das alternativas abaixo: VOCÊ TERIA CORAGEM DE COLOCAR O SOBRENOME "LULA" NA SUA ASSINATURA?!?!?!
ResponderExcluir1 – Eu não sou cahorro, não!!!
2 – Seria um grande prazer constar o nome LULA em minha assinatura;
3 – Jamais sujaria ou mataria minha árvore genealógica com o sobrenome de um Seboso.