Por
Michel Zaidan Filho*
Uma das políticas mais
redistributivas criadas pela Constituição de 1988 foi a seguridade social. Ela
é um mecanismo de compensação social do Estado republicano para beneficiar
aqueles que não têm renda ou de baixa renda.
O instituto da Seguridade
Social é um tripé constituído pela saúde pública (SUS), Assistência Social
(LOAS) e a Previdência Pública (INSS). Nem sempre o Estado cuidou de
providenciar as fontes permanentes de financiamento da Seguridade Social. Por
isso foram criadas taxas e contribuições (com finalidade para-fiscal) cujo
objetivo era arrecadar fundos ora para saúde (CPMF), ora para a assistência
social (pis, cofins, loterias etc).
No caso específico da
Previdência Social, existe uma ciência econômica chamada “atuária”, que faz o
cálculo de quanto é preciso cobrar dos servidores e trabalhadores, num certo
prazo de tempo de vida útil (para a produção), de forma a assegurar uma
aposentadoria digna para os futuros aposentados. Há, portanto, um contrato
atuarial que rege o sistema público e privado da Previdência Social. Não é
favor do Estado ou de governo que os trabalhadores e servidores públicos
(municipais, estaduais e federais) se aposentem, depois de 30, 35 ou 40 anos de
serviços prestados. É um direito líquido e certo de cada um/a requerer sua
aposentadoria, uma vez cumprido o prazo legal para se aposentar.
A Previdência Social implica
um pacto Inter geracional entre nós, os que nos antecederam e os que vierem
depois de nós. Os nossos antecessores pagaram/contribuíram à Previdência para garantir o nosso direito
previdenciário de hoje. E nós, estamos fazendo a mesma coisa com a geração futura.
É assim que a coisa funciona.
Tem havido muita falácia,
mentira e propaganda enganosa nessa “estória” de que a Previdência social é
deficitária. Isso não é verdade. Mesmo considerando as aposentadorias especiais
(como a do trabalhador rural, das donas de casa ou dos idosos), todos os relatórios de caixa da Previdência
mostram à saciedade que há superávit, não déficit.
Ocorre que há graves
problemas de gestão dos fundos públicos e privados da Seguridade Social. Parte
da receita foi desvinculada para servir de pagamento a outras despesas que não
têm nada a ver com a Previdência Social, como por exemplo, o pagamento dos
juros da dívida soberana da União – que hoje é trilionária e serve, sobretudo
para engordar os cofres dos portadores desses
papéis.
Se o governo quisesse
aumentar a receita, bastaria autuar os grandes sonegadores e fraudadores da Previdência
Social, ao invés de editar “refins” generosos com os fraudadores, como a JBS, a
GLOBO, a Mitsubishi, Bradesco etc.
O governo não faz a sua parte
e resolve transferir o ônus das contas públicas para os trabalhadores,
servidores públicos e aposentados. A propósito, as alíquotas – que já são
confisco salariais – do imposto de renda e do INSS subirão respectivamente para
35% e 14%, numa estrutura tributária reconhecidamente regressiva. Mostram os
estudos que o caso do Brasil é o de uma pirâmide social invertida: só quem paga
imposto no Brasil é trabalhador, servidor público e, agora, até os aposentados.
Os ricos, muito ricos não precisam pagar impostos. Fazem o que se chama
“planejamento tributário” e “elisão fiscal”.
A população brasileira,
segundo os censos do IBGE, está envelhecendo e vivendo mais. Isso é ruim ou
bom? Para um governo nazista, preocupado em criar uma espécie de “biopolítica”
no nosso país, isso é muito ruim. É
preciso encontrar urgentemente um meio de eliminar esse imenso contingente de
improdutivos, doentes, perdulários que são os clientes da seguridade social.
Estas propostas de mudança da Previdência Social rumam na direção de uma faxina
geracional da população brasileira, sob a alegação da insustentabilidade do
Previdência Social. Ora, viver muito e bem, depois de ter servido ao país e à
sociedade, é um direito legítimo de cada um de nós. Não é ser um fardo inútil e
dispendioso a ser carregado pelos contribuintes.
Mas o objetivo central desse
plano diabólico é privatizar a previdência pública, através do estímulo
(obrigatório) da migração dos contribuintes previdenciários para “fundos de
pensão” privados, que trabalham como empresas de capitalização, operando em
bolsas de valores. Segundo esses Planos de capitalização, não há mais
benefícios fixos, e sim contribuições fixas. A rentabilidade dos benefícios
depende da valorização das aplicações no mercado financeiro. Imagine o que pode acontecer com as aposentadorias das pessoas,
se depender das especulações financeiras nos mercados de capitais. Quem não se lembra da CAPEMI? Da VASP?
Se esses atuais pregoeiros
das “mudanças”, não passem de meros “moedeiros falsos”, e falassem
francamente para a população, diriam:
nós vamos transformar a sua aposentadoria num mero plano de capitalização, sem
benefício definido e sujeito às oscilações do mercado financeiro! E
pronto! Mas não têm coragem de confessar
o crime de lesa-sociedade que estão prestes a cometer, em nome da
sustentabilidade financeira da Previdência Social!
*Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Não adianta cobrar ninguém. Eu adoraria ver a Globo quebrar tendo que pagar suas dividas mas a previdência do jeito que está, vai cair sozinha. Pois ela ao invés de somar a capitalização de recursos como uma poupança ao longo da vida do trabalhador, estabelece que os mais jovens pagam a aposentadoria dos mais velhos os mais velhos vão se aposentando na base da falcatrua e da propina para os presidente de sindicatos rurais e os trabalhadores de verdade que se fodam. Isso é uma piramide igualzinha à "telexfree"!
ResponderExcluirEste é o assunto que precisa ser muito bem esclarecidos para os que gostam de ler um bom artigo.Valeu,Professor!
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