Por Michel Zaidan Filho*
Segundo Aristóteles, a classe
média é a salvação da democracia. Para ele, ela atenuava a desigualdade social.
Quando maior fosse, impedia que uma pequena minoria fosse muito rica; e a
grande maioria pobre. Ou seja, quando mais extensa ela fosse, mais o risco de
um desequilíbrio social seria evitado. Este sábio pensamento do estarigita
poderia ter evitado a corrupção da democracia ateniense e o advento dos
demagogos e tiranos na ágora de Atenas. Infelizmente, não foi o que
aconteceu. Caiu a democracia, Atenas tornou-se imperialista e foi derrotada por
Esparta.
No resto do mundo, quando se
fala em “classe média” é o terceiro estado, o povo e a burguesia, ou num
estrato da população que é conhecido como trabalhadores de “colarinho branco”, para
se diferenciar do marrom dos macacões dos operários da indústria. Nos Estados
Unidos onde se tem notícia da maior classe média do planeta, esta classe
costuma ser a âncora do capitalismo (e da economia de mercado) e da democracia
americana. Para onde for a classe, vai o regime político dos “Yanques”, que se
gabam de ter um regime político estável em razão da força de sua classe média,
enquanto consumidora e eleitora.
No Brasil, entretanto, as
coisas são muito diferentes. A única vez que esses setores tiveram a veleidade
de se revoltarem contra o regime, exigindo mais participação na economia e na
política, foi na Velha República, com o “Tenentismo”. De lá para cá, o aparelho
de Estado cresceu tanto que absorveu o protesto da classe média, dando a cada
um de seus membros um emprego público ou cargo. Por isso, que há aqueles que
definem a Revolução de 1930 como uma revolução dos setores médios (Hélio
Jaguaribe, Virgílio Santa Rosa).
O drama da classe média no
Brasil começa pela sua classificação sociológica: “classe média” ou “classes
médias”. “Classe” ou “categoria social”. Setores médios? “Classe média baixa”,
“classe média média”, “classe média alta”? Uma nova “classe média” criada no
governo petista? – Afinal, como conceituar esse extrato da população
brasileira? – (nesse aspecto, as teses de Décio Saes procuraram trazer uma
contribuição ao debate do estatuto teórico da classe média).
Mas há uma constatação inevitável, de 1964 em
diante essas “classes” passaram a ter um comportamento político conservador, de
direita; servindo muitas vezes de mera massa de manobra de regimes
autoritários: quem não se lembra das passeatas com Padre Peyton, com Deus, pela
família e pela liberdade? Ou do Integralismo? Ou da TFP? – Inegavelmente, as
manifestações políticas das “classes médias” no Brasil têm sido conservadoras,
a favor da ordem (ou do que entendem por ordem).
A razão disso está em que
esses setores são atravessados por uma forte ambiguidade: não são aceitos pelo
andar de cima da sociedade, embora os invejem e desejem conquistar o seu
“status”, e nem querem se parecer com os do andar de baixo, temem o fantasma da
“proletarização”.
Cada vez que há uma
movimentação social no andar de baixo,
“as classes médias” reagem de forma conspirativa, apoiando partidos,
discursos e movimentos de direita e de extrema-direita. Pensam ingenuamente que
apoiando a espada ou a cruz, estarão protegidas da “proletarização”. Não sabem
que a sua função política é ser mera “bucha de canhão”, para a defesa dos
privilégios dos mais ricos e das grandes empresas. Fazem o trabalho sujo para
os outros, e no final não ganham nada.
Esse modelo foi estudado por
Marx, no “Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte”. Só que no caso da França, o
papel de “classe-apoio” para os aventureiros e candidatos a ditadores foi
desempenhado pelos “camponeses”, iludidos com a saga da família Bonaparte.
Apoiaram a eleição de um aventureiro, que se tornou imperador da França, que no fringir dos ovos foi fazer a política das
finanças e da alta burguesia francesa. E os camponeses, continuaram
endividados.
Esse modelo de análise de
aplica como uma luva ao caso brasileiro.
Aqui, a chamada “classe-apoio” é a classe média. Que, depois da
revolução de 1930, viu aparecer um novo ator político: a classe operária e seus
partidos, cortejada pelos políticos urbanos. A classe média ficou de escanteio.
Com inveja dos ricos e com ódio dos pobres. Seu imaginário é o “american way
life”: mandar os filhos para a Disneylândia, fazer compras na Flórida e tirar
fotos no Central Park. Coitados! Têm vergonha de ser brasileiros, mas não de
trazerem “muambas” dos EUA ou emigrar para lá, para limpar latrinas e tapetes
de americanos gordos e mal-educados.
É essa classe – já denominada
de “vaqueira”, por um filósofo – que confunde o acesso a bens de consumo
duráveis com cidadania. Mas não passa de um “Brucutu” urbano, sem educação,
civilidade, noção de direitos etc. Comporta-se como “vaca de presépio” nas
manifestações de rua contra a democracia, sem se dar conta da manipulação
política que sofrem dos meios de comunicação de massas.
O Brasil não está só
caminhando para Cristo, como dizem os evangélicos neopentecostais, está avançando
a passos largos para o fascismo verde-amarelo, condimentado pelos preconceitos
de classe, de gênero, de orientação sexual.
Precisamos reagir diante
dessa catástrofe que ameaça desabar sobre as nossas vidas.
*Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da UFPE.
Afora o blablabla a diferença entre os Estados Unidos e o Brasil, é que lá o que é chamado de classe média, trata-se de pessoas que simplesmente trabalham e recebem o justo por seu trabalho. Já aqui o trabalho não tem valor nenhum e a chamada classe média real é composta de funcionários públicos e de golpistas que usam o tráfico de influência para conseguir benesses junto ao estado, seja pessoalmente ou através de empresas e corporações.
ResponderExcluirA tal classe média petista é composta por multidões de dependentes do Estado e depender do Estado para sobreviver por si só "já é estar na miséria", logo o Brasil continua uma multidão de miseráveis.
Não existe classe média sem empreendedorismo. E no Brasil o que nomeiam de empreendedor não passa de pagador de propinas.
E isso é derivação do pensamento estatista de esquerda que ao contrário do que se diz no texto, é preponderante no Brasil desde o primeiro dia da República militar de cunho positivista.