Eurípides Waldick Soriano nasceu em Caitité, cidadezinha com
pouco mais de 50 mil habitantes, no interior da Bahia.
Ainda criança foi abandonado pela mãe e este fato marcou toda sua vida.
Antes de se tornar um artista conhecido, Waldick trabalhou como lavrador,
garimpeiro, motorista de caminhão engraxate e ajudante de feira.
Foi para São Paulo, tentar a vida como artista, quando já tinha 27 anos.
Emplacou seu primeiro sucesso no final dos anos 50, com a música “Quem És
Tu?” e na década seguinte tornou-se muito popular com canções como A Carta,
Tortura de Amor, A Dama de Vermelho e Paixão de Um Homem.
Waldick era fã do personagem Durango Kid, dos filmes de faroeste, e a
partir dele adotou o jeito de se apresentar: sempre usando roupa e chapéu
preto, além de óculos escuros.
Na época em que o cantor de Caitité era popular, ainda não era conhecida
a expressão brega e Waldick Soriano era rotulado como um artista “cafona”.
Ele, como outros do mesmo estilo musical – Agnaldo Timóteo, Reginaldo
Rossi, Odair José, Evaldo Braga, Paulo Sérgio e Nélson Ned – nunca foram
levados a sério pela crítica especializada, não emplacaram músicas nas trilhas sonoras das novelas, nem foram reconhecidos pelo papel importante que exerceram junto às classes populares.
Coube ao jornalista e escritor Paulo César Araújo, autor de uma biografia
de Roberto Carlos, censurada pelo “rei”, fazer justiça aos bregas, quando da
publicação do livro “Eu Não Sou Cachorro Não”, cujo título é uma homenagem a
Waldick e a uma de suas músicas mais conhecidas.
No livro de Paulo César, que se tornou um clássico sobre a MPB, os
cantores românticos dos anos 60 e 70 são mostrados na sua real dimensão e é
apontada uma forte carga de preconceito contra eles, pela origem humilde e por
não serem engajados em causas políticas.
Na época da ditadura militar, segundo o historiador, artistas como
Waldick Soriano, Odair José e Paulo Sérgio estavam muito preocupados com a
sobrevivência e não tinham como participar de movimentos políticos.
Waldick estudou apenas até o quarto ano primário (hoje 4ª série do ensino
fundamental).
“Minha universidade foi a vida”, disse o cantor no documentário “Sempre
no Meu Coração”, em que a atriz Patrícia Pillar fez um tributo ao artista, que
já estava velho e doente.
Ele morreu em 2008, aos 75 anos, de câncer de próstata.
Teve ao longo da vida 14 mulheres. Com a primeira viveu apenas dois meses, mas com outra, Marinês (não se trata da cantora de forró), conviveu por por 17 anos, numa casinha simples no Piauí. “Mas nunca
encontrei a tal felicidade”, desabafou numa emissora de TV.
Um dos seus filhos, Waldemar Soriano, numa entrevista ao apresentador
Geraldo Luís, da Record, revelou que o pai morreu pobre, sem deixar dinheiro, casa ou
qualquer bem.
O enterro de Waldick Soriano, segundo Waldemar, foi pago pelo cantor
Agnaldo Timóteo.
Waldick gravou 82 discos e compôs 700 músicas, segundo ele mesmo
confessou.
Uma de suas canções mais conhecidas, “Tortura de Amor”, foi censurada
pela ditadura militar, porque os gênios do regime imaginaram que a canção
trazia uma “mensagem cifrada” sobre o que estava acontecendo nos porões, na
época.
Esta música foi regravada, anos depois, por Maria Creuza, Altemar Dutra,
Agnaldo Timóteo e Raimundo Fagner.
Além de suas próprias músicas, o cantor baiano gravou composições de
outros artistas, inclusive um disco com canções de Roberto e Erasmo Carlos.
“Sempre no meu Coração”, o tocante documentário feito por Patrícia
Pillar, termina com uma vigorosa interpretação de Waldick da música “Cavalgada”,
uma das mais inspiradas do rei e seu parceiro.
*Foto de Waldick no filme dirigido por Patrícia Pillar. Reproduzida do site "Cinema 10".
*Paulo César Araújo revela que o cantor Odair José foi um dos mais censurados pelo regime militar. "Chico Buarque era censurado por motivos políticos e Odair por questões morais", explicou o jornalista e historiador num programa de TV.
**Além do livro de Paulo César, indispensável para saber mais sobre Waldick e a música brega, no YouTube encontramos vídeos preciosos sobre o artista, inclusive o citado documentário de Patrícia Pillar.
*Foto de Waldick no filme dirigido por Patrícia Pillar. Reproduzida do site "Cinema 10".
*Paulo César Araújo revela que o cantor Odair José foi um dos mais censurados pelo regime militar. "Chico Buarque era censurado por motivos políticos e Odair por questões morais", explicou o jornalista e historiador num programa de TV.
**Além do livro de Paulo César, indispensável para saber mais sobre Waldick e a música brega, no YouTube encontramos vídeos preciosos sobre o artista, inclusive o citado documentário de Patrícia Pillar.
Vivi estes belos momentos vividos ouvindo a única rádio local,"A RÁDIO DIFUSORA DE GARANHUNS" e essas músicas faziam parte do repertório musical tocado na rádio DIFUSORA.
ResponderExcluirPor favor leva essa carta e diga por favor....as minhas primeiras namoradas foram através de cartas.Eram paixões para mais de metro,e as velhas canções faziam a gente sentir na alma o quanto era bonita amar e gostar de alguém.
Hoje o tempo mudou para pior.As músicas antigas ainda são as melhores para se ouvir cujas canções tem letra,conteúdo e melodia.
Parabéns,pela bela reportagem.Reviver o passado nos faz recordar e aprender um pouco mais.
Impressionante é ver que essas musicas que enalteciam a mulher e a elevavam quase ao patamar de divindade, são consideradas obras do machismo e da sociedade PATRIARCAL! Hoje com o "Feminismno Esquerdista raivoso" o que temos na musica moderna populista? Expressões como cachorra, rapariga, vagabunda. E quer saber eu acho é bem merecido!
ResponderExcluirPela reconhecida maldade, os generais cascas-grossas censuravam, torturavam e matavam só pra ver a queda! - E hoje vêm alguns debiloides defenderem candidaturas de indivíduos como Jair Bolsordinário! - É o que vemos, infelizmente!
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