Por Michel Zaidan Filho*
É verdadeiramente
desconcertante ver e ouvir a reação dos desavisados que se defrontam hoje com
as imagens de salas quebradas, livros desarrumados, equipamentos fora de lugar,
sujeira, pichação e a desordem reinante nas salas de aula do Centro de
Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco.
Triste fama tem esse Instituto
de Ciências Humanas: de local preferido dos suicidas a pardieiro universitário.
A quem cabe a responsabilidade de tamanha desolação? – Aos estudantes, que
lutaram bravamente (e sozinhos) contra a aprovação da PEC da morte (da morte do
ensino, da morte da saúde, da morte do investimento público etc.)? – Aos
professores, que abandonaram a instituição, quando se decretou a greve dos
docentes e a ocupação dos institutos? – A direita universitária – hoje
representada publicamente por um indivíduo chamado de Jungmann e que incrimina
o reitor pela sua leniência? – Aos infiltrados da polícia no movimento das
ocupações para desmoralizar o movimento?
À própria polícia que vem se
acostumando a invadir o campus, desrespeitando a autonomia universitária, ao
primeiro ruído de conflito? – Aos empresários do ensino pago, que torcem pelo
fim da universidade pública? Ou ao
próprio Governo Federal, que não nega – através de seu ministro avicultor – a
sua má vontade para com o financiamento da Universidade Pública?
Ao invés de, simplesmente
“emprenharem” pelos olhos e os ouvidos – como dizia a minha velha professora de
Português – tudo aquilo que escutam ou pensam que viram através do cenário da
destruição, deviam ter um pouco de senso crítico e não fazer coro com os que
declaradamente ou não, querem usar o movimento estudantil como arma contra a Universidade Pública,
inflamando os ânimos dos “idiotas da objetividade” que só sabem repetir o óbvio
e os chavões do senso comum: estudante é para estudar, estudante não é
baderneiro, vândalo, bandido ou coisa do gênero.
Belos professores esses.
Omitem-se diante da crise e tomam posição contra as vítimas da incúria
governamental. Devem ser da marca dos filisteus de Nietzsche que só enxergam os
pontos do “curriculum Lattes” (aquele que não morde), e nada mais. Não se
interessam pelo que se passa no entorno da instituição universitária, e acham
que os protestos são casos de polícia. Isso até perderem seus empregos, seus
salários, suas aposentadorias e as próprias salas de aula, com o fim da
universidade pública.
Com docentes como esses que
veem nos estudantes seus inimigos, a Universidade Pública não precisa de
inimigos. Já os tem bem instalados em suas entranhas. Corporativismo,
alienação, conformismo, medo e espírito de vingança contra os estudantes.
Universidade minada, por dentro e fora. Só os estudantes são os que ainda podem
salvar o patrimônio público, de lutar por ele, se sacrificar por ele. Seus
professores estão confortavelmente sentados nas poltronas da iniquidade e da
cegueira, na condição de juízes de instrução ou de carrascos.
” Viva los Estudiantes!”,
como dizia uma velha canção. Eles são o sal da universidade pública, que a
protege da podridão moral e política que campeia no campus universitário.
*Michel Zaidan Filho, natural de Garanhuns. É professor da UFPE na área de Ciências Humanas, escritor e cientista político.
muito bem.
ResponderExcluirCoisa mais linda de se ler.
ResponderExcluirAo expelir esse texto, o autor, talvez inconscientemente, prova o que ele próprio constata: a podridão moral e política que campeia no campus. Por sinal, achei ótima a expressão QUE CAMPEIA NO CAMPUS. Tinha que vir de um Michel.
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