Texto enviado ao blog por Paulo Camelo, integrante do Diretório Municipal de Garanhuns do Partido Comunista Brasileiro:
Os indícios de envolvimento do ex-presidente
Lula em esquemas de corrupção são mais um capítulo da grave crise brasileira,
marcada pelo esgotamento do governo Dilma e a degradação política e ideológica do
Partido dos Trabalhadores (PT) e seus satélites. Diante de uma conjuntura
econômica de recessão e redução das taxas de lucro, acompanhada de uma grave
crise social aprofundada pelo ajuste fiscal – com o crescimento do desemprego,
que já alcança cerca de 10 milhões de pessoas –, a burguesia passou a executar um
plano, articulado com setores da grande mídia, do Congresso Nacional e do
Judiciário, para tirar o PT do Palácio do Planalto e lançar as bases de um
possível governo fundado na aproximação do PSDB com o PMDB.
Apesar de o governo petista ter aplicado
servilmente as exigências da classe dominante - como demonstram a imposição dos
cortes nos programas sociais para pagamento dos juros da dívida aos rentistas,
a lei antiterrorismo, a entrega do pré-sal, o aprofundamento das privatizações,
a reforma da previdência, os ataques aos direitos trabalhistas e o abandono da
reforma agrária -, a gravidade da crise exige, do ponto de vista dos interesses
do capital, medidas mais profundas e rápidas, diante das dificuldades do
petismo em manter a política de apassivamento das massas. A combinação da crise
econômica com a crise política torna, neste momento, a continuidade do governo
petista incômoda e desnecessária para o “mercado”, cujos interlocutores
argumentam, através da mídia burguesa, que somente trocando de governo será
possível retomar o crescimento econômico.
A evidente parcialidade da Operação Lava-Jato,
que não aprofunda as investigações sobre membros do PSDB e do PMDB – apesar de
ter revelado importantes esquemas de corrupção e mesmo aprisionado empresários
–, tem promovido alguns espetáculos midiáticos, como foi a desnecessária
condução coercitiva de Lula para depoimento à Polícia Federal. Esta parcialidade
não é um fato isolado. Para a maioria da população trabalhadora, principalmente
jovem e negra, toda abordagem pela polícia é sempre coercitiva e sem qualquer
formalidade, assistência jurídica e muito menos o “devido processo legal”; não
raramente, acaba em arbitrariedade ou morte, como provam crescentes
estatísticas dos famigerados autos de resistência.
A corrupção é a forma mais aparente das relações
promíscuas entre o Estado burguês e os interesses econômicos capitalistas. O
plano de mudança de governo do qual a Lava-Jato é apenas uma peça, portanto, não
é um golpe contra a institucionalidade liberal-burguesa, mas uma das vias no interior
dessa institucionalidade para a imposição de governantes que melhor atendam,
circunstancialmente, os interesses do capital. Isto não significa subestimarmos,
neste quadro, as tendências a mais restrições no campo das liberdades
democráticas que a burguesia tentará impor cada vez mais para fazer frente ao
acirramento da luta de classes que a crise do capitalismo engendra.
A decisão da burguesia de livrar-se do governo
petista por meio do impedimento ou da renúncia negociada da Presidente e de
inviabilizar, por via judicial, uma futura candidatura de Lula em 2018 não justifica
a defesa do governo Dilma nem do ex-presidente por parte da esquerda socialista,
porque não nos faz esquecer a opção política da cúpula do PT pelo caminho do
pacto social burguês, como se comprova desde a Carta aos Brasileiros, em 2002, e
o zeloso atendimento aos interesses dos bancos, da indústria automobilística,
do agronegócio, das empreiteiras e mineradoras. Não nos cabe afiançar uma
suposta inocência de Lula e outros líderes petistas e menos ainda de imaginar
que investigações sobre eles coloquem a democracia burguesa em risco, mas de
fazermos uma profunda crítica à estratégia de conciliação de classes adotada pelo
PT, a qual, aprofundada nos últimos 14 anos, agora se volta contra ele.
Diante disso, o PCB não vê razões para alterar
sua postura de independência de classe e oposição de esquerda ao atual governo,
sobre o qual o ex-presidente Lula nunca deixou de influenciar diretamente. O PT
preparou o próprio terreno pantanoso em que agora se afunda, ao ter optado por
reforçar o Estado Burguês, enquanto retirava direitos dos trabalhadores. Por
fim, o PCB não reforçará o culto despolitizado, personalista e saudosista de
uma liderança que, através de seu carisma, utilizou o apoio dos trabalhadores
para operar uma política que privilegiou os interesses capitalistas. Tampouco
nos somaremos a iniciativas pretensamente dedicadas à defesa da democracia com
aqueles que, nos últimos tempos, a vêm golpeando em troca da governabilidade a
qualquer custo. Conclamamos à formação de um bloco de lutas de caráter
anticapitalista e socialista, para resistir aos ataques do capital e avançar na
perspectiva da construção do Poder Popular e do Socialismo.
PCB -
Partido Comunista Brasileiro, com apoio do PCB
de Garanhuns/PE
Comissão Política Nacional - 6 de março de
2016.
Acesse nosso blog: www.pcbgaranhuns21.blogspot.com
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