O jornalista Homero Fonseca, que passou pelos principais órgãos de imprensa de Pernambuco e foi Secretário de Imprensa da Prefeitura do Recife, escreve com competência e sensatez tanto sobre política quanto futebol. No texto a seguir ele comemora a campanha do Salgueiro no Campeonato Estadual e apesar de tricolor deixa claro ficaria satisfeito caso o time sertanejo fosse campeão:
Já
me sinto meio campeão pernambucano de 2015: primeiro, porque, como finalista, o
Santinha é no mínimo vice. Segundo, porque a desclassificação ontem do Sport
pelo Salgueiro me valeu meio campeonato. Desculpem os meus amigos (e parentes)
rubro-negros: mas aqueles closes de olhos lacrimejantes, choro engolido e
frustração explícita mostrados pela tevê valeram por uma taça. Ver a torcida
mais arrogante do futebol brasileiro se descabelar, acusar o técnico pela
derrota e amaldiçoar o próprio time (rubro-negro não sabe perder) não tem
preço.
Como
dizem os narradores esportivos, em sua maioria propensos ao uso de clichês, o
futebol é uma caixinha de surpresa. No começo do campeonato, o quadro era o
seguinte: o Náutico continuava desconchavado desde a temporada passada; a
equipe do Santa foi literalmente desconstruída (dos titulares só sobraram
Tiago Costa e Bileu), contratou-se um monte de desconhecidos e entregaram-nos
nas mãos relativamente inexperientes de Ricardinho; o Salgueiro e o Central,
corriam por fora e nem entravam nas previsões. E o Sport? Manteve o técnico e a
base do time campeão do ano passado, ao qual se agregaram alguns atletas de
valor, como Diego Souza. Era favorito absoluto até para os mais fanáticos
adversários (se bem que eles não admitiam publicamente, como qualquer torcedor
fundamentalista).
Antes
de a bola rolar, cheguei a pensar com meus botões no sacrilégio: pra que se
gastar tempo, dinheiro e emoção numa competição cujo vencedor já se sabe?
Melhor cancelar a tabela e entregar logo a taça ao Sport.
Bem,
outro clichê esportivo diz que futebol não tem lógica. É uma meia verdade. Como
é um jogo, os resultados estão sujeitos a uma infinidade de combinações e vem
justamente daí sua força e seu encanto. Mas existe uma lógica, sim, contrariada
de vez em quando pela lei da incerteza: a possibilidade de vitória é muito
maior para uma equipe bem estrutura, financeiramente equilibrada, alicerçada na
tradição, reforçada pela autoestima e apoiada por uma torcida expressiva. Por isso
existem favoritos.
Então,
no correr do campeonato, o Náutico patinou e rolou precocemente pelas
ribanceiras da desclassificação; o Santinha, com as evidentes limitações do
elenco recém-contratado (onde não desponta um único craque), conseguiu se
aprumar razoavelmente nas últimas seis rodadas; Salgueiro e Central,
especialmente o primeiro, mostraram-se times coesos e aguerridos e chegaram às
semifinais; e essa movimentação coincidiu com uma inacreditável queda de
rendimento do Sport, talvez explicada pela soberba e excesso de confiança.
E
aí as combinações de tudo isso e outros fatores mais, que me escapam ou seria
extenso demais analisá-los, deu na mais inesperada final de campeonato neste
ano da graça de 2015. Pela primeira vez, um time do Sertão nas finais. Antes,
do interior, apenas o Porto foi vice-campeão (1997-1998) e o Central
(2007).
E
digo de coração aberto: o Salgueiro é favorito ao título, pelo retrospecto de
sua campanha, de uma regularidade impressionante. Claro que vou torcer como
sempre pelo Santinha, cujas chances repousam justamente na linha ascensional de
seu desempenho. Mas se der Salgueiro não será qualquer desonra à luz do
desenrolar da competição. Ruim mesmo é dormir campeão e acordar
desclassificado.
Uma
curiosidade, como bônus: em 1932 o Santa Cruz foi campeão invicto e o vice
foi... o Íbis.
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