A Revista Época, em sua última edição, publicou uma reportagem,
com chamada de capa, destacando a frase que o presidente do Supremo Tribunal
Federal não será candidato a presidente da República. A matéria traça um perfil
não muito simpático de Joaquim Barbosa e informa que a mãe do ministro
trabalhou como doméstica.
Joquim Barbosa enviou à Época uma carta rebatendo as principais
informações da revista, acusou o repórter de preconceituoso e concluiu que a
revista deu um triste exemplo de “jornalismo especulativo e de má fé”.
A CARTA DE JOAQUIM BARBOSA
Sr. Diretor de Redação,
A matéria "Não serei
candidato a presidente" divulgada na edição nº 823 dessa revista traz em
si um grave desvio da ética jornalística. Refiro-me a artifícios e subterfúgios
utilizados pelo repórter, que solicitou à Secretaria de Comunicação Social do
Supremo Tribunal Federal para ser recebido por mim apenas para cumprimentos e
apresentação. Recebi-o por pouco mais de dez minutos e com ele não conversei
nada além de trivialidades, já que o objetivo estabelecido, de comum acordo,
não era a concessão de uma entrevista. Era uma visita de cunho institucional do
Diretor da Sucursal de Brasília da Revista Época. Fora o condenável método de
abordagem, o texto é repleto de erros factuais, construções imaginárias e
preconceituosas, além de sérias acusações contra a minha pessoa.
A matéria é quase toda
construída em torno de um crasso erro factual. O texto afirma que conheci o
ministro Celso de Mello na década de 90, e que este último teria escrito o
prefácio do meu livro "Ação Afirmativa e princípio Constitucional da
Igualdade". Conheci o ministro Celso de Mello em 2003, ano em que
ingressei no STF. Não é dele o prefácio da obra que publiquei em 2001, mas sim
do já falecido professor de direito internacional Celso Duvivier de Albuquerque
Melo,que de fato conheci nos anos 90 e foi meu colega no Departamento de
Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Mais grave, porém, é a acusação
de que teria manipulado uma votação,impedindo deliberadamente que um ministro
do STF se manifestasse. O objetivo seria submeter o ministro a pressões da
"mídia" e de "populares". Isso não é verdade. Ofensiva para
qualquer cidadão, a afirmação ganha contornos ainda mais graves quando
associada ao Chefe do Poder Judiciário. Portanto, antes de publicar informação
dessa natureza, o repórter tinha a obrigação de tentar ouvir-me sobre o
assunto, o que pouparia a revista de publicar informação incorreta sobre minha
atuação à frente da Corte.
No campo pessoal, as inverdades
narradas na matéria são ainda mais ofensivas e revelam total desconhecimento
sobre a minha biografia. Minha mãe nunca foi faxineira. Ela sempre trabalhou no
lar, tendo se dedicado especialmente ao cuidado e à educação dos filhos. O
texto,que me classifica como taciturno, áspero, grosseiro, não apresenta
fundamentos para essas afirmações que, além de deselegantes, refletem apenas a
visão distorcida e preconceituosa do repórter. O autor da matéria não apresenta
elementos que sustentem os adjetivos gratuitos que utiliza.
Também desrespeitosa é a menção
aos meus problemas de saúde. Ao afirmar que a dor causou "angústia e
raiva", o jornalista traçou um perfil psicológico sem apresentar os
elementos que lhe permitiram avaliar o impacto de um problema de saúde em uma
pessoa com a qual ele nunca havia sequer conversado.
Outra falha do texto é a
referência à teoria do "domínio do fato". Em nenhum momento a teoria
foi evocada por mim para justificar a condenação dos réus no julgamento da Ação
Penal 470. Basta uma rápida leitura do meu voto para verificar esse fato.
Finalmente, não tenho definição
com relação ao momento de minha saída do Supremo e de minha aposentadoria.
Muito menos está definido o que farei depois dessa data, embora a matéria tenha
afirmado - sem que o jornalista tenha sequer tentado entrevistar-me sobre o
tema - que irei dedicar-me ao combate ao racismo. Triste exemplo de jornalismo
especulativo e de má-fé.
Joaquim Barbosa
Presidente do Supremo Tribunal Federal
Presidente do Supremo Tribunal Federal
Nenhum comentário:
Postar um comentário