O radialista garanhuense
Eduardo Peixoto e Reginaldo Rei
Morreu nesta sexta-feira o cantor Reginaldo Rossi. Este texto publicado no site do Jornal do Commercio há 10 minutos sintetiza bem o que representou o "Rei do Brega" na vida dos pernambucanos e brasileiros:
O garçom já não escuta mais lamentações
na mesa de bar. A raposa não está mais com as uvas. Itamaracá já não tem tanto
encanto assim. O brega ficou doidão. Tudo porque faleceu nesta
sexta-feira (20), o pernambucano Reginaldo Rossi. O cantor, de 70 anos, não
resistiu a um câncer de pulmão. Estava internado no Hospital Memorial São José,
no Recife, desde o dia 27 de novembro, quando sentiu dores no peito. Dessa vez,
entretanto, a dor não era de amor, como as músicas dele espalhavam.
Após ser diagnosticado com câncer, chegou
a fazer quimioterapia, mas não resistiu. O brega está de luto. Só nos resta
lembrar com muita saudade daquele bailinho.
Quando passou mal e foi internado, Rossi
já estava bastante debilitado e o câncer já tinha se espalhado. Chegou a ter
alguns pequenos lampejos de melhora que encheram de esperança uma legião de fãs
do Rei do Brega. Mas a luta já estava perdida. Era apenas questão de
tempo.
Abaixo o perfil e Reginaldo, publicado na
série Grandes Nomes da MPB:
REGINALDO ROSSI, O REI
A música chamada brega,
um gênero romântico mais escrachado ou vulgar, teve grandes representantes no
país e alguns se tornaram grandes vendedores de disco. Infelizmente, a
indústria do disco, aliada ao rádio e a televisão provocaram tal processo de
decadência na música nacional, nas últimas décadas, que até o brega piorou
muito e ainda por cima tomou conta da programação das emissoras. Quais os
principais bregas das décadas de 60 e 70? Aguinaldo Timóteo, Altemar Dutra,
Lindomar Castilho, Odair José, Amado Batista, Adilson Ramos, Nelson Ned, Waldic
Soriano, Wando, Fernando Mendes e Reginaldo Rossi. Alguns desses artistas, como
Aguinaldo, Odair, Amado e Rossi, produziram muita coisa, dentro do seu estilo,
que não podem ser descartadas pelos estudiosos da música popular brasileira.
Seja porque são canções de melodia bonita, de letras bem elaboradas, seja
porque representam, essas canções, um expressivo contingente da população da
periferia, das grandes, médias e pequenas cidades. Lamentavelmente, até o brega
hoje perdeu seus representantes mais legítimos. O que temos aí, tocando nas
rádios e conseguindo espaço na TV é um falso forró, um sub-brega encampado por
bandas de gosto duvidoso e vocalistas miando mais do que cantando, e uma
epidemia de falsos sertanejos, sem nada a ver com Tonico e Tinoco, Pena Branca
e Xavantinho ou mesmo Renato Teixeira.
Chitãozinho e Chororó,
Leandro e Leonardo (com a morte do irmão este continuou sua carreira sozinho),
Zezé de Camargo e Luciano, Bruno e Marrone e outras duplas menos famosas são
breguice pura, assim comoSaia Rodada, Cavaleiros do Forró, Calcinha
Preta e Limão com Mel. A diferença entre eles e os famosos
bregas surgidos nos anos 60 e 70 é que os antigos tinham muito mais qualidade,
fizeram muitas músicas criativas, válidas como expressão de uma classe. Esse
time mais novo, além de abrigar péssimos cantores, se caracteriza pela produção
de canções completamente descartáveis, com letras de uma pobreza total, se
repetindo de uma maneira absurda e que só se sustentam mesmo graças ao apoio da
indústria, esta ancorada na televisão, principalmente na TV Globo, que
dificilmente abre espaço para alguma coisa que preste em sua programação.
Como representante dos
mais bem sucedidos desse gênero da música popular brasileira, vamos ficar com
Reginaldo Rossi. Não tanto por ele ser recifense e estar mais uma vez escalado
para o Festival de Inverno de Garanhuns, mas principalmente por ser hoje o mais
popular desses cantores/compositores. Odair José brilhou, uma certa época e
cantou até com Caetano Veloso. Amado Batista chegou a ser o maior vendedor de
disco do país. Aguinaldo Timóteo ao longo da carreira gravou verdadeiras
pérolas e além disso tem um vozeirão incrível. Nenhum deles, no entanto,
conseguiu um êxito igual ao do pernambucano, que há quase 50 anos emplaca sucessos
do agrado do povão, de parte da classe média e até da elite.
Reginaldo nasceu no
Recife, em 1944 e começou sua carreira no movimento da Jovem Guarda. Chegou a
fazer parte de uma banda de rock da época, denominada The Silver Jets. Depois
fez carreira solo e gravou uma música intitulada “O Pão”, que tocou bastante
nas rádios da capital pernambucana e no interior. Sucesso maior viria com Mon
amour, meu bem, ma femme, já no estilo brega-romântico, a primeira canção
gravada pelo artista a extrapolar as fronteiras do seu Estado.
Com o fim da Jovem
Guarda, Reginaldo Rossi andou uns tempos sumido, renascendo em meados da década
de 70 principalmente com sua ligação ao MDB e PMDB. O partido (houve só a
mudança na sigla por exigência da lei) fazia oposição à ditadura e seus
principais representantes em Pernambuco, como Marcos Freire e Jarbas
Vasconcelos faziam comícios memoráveis no Recife e outras cidades. E durante
várias campanhas, para governador e prefeito da capital, Reginaldo Rossi passou
a ser a principal atração dos comícios. Chamava público. Os moradores dos
morros, da periferia da capital se identificavam totalmente com o som daquele
sujeito feio e grosseiro que falava de amor e traições.
Logicamente, não foi só a
política que ajudou Reginaldo a permanecer nas paradas até hoje. Dentro do seu
estilo, ele tem talento ou intuição e ao longo dos anos sacou composições
incríveis. A Raposa e as Uvas e Garçon são as
maiores expressões da música de Rossi e principalmente a última se tornou
conhecida nos quatro cantos do país. Virou um verdadeiro “clássico” da canção
romântica ou brega nacional, merecendo inclusive regravações de outros
artistas.
Reginaldo nas suas
entrevistas passa a impressão de ser um cara convencido, arrogante e boçal.
Acha que é o tal. O artista garante ter começado a estudar engenharia civil e
ter sobrevivido uns tempos, no Recife, ensinando física e matemática. Largou
tudo pela música.
Embora, nas suas músicas
e nos shows explore muito a figura do homem traído, do corno, dando a ideia de
que ele mesmo já levou as suas “pontas”, mantém há 30 anos um casamento estável
com Cirlene.
O fato é que gostemos ou não dele
Reginaldo Rossi, chamado de Rei em muitas cidades do Nordeste,
é um artista bem sucedido que entrou na história da música popular brasileira
sem precisar de empurrão da TV Globo nem dos artistas intelectualizados que
fazem MPB como gênero. Já gravou cerca de 50 discos, vendeu milhões deles e
lotou casas com públicos recordes em Recife, Salvador, São Paulo e outras
capitais. Está aí, já bem coroa, mas em forma. Arrebatando fãs com o seu borogodó.
Já esteve uma dezena de vezes no Festival de Inverno de Garanhuns e vem
novamente outra vez este ano. Alguns odeiam. Mas a praça fica sempre cheia
quando ele está no palco. (Roberto Almeida, em 20 de junho de 2010).
O festival de inverno nao sera mas o mesmo sem o rei.
ResponderExcluirLamentavel.
edcleison albino.
Brasil com certeza perdi um grande apaixonado pela vida , nosso eterno Rei do brega , do amor das paixões , obrigado rei pro tudo , vá com Deus .
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