Vinicius de Moraes foi crítico de
cinema, cronista, jornalista, boêmio, diplomata, compositor, cantor e poeta. O
“poetinha”, como passou a ser chamado com carinho, sem que o apelido reduzisse
a importância de sua obra.
Para quem acha que Vinicius foi um
poeta menor, por ter deixado a literatura em segundo plano em favor da música e
por popularizar sua obra, nada melhor que o reconhecimento de Carlos Drummond
de Andrade, o gênio de Itabira (MG).
"Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da
paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural. Foi o único que teve vida
de poeta”, escreveu o autor de A Rosa do Povo, escancarando sua admiração pelo
amigo.
Vinicius nasceu
na Gávea, no Rio de Janeiro e morou em diversos outros bairros da cidade.
Apesar de ter depois residido em lugares tão diferentes quanto o Uruguai, a
Argentina, a Espanha, Os Estados Unidos e a Inglaterra, nunca deixou de ter uma "alma de carioca”.
O escritor
estudou letras, se formou em direito, passou no concurso do Itamaraty, mas
desde cedo descobriu a poesia e a literatura. Escreveu em diferentes jornais,
inclusive na Última hora, de Samuel Wainer, na maioria deles fazendo resenhas
de filmes.
Em 1933 publica
seu primeiro livro, “O Caminho para a Distância”. Dois anos depois, com “Forma
e Exegese”, ganha o prêmio Felipe d´ Oliveira de poesia.
No ano de 1936,
imagine o leitor, Vinicius de Moraes substitui Prudente de Moraes Neto como
representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. Neste
mesmo ano publica o poema Ariana Mulher e conhece o pernambucano Manuel
Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna grande amigo.
Ao longo de seus
67 anos de vida, o poetinha conviveria com os principais escritores,
intelectuais, jornalistas, compositores e cantores do Brasil, como Jorge Amado,
Cecília Meirelles, Afonso Arino de Melo Franco, Cassiano Ricardo, Fernando
Sabino, Rubem Braga, Hélio Peregrino, João Cabral de Melo Neto, Chico Buarque,
Toquinho, Nara Leão, Caetano Veloso, Edu Lobo, Tom Jobim, João Gilberto...
Vinicius, como
definiu Drummond, foi um homem apaixonado. Pela poesia, pela música, pelas
mulheres, pela vida... Só casamentos oficiais foram nove, sempre com beldades,
algumas bem mais jovens do que ele.
Tinha uma relação
tão forte com as mulheres e os encantos femininos que chegou a escrever a frase
que ficou famosa: “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.
O poeta, no
entanto, talvez gostasse tanto de uísque quanto das mulheres. Tanto que cunhou
a frase: “O uísque é o melhor amigo do homem. O uísque é o cachorro
engarrafado”.
A partir dos anos
60, já maduro, Vinicius privilegia a música e passa a compor com parceiros como
Tom Jobim, João Gilberto Edu Lobo, Chico, Carlos Lyra e Toquinho. Com este
último, quando muitos já o tinham como “acabado” ou “decadente”, faz shows no
Brasil e no exterior, grava discos e forma uma dupla de muito sucesso,
especialmente junto ao jovem público universitário.
Com o golpe
militar de 1964, o intelectual é afastado do Itamaraty, deixa de ser diplomata.
Aliás, deve ter sido um alívio, para um artista e boêmio como Vinicius o
emprego no governo devia ser uma coisa muito chata.
Livre da
diplomacia, dedica toda sua criatividade à música, à poesia, ao amor, aos
amigos e a seu público fiel.
Amigo e admirador
do poeta chileno Pablo Neruda em 1973 lança um livro dedicado a ele. Perseguido
pelo governo, em meados desta década excursiona pela Itália, na companhia de
Toquinho. Essa temporada rende a gravação de dois discos.
Em 1976 faz show
no Canecão, no Rio de Janeiro, acompanhado por Miúcha (irmã de Chico) e de
Toquinho. No ano seguinte estaria novamente com o amigo no palco, só que desta
vez em Paris.
A vida de
Vinicius de Moraes volta a se entrelaçar com a política em 1979. A convite do então
líder sindical Luiz Inácio da Silva comparece ao Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo do Campo (SP) para fazer uma leitura de poemas.
O poeta morreu em
1980, depois de um derrame cerebral, deixando um legado imenso para a cidade do
Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo. Escreveu crônicas e poesia, fez crítica de
cinema e MPB, deixou versos que se eternizaram entre os brasileiros e pessoas
sensíveis dos quatro cantos do mundo.
Em 2005 o
cineasta Miguel Faria Jr. produziria o filme Vinicius, um documentário
importante que revela os principais momentos da vida do poeta. O trabalho
mostra as diversas fases do artista e traz depoimentos memoráveis de Ferreira
Gullar, Maria Betânia, Gilberto Gil, Caetano, Chico, Edu Lobo, Tônia Carrero,
Francis Hime, Antônio Cândido, além de ex-mulheres e filhas do literato e
compositor.
Para concluir,
reproduzimos abaixo o texto “Ausência”, uma das pérolas de Vinicius de Moraes:
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."
foto minha, abraços !!!
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