PSB ASSUME O ÔNUS DO DOM MOURA

O Partido Socialista Brasileiro, PSB, saiu em defesa da Diretoria do Hospital Dom Moura. Através de um jornal editado em Garanhuns aponta uma "conspiração" contra a exemplar unidade de saúde regional. Lá não existe nada de errado, todos são inocentes e o único culpado é o jornalista, que serve aos interesses da oposição por conta da eleição de 2012. Bem escrito, discurso ensaiado, mas totalmente equivocado. Quem o editou pode ser desses inocentes que acreditam em papai Noel; sofre da "síndrome de Ubaldo" (personagem criado por Henfil, durante a ditadura, que via em tudo uma conspiração); ou está consciente da sujeira, porém na defesa dos seus interesses políticos-ideológicos-administrativos não tem escrúpulos em distorcer os fatos para atingir seus objetivos.

O caso do Hospital não tem nada a ver com política. Ninguém influenciou ou está por trás deste repórter. Tudo começou quando conversei com um auxiliar de enfermagem do Dom Moura, vizinho meu há 15 anos e que sem nenhum interesse partidário ou pessoal desabafou sobre o que está acontecendo no seu local de trabalho. Não acusou a diretora nem outras pessoas. Apenas disse os fatos e revelou as suspeitas que segundo ele  são generalizadas entre os próprios funcionários da casa. O único nome que ele me apontou foi o de um cidadão que comprou um Cross Fox no valor de R$ 70 mil. Não conheço a pessoa, não lembro mas o nome porque não anotei, contudo pelo que este meu amigo disse não é médico nem tem salário compatível com a aquisição do carro. A questão da calçada, do telhado, da compra de roupas na G. Araújo, tudo me foi dito por ele. Se ele e os outros que conversam à boca miúda estão sendo levianos ou não é fácil para o Ministério Público comprovar. No caso da calçada, por exemplo, se tiverem gasto 500 sacos de cimento,  o principal material usado na obra, isso aí sai por pouco mais de R$ 10 mil. A não ser que a areia e a mão-de-obra tenham sido importada da Finlândia não sei como vai se chegar aos mais de R$ 100 mil.

O caso Dom Moura é meramente administrativo, gerencial. E, como desde o início desta polêmica, não estou acusando ninguém. Nos dois primeiros posts que fiz não citei um único nome, e Emília Pessoa só passou a frequentar este blog depois que ela mesma nos enviou uma nota fazendo a defesa de sua administração. Recebi como um comentário e assim o publiquei. Aliás duas vezes, porque foi reenviado por outra pessoa. E todos que mandaram mensagens elogiando a gestão do Hospital foram publicados. Não é culpa minha se não foram muitas. A maioria veio batendo, acusando e já esclareci aqui que metade do material não foi publicado justamente porque tenho responsabilidade. E não vou aceitar sem provas acusações contra prefeitos, ex-prefeitos que não tem a princípio nenhuma ligação com as suspeitas levantadas pelo meu amigo servidor.

O jornal do PSB se queixa porque não revelo o nome do funcionário. Estão querendo agora que eu vire dedo duro e faça o rapaz perder o emprego. Ainda ontem conversei com o advogado e ele lembrou a Lei: "o sigilo da fonte é sagrado e você tem o direito de preservá-la até diante do Juiz". Ora, se estão desqualificando o policial Ricardo e o jornalista com mais de 30 anos de profissão e o nome limpo, imagine o que não fariam com esse pobre servidor.

Continuo sem acusar ninguém. Não sou advogado, nem polícia e acredito que o caso todo pode ser resumido nos seguintes pontos: 1) Um veterano funcionário do Dom Moura levantou suspeitas sobre irregularidades no hospital de Garanhuns. Segundo ele o assunto é largamente comentado entre os próprios colegas; 2) As denúncias levadas ao blogs e as rádios tiveram ampla repercussão na cidade, levando muitos a se manifestarem contra os possíveis mal feitos e a direção a defender o Hospital como um todo; 3) Acionado pela Dra. Emília Pessoa o Ministério Público começa a investigar o que está acontecendo. Várias pessoas estão sendo ouvidas. Eu sei o nome de duas: Dr. Dimas Carvalho e Altamir Pinheiro. Este último tornou público o seu depoimento, através da Gazeta Digital. Diante do promotor, acusou as irregularidades e revelou ter sido ameaçado mais de uma vez; 4) O PSB de Garanhuns publica um jornal assumindo o ônus do caso Dom Moura e defendendo a diretora do hospital e filiada do partido. O veículo impresso tenta desqualificar os denunciantes, especialmente Roberto Almeida, o policial Ricardo, o blogger Altamir Pinheiro e o radialista Pereira Filho.

Tenho 54 anos, seis filhos, dois netos e meu único patrimônio é uma casa da Cohab e um carro usado. Trabalhei em jornal e rádio do Recife, fiz parte da equipe de campanha de Miguel Arraes em 1986, servi ao seu governo a partir de 87 e fiquei até a gestão de Carlos Wilson em 1990, quando fui subsecretário de Imprensa do Estado. Votei em Arraes em 86 e 94, em Jarbas (apoiado por Arraes) em 90, votei em Lula em todas as eleições em que ele disputou e no governador Eduardo Campos em 2006 e 2010. Não tenho nenhum motivo político ou ideológico para atacar o governador ou seus assessores. Como jornalista, no entanto, se escuto coisas de interesse da comunidade, relacionadas com o poder público, é meu dever noticiar. Neste caso não posso ter partido, proteger ninguém. Devo divulgar os fatos e esperar das autoridades que tomem providências. Se tudo é inveja e calúnia, que a verdade venha à tona e se dê todo destaque aos inocentes, vítimas das insinuações. Se descobrirem culpados, que sejam punidos.

Quero deixar claro ao PSB, ao Ministério Público e aos meus leitores, que ninguém está me usando neste episódio. Reitero que a questão é administrativa e não política e nunca se pretendeu atingir pessoalmente ninguém, seja Emília, Ivan Rodrigues (presidente do Partido Socialista em Garanhuns) nem o governador Eduardo Campos. Distorcer os fatos, como estão fazendo os que colocaram a carapuça na cabeça, é voltar aos anos 70, quando Chico Buarque fez uma canção ironizando o regime político da época (precisou usar um pseudônimo para driblar a censura): ao ter um pesadelo que homens da polícia estavam invadindo a sua casa, o personagem grita desesperado para a esposa: "chame o ladrão, chame o ladrão...". No caso, os bandidos eram menos perigosos que as autoridades, daí o pedido de socorro feito a eles.

E já que lembramos o Chico, permita leitor que eu faça mais uma citação desse compositor brasileiro para terminar: "Pai, afasta de mim esse cálice".