A ELEIÇÃO DE CAPOEIRAS NA VISÃO DE UM JORNALISTA DA CAPITAL

Por Magno Martins

Em tupi guarani, capoeira é uma roça extinta, invadida pelo mato cortado. No plural, Capoeiras é uma pequena cidade de 20 mil habitantes, com 335,258 km2, altitude de 888 metros acima do nível do mar, localizada no Agreste Meridional de Pernambuco.

O povoamento se confunde com Caetés, terra do ex-presidente Lula, de tão próxima, separadas apenas por 6 km. Ali, na eleição municipal de 2020, o ex-prefeito Dudu (PL) candidato da oposição, venceu a batalha das urnas, mas não assumiu porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou sem efeito o resultado do pleito.

Uma decisão confusa, que envolveu a rejeição de uma conta da gestão passada de Dudu. A Câmara de Vereadores rejeitou, mas a juíza do município não enxergou nenhuma irregularidade grave e acatou o registro da candidatura do postulante da oposição. No primeiro julgamento da justiça eleitoral pelo TRE de Pernambuco, a visão jurídica da juíza não se confirmou. O julgamento final coube ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em março passado, confirmando a leitura do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. A eleição foi nula e a suplementar foi marcada para o próximo domingo.

Na primeira, Dudu ganhou por uma diferença de apenas 200 votos. Teve 5.293 votos contra 5.069 de Nêgo do Mercado (PSB). Ainda concorreram Felipe Vieira, pelo MDB, que teve 504 votos, Batata (Avante), ex-prefeito e ex-deputado federal, que somou apenas 446 votos e João Calado (Patriota), votado apenas por 19 cidadãos capoeirenses.

O grupo de Dudu vai ao julgamento das urnas novamente com Celina (PL), esposa dele, tendo como vice a vereadora Verônica de Zé de João (PL), a mais votada do município.

Celina enfrenta Nêgo do Mercado (PSB), mesmo adversário derrotado pelo marido, com Cícero Brabo (Republicanos) na vice. Comerciante rico e famoso na cidade, o socialista é apoiado pelo grupo do ex-prefeito Neném, que emplacou a ex-prefeita Neide Reino por duas vezes, acusada pelo grupo de Dudu de destruir a cidade. “Capoeiras quer mudança, sepultar um modelo de gestão que foi perverso para o município”, diz Celina.

Na gestão do marido Dudu, Celina, acusada de forasteira por ser de Paranatama, atuou como secretária de Ação Social e fincou a imagem da mulher de bom coração, que reduziu a fome dos mais necessitados, com a marca de um sopão, sucesso nas comunidades carentes.

Nêgo do Mercado, entretanto, diz que Celina não tem compromisso com o povo. “É uma candidata laranja. Se eleita, quem vai reinar é o marido Dudu e o filho Rico”, acusa o socialista, para quem Celina é a continuidade de um governo que nada fez por Capoeiras. “Ande pela cidade e você não encontrará uma placa sequer com alguma obra de Dudu em Capoeiras”, acrescenta.

Pelo sentimento das ruas, que observei ontem na minha passagem pela cidade, a eleição suplementar do próximo domingo também será apertada e pode ser decidida pelos eleitores que votaram em Carlos Batata, Felipe Vieira e João Calado.

O termômetro da eleição não está visível porque não há campanha de rua. A mesma juíza, que não enxergou nenhum ato falho nas contas de Dudu, suspendeu todos os eventos de campanha. Sem comícios, carreatas e caminhadas com aglomerações, o que restam são algumas bandeiras dos candidatos nos principais logradouros públicos ou militantes distribuindo material impresso dos candidatos em frente aos comitês.

Mas, na praça, o povo dá seus pitacos. “Onde se tem mulher, não se vota em homem”, crava seu Rildo, um aposentado bem engraçado, eleitor de Celina. “Não tem esse negócio de ser homem ou mulher. O que vale é se o candidato tem capacidade e enxergo em Nêgo o mais preparado, por isso meu voto é dele”, aposta Maria Isaltina, eleitora do candidato do PSB.

*Fonte: Blog do Magno

**Jornalista Magno Martins é natural de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco, mas está radicado na capital do estado há mais de 40 anos.