Pároco em nossa Cidade, no final da década de 50, tinha visão futurista e transferiu a antiga igreja de São João para outro local, onde foi possível aumentar a área construída para acomodar a comunidade cristã que crescia acentuadamente com o aumento da população sanjoanense.
O Padre João Afonso, abandonou sua vida abastada em seu país de origem e transferiu-se para São João onde dedicou sua vida inteiramente em prol da população católica que era predominantemente em nosso Município.
A antiga e simpática igrejinha ficava no meio da atual rua Augusto Peixoto e já não acomodava confortavelmente os frequentadores das missas, além de dificultar a mobilidade, pois pelas laterais do templo só passava carro de bois.
A maior parte do dinheiro gasto na edificação do novo templo adveio da economia da família do padre. Para dar seguimento a obra, promoveu campanhas de arrecadações através de doações junto aos comerciantes e agricultores da Cidade.
Muito criativo, os animais recebidos em dádivas eram leiloados e transformados em dinheiro para honrar as despesas do empreendimento. Nas festividades de final de ano, arrecadava fundos com a exibição do pastoril onde os torcedores dos partidos azul e encarnado pagavam para verem a sua cor preferida dançar.
O partido vencedor era aquele que mais conseguia arrecadar. Outra forma de captar recursos era a delegacia instalada na rua Augusto Peixoto nas vésperas de natal e ano novo, que consistia em cabanas cercadas e cobertas com palhas de coco catolé onde as policiais eram garotas bonitas que prendiam os homens e estes para conseguirem a liberdade eram obrigados a pagarem uma fiança onde quem determinava o valor era o preso conforme suas possibilidades financeiras.
Da demolição do antigo templo, aproveitou os tijolos para usá-los na obra nova e contou com a colaboração dos habitantes da Cidade, incluindo crianças, no transporte do material para o canteiro da obra em andamento. Para atrair a mão de obra infantil o vigário recompensava a criançada distribuindo chimbres coloridas, conhecidas por carambolas. Os pais ficavam orgulhosos em verem seus filhos ajudando na obra do Senhor. - Se fosse nos dias atuais o religioso estava lascado! Seria criminalizado por exploração de menores. No nosso tempo as crianças ajudavam aos pais e quando faziam trelas eram castigados e levavam uns bons tabefes ou surras que era para aprenderem a tomar jeito de gente do bem. -
Conhecedor de técnicas de construções, era quem orientava os pedreiros, principalmente nas edificações dos grandes arcos existentes na basílica. Seu Nino pedreiro, um dos trabalhadores na construção, estava finalizando o arco mais alto, de repente se desequilibrou e como na época não se utilizava EPI adequado, o homem esparramou-se no chão. Saiu quase que ileso, apresentando pequenas escoriações e atribui-se o fato a um milagre do padroeiro de nossa Cidade o reverenciado São João Batista.
O Padre João Afonso chegou em nossa paróquia no ano de 1950 e permaneceu até o ano de 1955, deixando 90% da obra edificada, quando retornou para sua terra natal. Sempre que a saudade bate, vem aliviar o coração visitando nossa terra para rever os filhos dos católicos da época, bem como os poucos fiéis remanescentes do tempo em que ele conquistou os corações sanjoanenses. Com noventa anos de idade e em plena lucidez, a mais recente visita foi no dia 25 de janeiro de 2017.
A população recebeu felicíssima e de braços abertos, o Padre mais popular que já passou por nosso Município e eternamente lhes será grata pelo belo trabalho religioso desenvolvido em nossa querida São João.
*Do livro "Histórias da minha São João".
Padre João faleceu ontem, aos 93 anos. Será sepultado na Holanda.
Um morador da cidade, que ama sua terra, solicitou a publicação do texto, como uma homenagem ao sacerdote, que trocou o país europeu e a riqueza da família pelo pequeno burgo brasileiro.
*Nas fotos abaixo a homenagem ao religioso feita por padre Sérgio, à época em que Pedro Barbosa era prefeito.



O Nino pedreiro é o meu pai (in memoriam).
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