Por Altamir Pinheiro
Quem ainda hoje não se encanta quando assiste ao filme OS DEZ MANDAMENTOS ou CLEÓPATRA do grande cineasta Cecil B. DeMille? O nome desse monstro sagrado ficou para sempre associado às superproduções da Sétima Arte, sendo sinônimo de suntuosidade quando se trata de grandes espetáculos. Entretanto, até 1952, quando dirigiu e produziu O Maior Espetáculo da Terra (The Great Show On Earth), este foi o filme que mais lhe rendeu honras, tanto por parte da crítica quanto da opinião pública. De forma grandiosa e impressionante, foi até aquele momento o maior êxito comercial do veterano cineasta em toda sua longa carreira, conquistando o Oscar de melhor filme.
O Maior Espetáculo da Terra foi o penúltimo título da filmografia deste grande diretor, iniciada na fase ainda silenciosa do cinema, em 1913, e terminada em 1956, quando dirigiu outro grande espetáculo, Os Dez Mandamentos. Mas para poder realizar a proeza de dirigir tamanha obra a altura do seu título original, a Paramount pagou aos empresários John Ringling North e Henry Ringling North, os donos do famoso Ringling Brothers & Barnum & Bailey, considerado então o mais famoso circo do mundo, a quantia de 250 mil dólares pelo uso da marca e pela cessão de artistas. Mas, em compensação, arrecadou uma bagatela no mercado norte-americano de preciosos 14 milhões de dólares.
Como nos retrata ou nos confirma com grande precisão o cinéfilo e excelente pesquisador Paulo Telles, O filme pode ser espalhafatoso, como a maioria dos épicos de DeMille, mas aqui tudo funciona. Mas o que é o circo a não ser uma combinação de luzes, fantasias, e cores? Naturalmente, alguns críticos não foram tão clementes para com o cineasta. Segundo a revista Time Magazine, DeMille reforça sua reivindicação para outra distinção: "A Grande amostra da Terra provavelmente será vender mais pipocas do que qualquer filme feito". Outros críticos acharam que o filme era banal e com uma estúpida história de amor. O New York Times respondeu a favor do veterano diretor: "A história romântica é reflexo do romance diário da realidade do circo".
Com toda a certeza, quem poderia nos falar da poesia do circo (sim, o circo não é só um espetáculo de entretenimento, mas como o cinema, também é uma arte) seria Ramon de La Serna, famoso escritor espanhol e que foi também o “primeiro” cronista de circo (e de certo, o único). Quando assistimos a O Maior Espetáculo da Terra, se reflete que só mesmo o espanhol La Serna poderia fazer uma crônica do jeito que o filme mereceria, afinal, toda a atmosfera do circo impregna inteiramente na fita, nos transbordando para o mundo maravilhoso e fascinante do circo, nos impedindo ao mesmo tempo de falar sobre ele com nossa prosa cotidiana, e muitas vezes, banal. A película é uma obra prima de proporções à altura de seu diretor, vista por todos os ângulos em que se queira apreciar a este celuloide de sucesso, principalmente vindo de um cineasta experiente como era DeMille que morreu em 1959 aos 78 anos de idade.
O Maior Espetáculo da Terra amarga hoje um título informal negativo: o filme dirigido por Cecil B. DeMille é conhecido por muitos como o “pior vencedor do prêmio de melhor filme na história do Oscar”. A principal crítica sobre o filme é seu excessivo tempo de duração. Não é difícil perceber que O Maior Espetáculo poderia ter no mínimo 30 minutos a menos. O maior destaque de O Maior Espetáculo é sua logística: apesar de certamente não ter encontrado desafios tão corridos quanto um verdadeiro circo desse tamanho encontraria na vida real, o trabalho para manter tudo e todos sincronizados, incluindo a grande plateia dos espetáculos, não deve nada a um épico à moda antiga, quando não eram utilizados computadores para facilitar o serviço dos diretores.
Em que pese as controvérsias, certamente, DeMille nos legou uma grande obra, um filme sensacional que veio a marcar não somente sua carreira, mas que com o Oscar conquistado por melhor filme, marcou no cineasta uma vitória extraordinária em sua vida. O Maior Espetáculo da Terra pode assim ser definido como uma ótima arte cinematográfica e como também um belo espetáculo.
Muitos críticos torceram a cara presse filme porque ele é uma alegoria de De Mille sobre Hollywood. Todo aquela grandiosa circense não é nada maias que Hollywood, a máquina de fabricar mentiras, fantasias, atores medíocres, atrizes horrorosas, diretores canhestros. Crítica inteligente e classuda. Viva De Mille! Sempre!
ResponderExcluir