Ronaldo Correia de Brito*
O título
soa forte e apelativo. Mas foi estampado dessa maneira em jornais,
noticiários
de rádio e tv, blogs e outras mídias. Os adolescentes entre 16 e
17
anos do Colégio Santa Maria, em Boa Viagem, no Recife, ganharam
notoriedade,
embora tenham os rostos censurados por serem menores.
As
mãos
para o alto numa saudação nazista, os corpos rígidos e perfilados não
sofreram
censura. A postagem na Internet foi apagada, porém o mal
confesso
já havia se alastrado.
O Colégio
Santa Maria foi fundado como Instituto em 1956, pela
proprietária
e diretora Maria das Dores Muniz de Melo, uma católica
conservadora,
espécie de generala autoritária e moralista.
Simpatizante
do
Golpe
Militar de 1964, Maria das Dores colocava seu colégio para desfilar
nas
comemorações do 7 de setembro, incutindo sentimentos nacionalistas e
elitistas
numa geração de jovens estudantes.
No ano de
1972, quando se comemorou o sesquicentenário da chamada
Independência
do Brasil, os militares festejaram a data de maneira espalhafatosa.
Para lembrar a história burlesca, rodaram um filme canastrão –
Independência ou Morte – com Tarcísio Meira e Glória Meneses nos
papéis
de D. Pedro I e Dona Leopoldina. O Santa Maria desfilou pelo
centro
do Recife com os seus alunos, em meio a estardalhaço, carros
alegóricos
e figuras carimbadas. Como se não bastasse a declaração de
apreço
ao regime de exceção, o colégio foi escolhido entre os colégios do
estado
para representar Pernambuco em São Paulo, durante as celebrações
dos
150 anos do “Ipiranga”. O senador Humberto Costa, na época um aluno
adolescente do Santa Maria, foi expulso do colégio por conta de uma
redação
que escreveu, questionando e negando a “Independência do
Brasil”.
Nenhum
comportamento humano nasce do nada, por geração espontânea.
No
filme “A fita branca”, de Michael Haneke, começam a acontecer fatos
estranhos
e perversos, num vilarejo no norte da Alemanha, levantando um
clima
de desconfiança geral. Descobre-se que os envolvidos nas maldades e
crimes
são adolescentes e crianças, alunos de um professor primário. O
filme
nos leva a refletir sobre a semente do mal plantada nesses jovens,
algo
que se transformará, anos depois, num mal bem maior, o nazismo.
A
brotação de flores nazistas no corpo do Colégio Santa Maria não é um
caso
de geração espontânea, mas de florescimento em solo fértil. Falecida
em
2010, com 94 anos, a diretora Maria das Dores Muniz de Melo semeou
a
pedagogia da intolerância e do preconceito pelas minorias, do
autoritarismo,
de um catolicismo retrógrado, medieval, simpatizante do
militarismo
e da bajulação ao poder e à riqueza. Caridade, piedade e falsa
compaixão,
disfarces do catolicismo sem Cristo, podem até camuflar o mal,
mas
não evitam que um dia ele se manifeste.
E
manifestou-se às claras, em sala de aula, dez anos depois de morrer a
semeadora
de fascismo, numa cidade mestiça que se orgulha de sua
urbanidade,
de ter proclamado liberdade de culto durante a ocupação
holandesa.
Mas que é socialmente desigual, vive um apartheid entre pobres
e
ricos, miseráveis e remediados, negros e brancos herdeiros do
colonialismo.
Quem é
responsável por incutir nesses garotos ideias que há bem pouco
tempo
nos levaram ao caos e à destruição, ao massacre de milhões de
judeus,
ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes e outras minorias?
Os pais?
A escola? A sociedade? As mídias? O Estado?
O Estado,
também.
A cada
dia constatamos horrorizados o posicionamento do governo Jair
Bolsonaro
e de seus apoiadores a favor das piores ideologias e políticas,
entre
elas o nazismo. Lembramos o caso recente do secretário especial da
cultura,
Roberto Alvim, repetindo pose e discurso com trecho quase
idêntico
ao de Joseph Goebbels, ministro de Adolf Hitler, durante a
Alemanha
nazista. Fatos como este se repetem às dezenas, tornando-se
lugar
comum o que deveria ser uma exceção criminosa. – Se eles
podem, nós podemos. Se eles não sofrem punição, por que
seremos
punidos? Se a Justiça fecha os olhos a tantos crimes, por que
abrirá
para nós? Poderia ser a defesa dos onze adolescentes. No caso de
Roberto Alvim, ele apenas perdeu o cargo de secretário, e não sofreu
nenhuma
sanção. Num país onde apenas pobres e negros são punidos e
mortos,
brancos e ricos crescem acreditando que tudo podem, os pais, a
escola
e o Estado passarão a mão em seus cabelos lisos. Seria bom
que os mais próximos refletissem sobre a atitude desses garotos,
tentassem
conversar com eles, orientá-los sobre a história. Será que eles
sabem
o que foi o nazismo? Será que já ouviram falar em Auschwitz? Ou
acreditam
que a terra é plana, descendemos de Adão e Eva e que nunca
aconteceu
Holocausto?
*Do site do escritor pernambucano
Curiosamente a mesma repercussão não existe quando maconheiros vagabundos levantam bandeiras vermelhas com a foice e o martelo no interior de escolas e universidades!
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