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CANTOR FLÁVIO LEANDRO RELATA COMO A FOME VOLTOU AO BRASIL




Flávio Leandro já se consolidou como um dos grandes nomes da música nordestina. Autor de clássicos como “Mala e Cuia”, “Oferendar”, e “Chuva de Honestidade”, o artista é atento com o que acontece em sua volta, bem como todo país. Politizado, as letras de muitas de suas canções colocam o dedo na ferida dos problemas da região, que ele, sertanejo como é, conhece muito bem.




O poeta de Bodocó já nos chamou a atenção para o Velho Chico, na bela “Rio Sedento”. Também exaltou o Nordeste e mostrou a importância da educação, principalmente para a região, que segundo ele, precisa “deixar de ser o mendigo [do país]", em “Utopia Sertaneja”. São inúmeras as músicas de Flávio Leandro que falam de natureza, de Nordeste, de amor e, claro, de certas mazelas.  



Nas redes sociais, o cidadão Flávio Leandro também não deixa de se manifestar, apontando os erros que muitas vezes estão bem pertinho de nós, na nossa rua, na casa ao lado. Sensível como é, o poeta usou seu Facebook (AQUI) nesta segunda-feira para relatar uma triste situação que testemunhou. Disse o poeta:





Pra hoje! Saindo de Bodocó, com destino a Ouricuri, parei pra atender a um pedido de carona de um casal e seus três filhos pequenos, cujo destino final seria o velório de um ente querido, em Salgueiro, Pernambuco. No meio da conversa que íamos tecendo, fomos interrompidos por um dos rebentos: 

Pai, quando chegar em Ouricuri, pai compra comida?

Ao que o pai atalhou: 

Quando chegar na Casa de sua vó, a gente come, meu filho.

O menino retrucou:

Né comida ruim não, pai, é comida boa.

Eu intervi, perguntando ao pequeno o que seria essa comida boa. 

Oxe, macarrão, carne... 

Pensei:

Caraca! Algo tão simples, meu Deus! 

Tentando amenizar a insistência do garoto, com a resignação de um boi a caminho do abate, o pai completa:

Meu filho, quando você crescer e tiver seu trabalho, irá comer tudo isso.

Não aceitando o prazo inatingível, o moleque açoitou:

É pra hoje, pai!

Poxa...isso dói, bicho! De cara vem logo a imagem dos tabacudos de plantão demonizando um bolsa família, achando que 100 reais dado a um irmão necessitado é um assassinato aos cofres públicos, um atentado contra a meritocracia injusta a que pobres e ricos são submetidos, simulando uma corrida diária onde o rico sempre larga a poucos metros da chegada. 


Estes mesmos são os primeiros a encampar bandeiras de campanhas para arrecadação de cestas básicas, mostrando uma caridade cujo resultado não passa da aposição de um carimbo de miserável na testa de quem as recebe. É contra essa "enchente de caridades" que minha música brada. A caridade de quem passa o ano lucrando deste caos, e enxerga na doação humilhante do natal sua indulgência particular. Chega de hipocrisia. O de hoje, eu passei pra família, mas o de amanhã? O de amanhã é nosso...nós somos os responsáveis diretos pela garantia de dignidade de nossos irmãos. E quem pode executar isto é o estado, que tão generosamente ajuda bancos e empresas! Priu!


Fotos: Facebook de Flávio Leandro.

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