Por Leonardo Atuck
Pela
primeira vez em sua história, o Brasil tem a chance real de vencer um Oscar, o
maior prêmio do cinema internacional. Se estivéssemos vivendo uma situação de
normalidade democrática, a indicação do documentário "Democracia em
Vertigem", da cineasta Petra Costa, seria comemorada por toda a sociedade.
As reações a esse acontecimento, no entanto, confirmam a tese do documentário:
a democracia entrou em vertigem no Brasil e foi solapada com o impeachment sem
crime de responsabilidade contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 – ou
seja, com o golpe de estado.
De um lado o secretário de Cultura, Roberto Alvim, que conseguiu
seus 15 minutos de fama ao insultar Fernanda Montenegro, maior atriz do teatro
brasileiro, enquadrou o filme como 'ficção'. Em nota oficial, os tucanos, que
organizaram o golpe de estado porque não aceitaram a quarta derrota eleitoral,
com Dilma, e a perspectiva de uma quinta, com Lula, expressaram sua dor de
cotovelo. A deputada Janaina Paschoal (PSL-SP) disse que não viu e não
comentaria, mesmo caminho escolhido pelo usurpador Michel Temer – que entrará
para a História por redimir a biografia de Joaquim Silvério dos Reis, aquele
que traiu Tiradentes. Daqui a 50 ou 100 anos, quando buscarem um sinônimo para
a palavra traidor, ninguém mais dirá que tal sujeito é um "Silvério".
Dir-se-á: "por aquela rua ali caminha um Temer".
Pois bem: de maneira contida, Petra celebrou a indicação de seu
filme ao Oscar e disse que ele chamou a atenção da academia porque a democracia está
em vertigem em todo o mundo, sob pressão da extrema-direita. De
fato, o tema mais estudado pela ciência política nos dias atuais é a corrosão
das democracias ocidentais, o que está presente em livros como
"Fascismo", de Madeleine Albright, e "Como as democracias morrem",
de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. O mundo deve assistir atentamente ao
documentário de Petra justamente para não se tornar um novo Brasil – de todos
os laboratórios globais do neofascismo, o mais escatológico.
Assim como os protagonistas do golpe de estado de 2016, os
jornalistas que lhes deram cobertura também se revoltaram com indicação do
filme. O motivo é simples: todos eles foram cúmplices de uma das maiores farsas
políticas da história da humanidade, que permitiu a ascensão de um governo
neofascista no Brasil. Não podem dizer que eram contra a corrupção, porque
jamais combateram governos muito mais corruptos que vieram depois – os de Temer
e companhia e o da rachadinha. Não podem mais sustentar a farsa de que as
"pedaladas" quebraram o País, porque os rombos fiscais hoje são muito
maiores e a economia ainda anda de lado, quatro anos depois do golpe de estado.
Perderam a narrativa, perderam o discurso, mas tentam ganhar no grito. Mas a
verdade, como diz a ex-presidente Dilma Rousseff, não pode ser enterrada e a história
será implacável com os golpistas.
A verdade é paciente e tem o tempo como seu maior aliado.
*Leonardo Atuck é editor do site Brasil 247 e
colunista da Revista IstoÉ.
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