No Brasil, a Igreja Católica consagra setembro como
o “Mês da Bíblia”. Nesse ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) escolheu como livro a 1ª carta de João. Como nesses quatro anos mais
recentes, quis continuar com o mesmo tema geral: “Para que nele nossos povos
tenham Vida”.
É muito importante que não se divida a fé da
realidade que vivemos, tanto no plano pessoal (interior), como no social.
Quando Jesus afirmou “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”
(Jo 10, 10), deixa claro: seus discípulos constituídos como pastores devem
cuidar da vida das ovelhas, em todas as suas dimensões e não apenas das almas e
dos costumes religiosos. Jesus se encarnou na realidade e assumiu nossa
condição humana em todos os seus aspectos, menos o pecado. Assim também, seus
discípulos devem assumir as preocupações e questões sociais. Fazemos isso ao
participar do caminho dos movimentos sociais organizados, mesmo se seus
dirigentes e representantes nem sempre têm a mesma sensibilidade e, em todos os
assuntos, as mesmas posições e a mesma metodologia de ação, iluminados pelos
valores do Evangelho, que nós, pastores da Igreja, costumamos defender.
Conforme o espírito de Jesus, não devemos nos inserir só quando temos o
controle de tudo e sim dialogar e participar em tudo o que diga respeito ao bem
comum, à vida dos pobres e ao cuidado com a casa comum.
Desde 1995, através das pastorais sociais, a CNBB
criou o “Grito dos Excluídos”. Até hoje, os assessores que articulam o Grito e
preparam cada edição anual são padres e religiosos do Serviço Pastoral dos
Migrantes, da Caritas Nacional e das pastorais sociais. Aqui no Recife, todos
os anos, muitos irmãos e irmãs das comunidades de periferia e das pastorais
sociais são o rosto da nossa arquidiocese nesse evento. Seria importante a
participação do clero e das pastorais sociais, como sinal de que respondemos positivamente
ao apelo do Papa Francisco ao dialogar com os movimentos sociais e propor uma
Igreja em saída.
Como sempre esse 25º Grito dos Excluídos acontecerá
na data da comemoração da independência do Brasil. Ele se inspira em palavras
do papa aos movimentos sociais e tem como tema “A vida em primeiro lugar. Esse
sistema não vale. Lutamos por Justiça, Direito e Liberdade”.
O Grito dos Excluídos sempre começa com uma
concentração que nesse ano se realizará a partir das 08 horas da manhã do dia
07 de setembro na Praça do Derby. De lá sairá uma caminhada que deverá retornar
ao ponto de partida.
Desta vez, a coordenação nacional propõe que se
possa:
1º – resgatar o projeto que deu origem e sentido ao
Grito dos Excluídos.
2º – apontar caminhos a seguir nesse momento atual,
tão difícil para o nosso país.
O projeto que deu origem e sentido ao Grito foi que
a Igreja possa viver sua catolicidade (universalidade) como Igreja de todos,
mas a partir de baixo: dos mais pequenos e da intuição bíblica de que a
adoração a Deus só é aceita se for baseada na prática da justiça e do direito. Os
caminhos a seguir não competem a nós definirmos já que o Grito é dos Excluídos
e nós o apoiamos. Assim, testemunhamos que Deus é Amor e está sempre do lado
dos pequenos. Nós todos, pastores e fiéis estamos com o Deus que é “Deus
conosco” e como propõe o papa Francisco como “Igreja em saída”.
Dom Antônio Fernando Saburido,
OSB
Arcebispo de Olinda e Recife
Nenhum comentário:
Postar um comentário