Por Michel Zaidan Filho
Não
sei que conselheiro disse ao senhor Jair Messias Bolsonaro que convocasse a sua
base política (conhecida pelo nome de "massa de manobra" ou
"idiotas úteis") para ir às ruas oferecer o seu apoio estridente e
multicolorida à agenda econômica e de "reformas" do mandatário nacional. Estratégia arriscada
por qualquer dos lados que se examine. Se vitoriosa, cria um cabo de guerra com
o Congresso, pressionando-o pela aprovação da dita agenda.
Vale
recordar que nem as famosas jornadas de 2013, mais numerosas e representativas,
conseguiram essa proeza. Alegaram os distintos parlamentares que a prerrogativa
de legislar é deles, como, aliás, de votar um impedimento do Presidente da
República. De forma que passada a onda, o Congresso retoma naturalmente o seu
ritmo e faz o que bem entende. Se fracassado o apelo à mobilização popular, vem
a desmoralização do governo, quando aliás aconteceu com Fernando Collor de
Mello. De todo jeito, o expediente de convocar as massas verde-amarelas para
apoiar Bolsonaro já revela a fraqueza do governo, que vem enfrentando, nestes
cinco meses de gestão, muita resistência e oposição.
Pelo
visto, o senhor Jair Bolsonaro não aprendeu nada nos seus 28 de experiência
parlamentar, como deputado. A vocação ditatorial de que pressionar ou forçar os
deputados a aprovarem o que for só revela o imenso desconhecimento das
vicissitudes do regime presidencialista brasileiro, mal chamado de
"coalização", mesmo na ausência de um sistema partidário digno desse
nome. Este arranjo institucional no Brasil esgotou-se há muito tempo. De crise
em crise, o regime não se suporta sobre seus próprios pés. O que permite que
apareça de vez em quando um "messias" prometendo o céu (ou o inferno)
aos crentes e as pessoas crédulas e desencantadas das promessas deste mundo.
Não se governa o país, ao ritmo de mobi lizações de massa. Mas se produz um
ambiente de insegurança e paralisia administrativa, revelando a fraqueza ou
inabilidade do governo.
Vem
daí a tese, que toma corpo na Câmara dos
Deputados, de um "parlamentarismo branco" transformando Bolsonaro
numa espécie de "rainha da Inglaterra". A ideia é carregar o andor ou
o féretro do defunto vivo, até o fim do mandato, impedindo a posse do vice,
general Mourão, e assumindo a agenda reformista, mas ao seu modo e gosto. Ou
seja, esta agenda seria levada adiante, mas ao feitio e conforme os interesses das bancadas
parlamentares.
O
que inevitavelmente se transmutaria, isto é sofreria inevitáveis mudanças.
O que seria muito provável dada a fragilidade da aliança parlamentar do
Executivo. Bolsonaro vem sofrendo derrotas no Parlamento e se nega a dialogar
com os parlamentares. seus ministros ameaçam a
renunciar, caso seus projetos n&at ilde;o sejam votados. E agora vem
o mandatário principal ameaçar com a micareta fascista do último domingo o
Congresso.
Esse
é um caminho semeado de perigos. O país
não pode viver ou se governado por sobressaltos criados por um candidato nato à ditadura. Não é só a paralisia e a insegurança que
passam a tomar conta da nação, com um calendário de mobilizações populares
contra e a favor. É a percepção de setores golpistas de que essa situação não
pode perdurar por muito tempo.
*Na foto de O Globo, manifestação no
Rio de Janeiro.
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