Senhor
Ministro,
Tomei
conhecimento por diversos meios de comunicação que V. Exa. se referiu a
brasileiros como sendo “canibais”, que roubam objetos de hotel e assentos
salva-vidas de aviões. Senti-me pessoalmente ofendido com a fala de V. Exa. e
imagino que a grande maioria dos brasileiros que tomaram conhecimento do fato
estão igualmente indignados.
Sei que V.
Exa. não nasceu no Brasil e muito me preocupa imaginar que os brasileiros que
conheceu o tenham feito ter uma impressão tão negativa de nós. Preocupa-me
ainda mais pensar que para compor sua equipe no Ministério da Educação V. Exa.
tenha convidado os brasileiros que o fizeram ter essa imagem do nosso Povo. Ao
que parece, além de não conhecer os brasileiros honestos que viajam a trabalho
ou a lazer, V. Exa. não teve oportunidade de conversar e dar a devida atenção a
brasileiros que jamais andarão de avião e nem se hospedarão em hotéis, por não
terem recurso para isso. Garanto-lhe, Senhor Ministro, que são pessoas
maravilhosas! V. Exa. deveria conhecê-las e trabalhar arduamente para dar a
elas educação gratuita e de qualidade, garantir a elas o direito de estudar
numa Universidade, ao invés de dizer que o ensino superior deve ser para uma
“elite”. V. Exa. acha que tem o direito de dizer quem faz ou deve fazer parte
da “elite” intelectual deste País? Se se dedicasse a conhecer de verdade os
brasileiros, conversando também com as pessoas mais pobres, V. Exa. iria se
surpreender e se encantar com nosso Povo, iria descobrir que há pessoas não
alfabetizadas que são muito mais inteligentes do que Ministros de Estado. Não
confunda, Senhor Ministro, “escolaridade” ou “poder econômico” com
“inteligência”.
Fiz essa
introdução, Senhor Ministro, antes de dizer que sou servidor público, professor
universitário concursado, e que isso muito me orgulha. Como servidor, cabe-me
ensinar a V. Exa., caso ainda não saiba, que temos o Código de Ética
Profissional do Servidor Público Federal, Decreto n. 1171 de 22 de junho de
1994. No referido Decreto é citado que “(...) Tratar mal uma pessoa que
paga seus tributos direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral
(...)”. No mesmo Decreto consta como um dos deveres fundamentais do servidor
público:
(...) ser
cortês, ter urbanidade, disponibilidade e atenção, respeitando a capacidade e
as limitações individuais de todos os usuários do serviço público, sem qualquer
espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo, nacionalidade, cor, idade,
religião, cunho político e posição social, abstendo-se, dessa forma, de
causar-lhes dano moral(...).
Na minha
modesta avaliação, V. Exa. está causando dano moral a todos nós brasileiros e
demonstrando não ter nem preparo nem dignidade para assumir o nobilíssimo cargo
de Ministro de Estado da Educação. Não o conheço, Senhor Ministro, mas caso
seja do tipo de pessoa que tem arroubos autoritários, cabe-me citar mais um dos
deveres fundamentais do servidor público, citado no Decreto n. 1171, que é
“(...) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum temor de representar contra
qualquer comprometimento indevido da estrutura em que se funda o Poder
Estatal”. Escrevo, portanto, sem nenhum temor, pois estou agindo em defesa do
Povo brasileiro que foi ofendido por V. Exa. Cabe a mim essa atitude como
servidor público. É esse Povo de quem V. Exa. tem uma imagem tão deturpada que
paga nossos salários, é a ele que devemos dar satisfação, é para ele que
devemos trabalhar, é dele que devemos cuidar.
É sempre
tempo de aprender, Senhor Ministro. Desejo que V. Exa. tenha humildade para
aprender algo ao ler esta carta escrita por um servidor público vinculado ao
Ministério da Educação. Espero também que outros servidores públicos a leiam e
que não se intimidem por superiores hierárquicos que não honram o cargo que
ocupam.
Atenciosamente,
Valter
Lúcio de Pádua
Universidade
Federal de Minas Gerais
Professor
do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental
*Na foto da Gazeta do Povo o ministro Ricardo Vélez Rodrigues, colombiano, ministro da Educação do Governo Bolsonaro.
Que grandes verdades!
ResponderExcluirParabens
Estamos juntos.