Por Altamir Pinheiro
Quando a honra de um homem é inatacável, fica-lhe decente qualquer roupa
que vista. Até sua última veste numa urna mortuária lhe cabe bem, pois foi o
que percebi, em que pese a tragédia de que fora acometida o amigo que se foi,
inesperadamente... Já dizia o jornalista, poeta, dramaturgo e escritor francês
Nicolas de Chamfort que, “A estima vale mais do que a CELEBRIDADE, a
consideração mais do que a FAMA, e a honra mais do que a GLÓRIA”. Boa parte
desses atributos ora narrados eu via na forte, equilibrada e sincera
personalidade do amigo Álvaro Fernandes que se foi com apenas 66 anos de idade,
marcada por uma desgraça medonha, horrenda e porque não dizer, tenebrosa...
Na Bíblia Sagrada, existe uma passagem que relata que a terra não era
digna de alguns homens que pisaram em seu chão, ou seja, para Deus, algumas
criaturas são tão especiais que sequer deveriam ter vindo para esse mundo de
tantas injustiças e perversidades, por merecerem algo bem mais valoroso. Sem
dúvidas, como seres humanos, estamos todos em pé de igualdade, porém, assim
como as estrelas do céu, em que umas brilham mais do que as outras, alguns
seres humanos se destacam mais por ostentarem alguns atributos singulares neste
mundo em que vivemos, dentre eles destacaria o meu amigo que se foi
precocemente por uma fatalidade que a vida lhe reservou...
Charles Chaplin brilhantemente disse: “Não se mede o valor de um homem
pelos seus ternos bem talhados ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do
homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais”. Conceitos como
personalidade, respeito, seriedade e moralidade são cada vez mais
relegados na conduta humana. Honra, uma palavra pequena, mas carregada de um
grande poder extraordinário e disponível para aqueles que caminham nela. De um
certo modo o meu amigo seguia esta trilha.
Quero relatar aqui, um fato que aconteceu há cerca de 25 anos, donde, naquele momento Álvaro era um pequeno empresário de vendas de automóveis
usados e eu um simples caixa do Banco do Brasil. POIS BEM!!! Por um infortúnio
da minha parte um certo dia autorizei o pagamento de um cheque emitido ou
assinado por Álvaro Fernandes, pois apesar de haver suficiência de fundos
ele estava suspenso, havia uma contraordem ou melhor o cheque estava sustado e
eu, me abestalhei naquele exato momento, vacilei e dei autorização para que
daqui de Garanhuns fosse pago no BB de Vitória de Santo Antão (a operação
bancária chamava-se CONSULTA DE CHEQUES por telefone), no outro dia a bomba
estourou!!
Corrigido, em termos de hoje, o valor do cheque seria na base de R$
100.000,00(cem mil reais). Por indiferença, falta de humanismo ou
estupidez, meus colegas me deram às costas ao episódio como também à
gerência do banco, inclusive a respeito do fato, fiquei respondendo processos
internos administrativos. Afinal, quem teria piedade ou daria bola para mim
além de ninguém?!?!?! Mas houve quem me estendesse à mão amiga e honrada: o
também prejudicado(por tabela!!!) Álvaro Fernandes. Álvaro, além do conforto,
me deu todo apoio ao afirmar que conhecia quem sacou o cheque(que era seu
cliente) e estava a minha inteira disposição para ajudar-me no que fosse
preciso e possível para a recuperação do valor sacado indevidamente. Que nome
isso tem? Se não é solidariedade ou honradez, claro que é coisa
melhor!!!
Lembro-me muito bem da data em razão de ser dia da fogueira de São João.
À noite “zarpei”, sozinho, com destino a Vitória de Santo Antão. Naquela
ocasião, armado, estava decidido pra matar e pra morrer e topava qualquer
parada. Lá, o gerente do BB me deu todo apoio, fomos à casa do cidadão,
mas ele tinha viajado para Petrolina. “Zarpei” de imediato cortando todo o
sertão pernambucano chegando ao amanhecer e indo à procura do dito cujo
no hotel onde ele estava hospedado. BOTEI PEGADO NA FIGURA!!! Ele também estava
errado porque sabia que no cheque havia uma contraordem (por ele não cumprir
com Álvaro o que estava acertado que era o documento do carro), então ele foi
intimado a vir a Garanhuns para a gente acertar todo esse parangolé... De
resto, só me sobra dizer que tudo foi acertado da melhor maneira possível e
entre mortos e feridos salvaram-se todos!!!
Depois desse périplo: Garanhuns / Vitória / Petrolina / Garanhuns, está
implícito ou vem à tona um simples desabafo, donde, nunca tinha
exposto ao público tal acontecimento, pois sinto-me na obrigação de informar
que para o bem da verdade, o tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece
dúvidas, mas acima de tudo, o tempo traz verdades. E essas verdades, quando nos
tocam profundamente, a gente tem que compartilhar, pois é o que estou fazendo
neste exato momento. E tem mais: quero acreditar ou continuo teimando que meu
amigo Álvaro NÃO alçou voo rumo à oficina celeste, pois um homem
honrado não MORRE NUNCA!!!
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