Por
Altamir Pinheiro
Nós pernambucanos sabemos que a cidade do Recife abriga o Mercado de
São José, tradicional ponto de venda da nossa capital.
Ele teve seu início de construção há 150 anos, sendo
inaugurado em 1875 e sua estrutura em ferro foi inspirada no mercado público de
Paris.
No tocante aos garanhuenses somos sabedores que há 50 anos foi construído
de pedra, cal e tijolo, o MERCADO 18 DE AGOSTO, estrutura inspirada não por um
engenheiro ou arquiteto francês, mas pelo “Matuto de São Pedro”, o então
prefeito do município, Amílcar da Mota Valença, em 15 de novembro de 1968.
Agregado ao Mercado 18 de Agosto existe a “VIELA” conhecida como Beco do
Fumo, donde, se vende de um tudo a começar pela origem do seu nome: Fumo de
rolo ou fumo de Arapiraca, como também vendem-se pavio de
candeeiro, casca de pau, anil, espanador, cebola branca, breu, cheiro de
“suvaco” cashmere bouquet, ervas medicinais, pente fino de tirar
piolho, alpargata de couro de bode, “mangaios” para todos os gostos e até poções
mágicas, além de cigarros do Paraguai na barraca bem sortida de Júnior(lá tem
de tudo. Só falta mesmo rédea de gato e bainha de foice). No meio do beco
encontra-se numa banquinha padronizada e coberta de lona, a simpática presença
de Seu Tonho da Torda de 75 anos, que há 40 negocia no conhecido Beco do
fumo e participou IN LOCO da inauguração do Mercado 18 de agosto.
Em que pese o Mercado ter sido inaugurado no mês de novembro, o prefeito
Amílcar, naquela oportunidade esboçando uma certa dose de vaidade por ter
ganhado uma eleição quase impossível ao enfrentar adversários do porte de João
Goulart, Miguel Arraes, o deputado Aloísio Souto Pinto e o político
Francisco Figueira, denominou aquele estabelecimento de vendas em varejo de
Mercado 18 de agosto em referência a sua vitória acachapante na eleição
municipal de 1963, poucos meses antes do Golpe Militar de 64.
Adentrando naquele espaço de dois andares nos deparamos com dezenas de
boxes e uma gama de figuras conhecidas, até por sermos fregueses desses
“mangaheiros”, como por exemplo no caso de Geraldo do Sapato que há 35 anos se
estabeleceu por lá, onde há cerca de 30 anos eu só compro chapéu a ele e o
trato como Geraldo do chapéu, figura agradável e cativante. O galego Geraldo é
negociante daqueles que o freguês só não compra se não quiser mesmo, haja vista
que, mesmo sem você pechinchar ele já se adianta ao dar um bom desconto no que
você pretende comprar.
No tocante às tarimbas de carnes vale a pena tirar dois dedos de prosa
com o otimista e brincalhão Jessé de 85 anos de idade, que é conhecido como Seu
Gerson da Carne e está por lá há justamente 50 anos quando participou da
inauguração do mercado; também desse mesmo tempo encontramos Seu Né da Carne,
82 anos, ou para ser mais preciso, Seu Né do ESPORTE DA MATANÇA, quando
por muito tempo ele presidiu aquele clube do Bairro do Magano; no Mercado da
Farinha nos deparamos com o intelectual do pedaço, pois, trata-se do meu amigo
ZEZINHO DO FEIJÃO, um marronzinho sabido que só um danado, bem letrado e um
profundo conhecedor da política nacional. Zezinho do Feijão está centrado
naquele ambiente há 41 anos.
Um toque especial que podemos dar ao Mercado 18 de Agosto é sem sombra de
dúvida ao seu vendedor ou ocupante primogênito: ZITO DA CARNE que é um capítulo
à parte, e por que não dizer peculiar, por motivos óbvios. Quem nesses últimos
30 ou 40 anos não comprou carne de primeira na tarimba de Zito ou de seu
filho?!?!?! Em que pese, hoje, o ex-vereador Zito (do tradicional MDB de Ulysses
Guimarães, Pedro Hugo, Ivan Rodrigues e Cristina Tavares) não ser mais
negociante naquele estabelecimento, porém, todo o santo dia ele dá expediente e
marca presença naquele ambiente onde passou toda uma vida para se encontrar com
seus amigos de tanto tempo e jogar conversa fora.
Hoje, Zito da Carne é
conhecido como ZITO DO COURO, pois adquire todo o couro que é produzido no
matadouro de Garanhuns que tem nele o comprador oficial, donde
exporta diretamente para as “zoropa e zistadozunidos”.
De um modo geral os mercados municipais pelo Brasil carregam riqueza
gastronômica, histórica e cultural e nesses 50 anos não poderia ser diferente
com o nosso tão apreciado Mercado 18 de Agosto. Afinal de contas,
todo mercado municipal tem aquele gostinho de cultura local. Basta conhecer pelo
Brasil afora o Mercado Modelo de Salvador; o Ver-o-Peso de Belém; o São José do
Recife; o Mercado Central de Fortaleza e entre tantos, o famoso Mercado
Municipal de São Paulo, quando se torna impossível não mencionar o
popular (e gigante) sanduíche de mortadela e o saboroso pastel de bacalhau.
Tratando de nossa aldeia, Logo abaixo, clic para conhecer boa parte da história
centenária da viela mais estreita, porém a mais popular do centro da
cidade de Garanhuns: Beco do Fumo.
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