Do Brasil de Fato
Na
pequena cidade de Caetés, no agreste pernambucano, a 250 quilômetros da capital
Recife, terá início a Caravana Seminário Contra a Fome, que tem como objetivo
denunciar a volta da fome no Brasil.
O
ato inaugural está marcado para as 15h desta sexta-feira (27) na principal
praça da cidade, e a expectativa dos organizadores é reunir mais de 3 mil
pessoas vindas de diversas regiões do Nordeste. De Caetés, três ônibus seguem
cruzando o Brasil até chegar a Brasília no próximo dia 5.
A
população de Caetés chega a 27 mil habitantes, dos quais mais de 70% vivem na
zona rural, de acordo com dados do IBGE. Os moradores já começaram a perceber
no cotidiano a volta do fantasma da fome, especialmente depois dos cortes nos
investimentos de políticas públicas, como os programas Bolsa Família, Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa 1 Milhão de Cisternas.
“A
gente já começou a sentir os impactos, principalmente da fome. Era raro ver na
rua pessoas pedindo comida e agora já tem, não tanto quanto tinha antes, mas já
tem pessoas passando nas casas pedindo [comida]”, conta Uedislaine de Santana,
que mora na comunidade quilombola de Atoleiro, em Caetés.
O
filho mais conhecido de Caetés é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na
pequena cidade, a população fala de seu conterrâneo com carinho. Simão Salgado
da Silva, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caetés, conta o que
as últimas pesquisas de intenção de voto confirmam: se as eleições fossem hoje,
Lula seria eleito em primeiro turno.
Cortes
em programas sociais
A
seca que castigou e obrigou Dona Lindu, mãe de Lula, a sair de Caetés com seus
filhos para tentar a vida em São Paulo ainda atinge a região. Com a maioria da
população rural, Caetés foi uma das várias cidades que sofreu com a falta de
chuva prolongada que assolou a região do Seminário nos últimos sete anos. Com a
produção prejudicada, trabalhadores rurais se mantém graças ao amparo dos
programas sociais criados especialmente durante o primeiro governo do
ex-presidente.
O
Bolsa Família beneficia cerca de 46% da população de Caetés com um valor médio
de R$ 242,34 por família, de acordo com dados divulgados pelo governo federal.
“A maioria dos agricultores vive do Bolsa Família, porque a gente teve uma seca
prolongada aqui no Nordeste, sem o pessoal lucrar com a lavoura, e a maioria
dessa população se manteve com o Bolsa Família, que hoje tá sendo cortado. E já
estamos sentindo a diferença”, conta Simão Salgado.
Outra
política pública que transformou a vida dos moradores de Caetés foi o Programa
1 Milhão de Cisternas, criado em 2003, que permitiu o consumo de água para
muitos brasileiros. O programa, que instalou mais de 111 mil cisternas apenas
em 2014, vem sofrendo com os cortes das políticas sociais realizados pelo
governo de Michel Temer (MDB). Em 2017, por exemplo, foram apenas 27 mil
cisternas instaladas.
Uma
das brasileiras que teve sua vida transformada pelo programa foi Teresinha
Ferreira de Oliveira. A agricultora de 61 anos é natural de Caetés e conta que
hoje tem água encanada em casa. “Antes era caminhão pipa, era uma briga pra
pegar água na rua. As mulheres brigando porque não tinha água, mas agora tem
água”, conta a pernambucana, que é outra eleitora convicta de Lula.
11
milhões de volta à pobreza
O
Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014. O levantamento é elaborado desde 1990 pela
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Para sair
do mapa, o país deve ter menos de 5% da população ingerindo menos calorias do
que o recomendado. A insegurança alimentar grave passou a um nível baixo, de
3,2%, apenas em 2013 e por isso o Brasil saiu do indesejado mapa.
No
entanto, o Relatório Luz, elaborado por cerca de 20 entidades da sociedade
civil, mostra que há o sério risco do país voltar ao mapa da fome. Isso porque
a fome está intrinsecamente vinculada à pobreza extrema – que já atinge 11,8
milhões de brasileiros, conforme levantamento da organização ActionAid Brasil.
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